Uma audiência pública promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), nesta quarta-feira (13/06), converteu-se em ato de apoio à construção da usina nuclear Angra 3. Organizações ambientalistas que se opõem ao projeto dizem não ter sido convidadas, e os defensores da construção da usina ligados às empresas estatais do setor fizeram coro com representantes de moradores da região de Angra.
Humberto Huhn da Cruz, habitante da comunidade do Parque Perequê, foi um dos participantes. “Devido ao emprego, para nós, da comunidade, é muito importante a construção de Angra 3”, disse ele.
O primeiro-secretário da Associação dos Trabalhadores da Central Nuclear, Antonio Edineide Cordeiro, afirmou que “a energia nuclear é uma das mais limpas hoje”. Cordeiro lembrou a possibilidade de construção de geradores nucleares no Brasil. “A gente entende que Angra 3 vai abrir o leque de várias possibilidades no Brasil", disse. “Se a gente tivesse Angra 3, 4, 5, com certeza nós teríamos uma tecnologia mais avançada e estaríamos exportando em vez de importar.”
O presidente da Aben, Francisco Rondinelli, afirmou que a conclusão de Angra 3 vai dar "mais estabilidade ao nosso sistema de suprimento de energia”. Ele disse que a participação da energia nuclear é fundamental para a segurança energética do Brasil. "Se nós queremos retomar o nosso desenvolvimento social e econômico, nós vamos ter que atender o crescimento da demanda energética e a contribuição da nuclear vai ser fundamental.”
Rondinelli afirmou ainda que a energia nuclear é "essencialmente limpa". "Nós não geramos nenhum tipo de poluente para o meio ambiente. Os rejeitos radioativos são 100% recolhidos, processados, tratados e isolados do meio ambiente. Na verdade, é a única fonte de energia que faz isso.”
Segundo o coordenador no Brasil da campanha de energia nuclear da organização ambientalista internacional Greenpeace, Guilherme Leonardi, tanto a entidade como a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica(Sapê), outro foco de oposição ao projeto de Angra 3, não foram convidadas para o evento organizado pela Aben.
“Nós nos opomos à construção de Angra 3, assim como a de qualquer outra central atômica no país e fora dele. Nós entendemos que é uma energia problemática, sob diversos pontos de vista”, disse Leonardi, à Agência Brasil.
O Greenpeace também alega que a energia nuclear é cara e que o dinheiro a ser gasto no projeto de Angra 3, mais de R$ 7 bilhões, poderia financiar outras iniciativas. Leonardi afirma que, com R$ 850 milhões, o Programa Nacional de Conservação de Eletricidade (Procel), do governo federal, resultou em uma economia equivalente à produção de quatro usinas do porte de Angra 3 (quatro vezes 1.350 megawatts).
Leonardi também lembra o risco permanente de acidentes. “Não existe um destino definitivo para esse material [os rejeitos nucleares] que é perigoso tanto para a saúde humana como para o meio ambiente”. Leonardi diz ainda que vários países como Alemanha, Espanha e Suécia vêm abandonando seus programas nucleares para investir em outras fontes de energia mais limpas e seguras.
Para o ambientalista José Rafael Ribeiro, conselheiro da Sapê, o evento desta quarta-feira (13/06), no Clube de Engenharia, foi uma forma de “lobby” em favor de Angra 3. Segundo ele, as"verdadeiras" audiências públicas sobre o projeto serão promovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na próxima semana, nos municípios fluminenses de Angra dos Reis, Parati e Rio Claro. A Sapê está reivindicando junto ao Ibama que sejam feitas audiências também no Rio de Janeiro e São Paulo. O governo federal ainda não se decidiu sobre a implementação do projeto.
(Por Alana Gandra,
Agência Brasil , 13/06/2007)