Parece improvável que um estudo que carrega a assinatura de uma ONG ambientalista afirme que plantas geneticamente modificadas podem ser boas para o ambiente. Mas foi exatamente isso o que aconteceu na semana passada nas páginas da revista "Science". O estudo, no caso, é a primeira metanálise do desempenho ambiental de plantas transgênicas. Seus autores, entre eles um pesquisador da ONG The Nature Conservancy, revisaram 42 pesquisas sobre os efeitos das plantas Bt sobre insetos e outros bichos.
As plantas Bt têm sido um dos principais cavalos-de-batalha dos detratores dos transgênicos. Essas variedades recebem genes de toxina de uma bactéria, o Bt (Bacillus thuringiensis), para produzir o próprio veneno, matando insetos que as ataquem. Acontece que esses transgênicos também podem matar insetos e outros invertebrados que tenham dado o azar de passar pelas lavouras Bt. A possibilidade foi levantada pela primeira vez num estudo publicado em 1999 na revista "Nature". Ele mostrava que larvas de borboleta-monarca morriam ao ingerir pólen de milho Bt levado pelo vento.
Desde então, várias pesquisas têm confirmado ou refutado o chamado "efeito borboleta-monarca" e apontado para os perigos ou as benesses ambientais dos transgênicos, sem que se chegasse a um veredicto. O novo estudo é o primeiro a reunir dados de testes de campo com três variedades de Bt (duas de milho e uma de algodão). E a resposta é... depende. Os cientistas fizeram uma série de comparações entre as três lavouras Bt e lavouras equivalentes que recebiam ou que não inseticidas.
Descobriram que a abundância de invertebrados "não-alvo" era sempre maior nos campos de Bt do que nos campos pulverizados com inseticida, mas caía em relação aos campos sem pulverização. "A resposta que você obtém sobre se os Bt são relativamente benéficos ou não depende da comparação que você faz", disse Michelle Marvier, da Universidade de Santa Clara (EUA), primeira autora do estudo.
Para Peter Kareiva, da TNC, co-autor do estudo, os transgênicos podem ter um papel a desempenhar na sustentabilidade agrícola. "É enganoso fazer afirmações genéricas sobre novas tecnologias agrícolas como sendo "boas" ou "más". Os efeitos dos OGMs dependem de seus objetivos e de sua visão dos agroecossistemas."
(
Folha Online, 14/06/2007)