Às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Desertificação, que será comemorado no próximo domingo, aumentam os esforços para destacar as ameaças de degradação da terra em boa parte da África, bem com projetos preventivos. O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) está na primeira linha da luta contra o fenômeno. Esta agência da Organização das Nações Unidas embarcou em projetos nessa área em toda a África e outras partes do mundo. A desertificação ameaça os meios de vida de mais de 1,2 bilhão de pessoas em 110 países de todo o mundo. A chefe de Relações com os Meios de Informação do Fida, Farhana Haque-Rahman, explicou, em entrevista à IPS, a preocupação desta agência diante da degradação da terra.
P - Por que o Fida está comprometida na luta contra a desertificação?
R - O objetivo do trabalho do Fida nas áreas rurais é capacitar os pobres para que saiam da pobreza. O Fida fez da degradação da terra e suas causas uma parte central de seu trabalho, reconhecendo o vínculo entre pobreza rural e meio ambiente. A degradação da terra leva a uma competição maior pelos recursos, cada vez mais escassos, dos quais dependem as comunidades rurais para sua sobrevivência.
P - E quais foram suas experiências até esta data?
R – Vimos que quando as comunidades adotam estratégias para aumentar a produtividade do solo e assegurar um acesso a homens e mulheres por igual aos serviços de extensão agrícola, à tecnologia e às finanças rurais, é mais provável que os benefícios sejam sustentáveis e se convertam em um bem público.
As áreas áridas e semi-áridas freqüentemente são remotas e muito pobres. Os que vivem nelas têm pouco acesso à tecnologia, informação, mercados e infra-estrutura básica. Comumente não podem evitar de pôr em risco a base de recursos naturais da qual dependem, e não têm fontes alternativas de renda e alimentos.
P – Em qual projeto contra a desertificação o Fida está comprometido atualmente?
R – Aproximadamente 70% dos projetos de redução da pobreza rural estão localizados em ambientes marginais e ecologicamente frágeis. As operações do Fida nestas áreas promovem enfoques inovadores para ajudar agricultores pobres a romper o ciclo da pobreza, que os obriga a degradar seus recursos terrestres para satisfazer suas necessidades de subsistência imediata. As operações se concentram em reduzir a pobreza e o vínculo entre esta e a degradação da terra.
Além de projetos e programas, o Fida abriga o Mecanismo Global, que mobiliza fundos e recursos para implementar a Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação (1994). O Fida também é uma agência executora do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), que concede subsídios a países em desenvolvimento para promover programas ambientais e meios de vida sustentáveis nas comunidades locais. O Fida abriga, ainda, a Coalizão Internacional para o Acesso à Terra, dedicada a melhorar o acesso da população rural pobre à terra e aos recursos naturais.
P – Quanto dinheiro o Fida investe atualmente na luta contra a desertificação na África?
R – Entre 1999 e 2005, o Fida comprometeu cerca de US$ 2 bilhões em empréstimos e subvenções a programas e projetos relevantes, 46,8% dos quais apontam principalmente para objetivos da Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação.
P – Quais iniciativas apresentaram êxito na África e por que?
R – Uma de particular sucesso foi o Projeto de Desenvolvimento Rural de Kordofan do Norte, no Sudão, que consumiu sete anos. A agricultura de irrigação é limitada nas ocidentais províncias sudanesas de Um Ruwaba e Bara, afetadas por uma série de secas na década de 80 e início dos anos 90. O fluxo maciço de pessoas refugiadas desde o sul supôs uma pressão adicional para recursos já frágeis, e os meios de vida sofreram consideravelmente. Este projeto nos anima porque superou dificuldades causadas por inconsistências no processo de descentralização. Os agricultores já registraram lucro na produtividade. O Fida financiou o projeto com um empréstimo de US$ 10,5 milhões.
P – E quanto ao futuro?
R – O Fida planeja enfrentar a desertificação em Níger, Eritréia, Haiti, Síria e Djibuti. Em Níger, estamos planejando a Iniciativa de Desenvolvimento para a Reabilitação Agrícola Rural. Na Eritréia, o Programa Pós-Crise de Reabilitação de Gado e Desenvolvimento. No Haiti, o Projeto de Desenvolvimento da Irrigação em Pequena Escala. Na Síria, o Projeto de Desenvolvimento Rural da Região Nordeste, e no Djibuti o Programa de Mobilização das Águas da Superfície para o Desenvolvimento Agropastoril.
(Por Michée Boko, IPS, 13/06/2007)