Quase dois anos após ser preso e solto pela Polícia Federal por falta de provas, Antônio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), se tornou réu, denunciado pelo mesmo procurador que pediu sua prisão em 2005.
A Justiça Federal de Mato Grosso aceitou ontem (12/06) a denúncia do Ministério Público Federal no Estado, que o acusa de participação em um esquema de exploração ilegal de madeira no Parque Indígena do Xingu, desbaratado em maio pela Operação Mapinguari. Na ocasião, não foi pedida a prisão preventiva de Hummel nem divulgado seu envolvimento.
Em 2005, Hummel foi detido em outra operação da PF, a Curupira, que também combateu a exploração ilegal de madeira em Mato Grosso. Mas, depois de ficar preso por cinco dias, foi solto por falta de provas. À época, seu caso ganhou destaque na imprensa e levantou dúvidas em relação à atitude do MPF e da PF.
De acordo com a denúncia, Hummel será processado agora "por deixar de adotar as providências legais de impedir a consumação e a reprodução de ilícitos ambientais (...), viabilizando, assim, a exploração de florestas do Parque Indígena do Xingu e de áreas do seu entorno de maneira criminosa." Sua conduta foi enquadrada no artigo 68 da Lei de Crimes Ambientais, de 1998.
Informado pela Folha ontem sobre a nova suspeita, o engenheiro se disse surpreso e creditou a denúncia à "pura perseguição" do procurador da República Mário Lúcio Avelar.
"É mais uma injustiça em cima da gente", disse. Ele afirmou que a acusação "deve estar" relacionada à maneira como sua detenção desgastou a imagem da Procuradoria. Hummel entrará com um mandado de segurança para sustar a decisão. Avelar negou persegui-lo e reafirmou os dados citados na denúncia.
Ele também negou as acusações e afirmou que suas atitudes foram, na verdade, para coibir os atos ilícitos narrados pelo Ministério Público. "Fiz de tudo para não dar as autorizações [de desmate]."
Entre os presos na operação Mapinguari, estavam funcionários do Ibama, da Sema (Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso) e índios da etnia Trumai, uma das 14 que ocupam o Parque do Xingu.
Enquanto os técnicos encarregavam-se de conseguir, nos órgãos governamentais, autorizações fraudulentas para desmatar, os índios davam apoio à extração em troca de participação nos ganhos da quadrilha. Também faziam parte do bando empresários e proprietários rurais.
(Por João Carlos Magalhães,
Folha Online, 13/06/2007)