O polêmico projeto Camisea, cujo gasoduto na selva amazônica peruana já apresentou seis rompimentos, recebeu luz verde de seu principal investidor, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o que causou alarme entre indígenas e ambientalistas. O resultado de duas auditorias realizadas pelo BID contradiz o estudo divulgado no ano passado pela E-Tech, uma consultoria técnica sem fins lucrativos com sede na Califórnia.
O informe da E-Tech encontrou graves deficiências na qualidade do material e nos procedimentos de construção aplicados no gasoduto de Camisea, o que originou reiterados vazamentos de gás em uma zona ecologicamente muito delicada. O autor do informe da E-Tech, Carlos Salazar Tirado, é inspetor-soldador do gasoduto que examinou partes do projeto em sua primeira fase de construção, entre 2002 e 2003. O estudo de Salazar levou a BID a congelar o financiamento às empresas construtoras na Amazônia peruana.
Essas companhias, encabeçadas por SK Corporation, Repsol YPF e Hunt, com sede no Texas, procuram crédito de US$ 400 milhões para financiar de forma parcial um terminal de gás natural liquido e outras obras de infra-estrutura. A finalização do projeto converteria o Peru no principal exportador de gás natural liquefeito. O BID havia aprovado, em 2003, um empréstimo de US$ 75 milhões estritamente para o gasoduto. Em 2002, o Banco entregou US$ 5 milhões ao governo peruano para a construção de infra-estrutura e para a supervisão do projeto. O gás liquefeito seria exportado para o México e, possivelmente, para Chile e Estados Unidos, de onde seria devolvido em estado gasoso.
Mas após conhecer as conclusões da E-Tech, o BID se comprometeu a esperar suas próprias auditorias antes de aprovar mais fundos. Agora que os novos informes atestam a integridade do gasoduto, espera-se que o Banco libere mais dinheiro. A primeira inspeção encomendada pelo BID foi realizada pela ICF International. Está empresa encontrou “um rendimento, no geral, aceitável” em quatro áreas: segurança trabalhista proteção ambiental, social e de saúde, e também planos de contingência e respostas de emergência. Além disso, assinalou que as duas empresas responsáveis pelo projeto tinham um rendimento “efetivo” no controle da erosão, do reflorestamento e da biodivrsidade.
A segunda auditoria, a cargo da firma Exponent, se concentrou na integridade física do gasoduto. Essa companhia atribuiu a causa dos seis vazamentos às condições geológicas, mais do que à má qualidade dos materiais ou do trabalho executado. Também, assinalou que as medidas de estabilização geotécnica reduziram os riscos. O BID encomendou as auditorias no contexto de sua revisão do financiamento do projeto, que foi alvo de intensas críticas por suas conseqüências no meio ambiente e nos direitos dos indígenas da região.
O BID revelou os resultados dos dois informes na reunião aberta sobre Camisea que acontece a cada seis meses de forma alternativa em Lima e Washington. Na reunião participaram mais de 70 representantes de diferentes setores, organizações não-governamentais, agências do governo e empresas privadas. Apesar das garantias oferecidas pelo Banco, representantes de organizações ambientalistas e de indígenas estão convencidos de que o projeto Camisea é um dos mais prejudiciais.
Estas entidades da sociedade civil mencionam entre as conseqüências negativas desmatamento, vazamento de gás e morte de peixes dos quais depende a vulnerável população local, incluídas as cinco últimas comunidades autóctones que ainda permanecem isoladas. Organizações da sociedade civil temem que se essas questões não forem resolvidas o empréstimo de US$ 400 milhões do BID para a segunda fase do projeto trás conseqüências negativas sobre uma área ainda maior do amazonas e seus indígenas.
Para a organização Amazon Watch, contrária ao projeto, as auditorias do BID omitiram critérios fundamentais, como danos à biodiversidade e conseqüências sobre a saúde das comunidades indígenas. Também assinala que a consultora ICF se baseou em sua investigação de 300 paginas sobre “indicadores administrativos” que deixaram de lado possíveis violações de direitos humanos e à saúde das comunidades autóctones da bacia do rio Urubamba, no sul do Peru. Por fim, assinala que carece de informação precisa sobre as conseqüências a respeito do frágil ecossistema da região.
Camisea, um dos projetos de energia-chave da América Latina, inclui extração, transporte e distribuição de gás natural para uso doméstico e sua exportação. O projeto original de US$ 16 bilhões situa-se em uma zona tropical ambientalmente frágil e remota no vale do Urubamba do Amazonas pruano. “Há anos reclamamos uma auditoria realmente independente”, disse Aaron Goldzimer, da organização Environmental Defence. “Nós sugeríamos um painel imparcial de especialistas, mas, de acordo com a apresentação feita, foi mais uma auditoria sobre o funcionamento de planos e sistemas, sem nada dizer a respeito das conseqüências do projeto”, acrescentou.
(Por Emad Mekay,
IPS, 12/06/2007)