(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
silvicultura zoneamento silvicultura
2007-06-12
O plano de expansão da silvicultura no Rio Grande do Sul, liderado por empresas como Aracruz, Stora Enso e Votorantim, virou a legislação ambiental do estado de cabeça para baixo e provocou demissões e afastamentos em instituições responsáveis por licenciamento. Com promessas de implantar fábricas de celulose e papel em distintas regiões do Rio Grande do Sul, e tendo plantado aproximadamente 500 mil hectares de árvores e comprado grandes extensões de terra, as empresas ameaçam abandonar o investimento se o governo cumprir o Zoneamento Ambiental para Atividades de Silvicultura no estado.

O zoneamento foi elaborado por técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e entregue ano passado, no final do governo de Germano Rigotto (PMDB). O documento dividiu o Rio Grande do Sul em 45 Unidades de Paisagem Natural (UPN) e as classificou em alta, média e baixa restrição à plantação de árvores exóticas, como pinus, eucalipto e acácia.

O levantamento estabeleceu em cada uma dessas unidades os principais elementos da paisagem, os aspectos atuais relevantes, como a situação da vegetação, se há Unidades de Conservação ou sítios arqueológico e a ocorrência de espécies ameaçadas. Também indicou o que deve ser conservado e apontou restrições, entre elas as faixas de proteção (150 metros de banhados, 100 metros de sítios arqueológicos, por exemplo). E recomendou que as plantações respeitem uma faixa de 1.500 metros de atrativos turísticos.

O zoneamento aponta como áreas passíveis de serem cultivadas pelo menos nove milhões de hectares – mais de um terço do Rio Grande do Sul. Mas antes da definição do zoneamento, as três empresas compraram grandes propriedades, principalmente na metade Sul, região mais pobre do Estado e que sofre com o declínio da pecuária. Segundo o zoneamento, esta região está inserida no bioma Pampa e é muito frágil sob o ponto de vista ambiental. Apresenta características únicas e abriga 450 espécies de gramíneas, 150 de leguminosas, 70 espécies de cactos, 385 de aves e 90 de mamíferos. Além disso, o território gaúcho dispõe de apenas 0,36% de Pampa em áreas protegidas.
Segundo o professor Valério Pillar, do Departamento de Ecologia da UFRGS, perde-se 136 mil hectares de áreas de campos nativos por ano, devido à expansão da fronteira agrícola, da silvicultura e de pastagens artificiais. A região ainda sofre com problemas de escassez de água. A cidade de Bagé, por exemplo, todos os anos precisa fazer racionamento.

Além da ameaça aos Pampas, o zoneamento alerta que as plantações vão converter ambientes naturais, especialmente de áreas de interesse para a conservação, como as dunas costeiras, os butiazais, as matas de pau-ferro e remanescentes de Mata Atlântica. Elas podem alterar a composição da flora e fauna nativas, com destaque para as espécies de ambientes abertos, e provocar extinção de espécies. Ainda há possibilidade de causar modificações de disponibilidade hídrica, entre outros impactos.

Governo desqualifica trabalho da Fepam
O Código Estadual do Meio Ambiente, de 2000, prevê o zoneamento e o licenciamento como a forma mais qualificada para estudar os possíveis impactos ambientais das plantações florestais a fim de estabelecer diretrizes e critérios que possibilitem um desenvolvimento regional com qualidade ambiental. O zoneamento antecede o licenciamento, permitindo o conhecimento prévio das limitações de cada região. Mas não substitui os estudos locais, necessários ao licenciamento.

Impacientes com os obstáculos ambientais para a execução de seus projetos, as empresas Aracruz, Stora Enso e Votorantim se queixaram à governadora Yeda Crusius (PSDB). As papeleiras, como estão sendo chamadas pelos gaúchos, também levaram deputados e jornalistas para Finlândia e São Paulo. A campanha surtiu tanto efeito que alguns deputados quiseram interferir junto à Fepam para acelerar o licenciamento.
Diante desse cenário, a governadora Yeda demitiu a secretária do Meio Ambiente, Vera Callegaro, sua amiga pessoal, e o presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Irineu Schneider, do PSDB, porque o trâmite das licenças ambientais estaria demorando demais, o que é contestado por técnicos do órgão. No dia 14 de maio, a governadora anunciou os novos titulares. Para a Sema, foi nomeado o procurador de Justiça Otaviano Brenner e para a Fepam, a ex-diretora-geral da Secretaria de Segurança Pública, Ana Maria Pellini.

Mas a primeira vez a governadora cedeu à pressão das empresas de papel e celulose foi em fevereiro deste ano, quando lançou uma portaria para formar um grupo de trabalho para revisar o zoneamento ambiental. Convidou apenas funcionários públicos e representantes dos setores industrial e madeireiro. Nenhuma entidade do movimento ambientalista nem de órgãos de pesquisa foi chamada.

O grupo desqualificou os estudos da Fepam. Os empreendedores contrataram diversos consultores, especialmente escritórios de advocacia para contestar o trabalho. Um dos argumentos usados no relatório é que o zoneamento foi estritamente ambiental, não levou em consideração aspectos econômicos e sociais. Essa também é a tese defendida por Pellini.

O relatório diz que o zoneamento torna o negócio da silvicultura inviável sob o ponto de vista econômico. Afirma que "apresenta impropriedades, erros e omissões de natureza jurídica, que o tornam um documento prejudicial para o fim a que se propõe e que afronta e desobedece vários instrumentos legais", entre eles a Constituição Federal de 1988.

O documento ainda critica a metodologia das Unidades de Paisagem Natural e recomenda que o zoneamento seja totalmente reformulado e que a nova versão sirva de subsídio para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Rio Grande do Sul. E o principal: que enquanto isso, a atividade seja licenciada sem considerar os critérios do "Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura por Unidade de Paisagem".

É o que está acontecendo. A Fepam já emitiu até o momento 90 licenças. Grande parte em áreas de municípios da metade Sul do estado. A liberação das licenças para a silvicultura está sendo viabilizada pela edição da Portaria 35/2007, assinada pela presidente da Fepam, "disciplinando" o licenciamento da atividade enquanto não vigorar o zoneamento.

Para áreas de até 40 hectares o licenciamento será realizado através de licença única. Para áreas maiores que isso e menores de 1000 hectares deverá ser elaborado o Relatório Ambiental Simplicado (RAS), de acordo com o Termo de Referência a ser fornecido pela Fepam. Para áreas superiores a 1000 hectares deverá ser elaborado o EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental com Relatório de Impacto ao Meio Ambiente).

Acordos e pressões
A pressão para a emissão das licenças já vem de algum tempo. No primeiro semestre de 2005, 78 áreas da Votorantim foram licenciadas numa única licença, contestada até hoje pelos Ministérios Público Estadual e Federal, pois a empresa precisava fazer o plantio devido ao cumprimento de prazos para o financiamento junto ao BNDES. O técnico que assinou as licenças na época hoje trabalha para a Aracruz.

O professor de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Brack, que tem chamado a atenção sobre os impactos ambientais da monocultura, afirma que nas eleições de 2006, só a Aracruz gastou R$ 908.275,88 com doações para mais de 70 candidatos, incluindo dois ex-secretários da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), do PSDB, que exerceram a pasta entre 2004 e 2006.

Em 2006 a Fepam assinou com o Ministério Público Estadual um Termo de Ajustamento de Conduta (Tac), para que fossem dadas apenas "autorizações"e não licenças para os plantios durante o ano de 2006, em áreas já alteradas pela agricultura. O Tac também dizia que a Fepam deveria concluir o zoneamento da silvicultura e discuti-lo com a sociedade através da realização de audiências públicas e enviá-lo ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Nunca um zoneamento teve que ser submetido ao Consema.

As audiências públicas começaram nesta segunda-feira, 11 de junho, em Pelotas e acontecem dia 13 em Alegrete, dia 14 em Santa Maria e dia 19 em Caxias do Sul. O professor titular da pós-graduação em Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em ciências naturais pela Universidade de Tübinger, Ludwig Buckup, disse que examinou o estudo "página por página" e aprovou o trabalho. "Esta apresentação deixou bem claro como foi bem feito, pela qualidade das fontes, a riqueza da bibliografia, os levantamentos e os critérios adotados. Se existem restrições (à silvicultura), devem ser acatadas", afirmou. E criticou o governo Rigotto, que acenou para as empresas "como se o Rio Grande do Sul fosse terra de ninguém".

Terras impróprias
Um dos técnicos que está licenciando os empreendimentos e não quis se identificar conta que as empresas compraram terras apenas com o critério do baixo preço. E dá um exemplo: a Votorantim comprou três mil hectares em uma área em que cerca de 500 hectares estão dentro do território de uma Unidade de Conservação, o Parque Estadual do Mato Grande, no município de Arroio Grande, na região Sul, passando Pelotas. O técnico acredita que os compradores não tiveram muito cuidado na aquisição. "Além disso, compraram areais, propriedades com afloramentos rochosos e muita várzea, área de plantio de arroz", conta. Em várzeas, próximo a cursos d'água é necessário se respeitar a cota de inundação, explica.

"O que as empresas mais questionam é a porcentagem de plantio por propriedade," esclarece o técnico, que garante que apesar do zoneamento não ser considerado, a legislação ambiental é cumprida. Além disso, a aquisição de terras na região da fronteira-oeste pela Stora Enso está sendo questionada pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e pela Procuradoria da República. A Constituição Federal, entre outras leis sobre o assunto, determinam rigorosos limites à compra de propriedades rurais na faixa de fronteira de 150 quilômetros de largura por razões de segurança nacional.

Encontro pode selar trégua
O movimento nacional Diálogo Florestal, que congrega Ongs que atuam principalmente na Mata Atlântica e empresas do setor de celulose e papel, quer realizar um encontro no Rio Grande do Sul no fim de junho. Apesar de Aracruz, Stora Enso e Votorantim fazerem parte deste grupo, a idéia é apresentar o zoneamento para empresários de outros estados com o objetivo mostrar a eles o trabalho desenvolvido pelos técnicos gaúchos. A ambientalista Kathia Vasconcelos Monteiro, do Núcleo Amigos da Terra/Brasil, acredita que as empresas vão entender melhor o que pretende o estudo e talvez possam influenciar as que hoje atuam no Rio Grande do Sul. "Esperamos que a boa experiência do Diálogo Florestal para a Mata Atlântica também traga frutos para o bioma Pampa", conclui.

(Por Sílvia Franz Marcuzzo, O Eco, 11/06/2007)



desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -