Um seminário sobre o tema da celulose, na sexta-feira passada (8) em São Francisco de Assis, foi o pivô de uma discussão entre a prefeitura e um jornalista da região, o que resultou em denúncias de ameaça de morte. O caso revela o nível acalorado dos debates sobre a chegada das indústrias papeleiras ao Rio Grande do Sul.

O jornalista Júlio Prates, de Santiago, registrou ocorrência na delegacia de polícia local, afirmando que o secretário de Indústria e Comércio de São Francisco de Assis, Sérgio de Oliveira, teria dito que Prates merecia ser “apagado”. Tudo começou quando o jornalista escreveu uma crítica, em seu site pessoal, sobre o seminário, que teria apenas a visão dos defensores das empresas de celulose. Quem relata é Júlio Prates.

“Os seminários articulados pelas prefeituras de São Francisco, Manoel Viana e Cacequi primam por uma linha de pensamento único. Não existe crítica, nem contraditório. O que eu fiz foi criticar, em meu blog, essa linha de tendenciosidade dos seminários, que afinal são patrocinados por dinheiro público”, conta. O seminário contou com palestras de representantes da Farsul, da Fepam, da UFSM e da empresa Stora Enso, que está comprando terras na região.

O secretário Oliveira recebeu por e-mail a crítica de Júlio Prates e considerou ofensivas as afirmações. “Um e-mail agressivo, desrespeitoso, que tratava o assunto como ‘seminário fajuto’, chamando a mim, à organização e à administração municipal de tendenciosos, patéticos. Termos desta natureza. Ficamos chocados, porque o nosso seminário não é tendencioso, porque, se fosse, não estaríamos convidando a Fepam, que é o órgão encarregado das liberações ambientais”, diz.

Na última quarta-feira (06), por volta do meio-dia, o secretário telefonou para o jornalista. De acordo com Oliveira, Júlio Prates teria sido desrespeitoso, o que motivou uma discussão. “Ele tomou a palavra, desequilibradamente, falando em tom áspero. Passou a me agredir, dizendo que nosso seminário era fajuto, aí houve uma troca de agressões verbais”, conta.

O jornalista tem outra versão. Afirma que o secretário teria dito que pessoas como Julio Prates teriam de ser ‘apagadas’. “Primeiro, se apresentou, falando até de forma cordial, e num segundo momento passou a dizer que eu era um idiota, manipulado pelas esquerdas, que estava prejudicando o progresso na região, e que pessoas como eu, eles tinham que mandar apagar. Foi a expressão que ele usou”, diz.

O secretário Oliveira nega. “Sou pacífico, jamais diria uma coisa dessas. Esse cara é louco. A partir do momento que ele faz uma afirmação dessas, eu tenho certeza que ele tem que buscar tratamento. É uma pessoa que está com problema”, afirma. Além de registrar queixa na delegacia de polícia, Prates também esteve no Ministério Público local. Sérgio de Oliveira diz que não teme processos, porque não teria ameaçado o jornalista.

Formado em Sociologia e Direito, Júlio Prates é proprietário do jornal A Hora, de Santiago, e presta assessoria de imprensa para algumas prefeituras da região. Ele é uma das vozes contrárias aos interesses da multinacional Stora Enso, que pretende instalar uma fábrica de celulose na região. Júlio Prates critica a compra de terras de pequenos agricultores, feitas pela multinacional em nome de empresas brasileiras, uma vez que a legislação federal impede a aquisição de terras por estrangeiros na chamada faixa de fronteira.

“Eles estão desarticulando uma cadeia produtiva que, mal ou bem, existe no setor primário. As pessoas estão vendendo estas terras para a Stora Enso e estão indo para a cidade”, diz. Júlio Prates também acredita que o discurso da geração de empregos, utilizado pelas empresas de celulose, não se comprova na prática. “Essas empresas usam uma tecnologia avançada, são altamente mecanizados. Eles vão precisar de alguma mão-de-obra num primeiro momento, para fazer o plantio. E depois, o eucalipto leva de cinco a sete anos para chegar na idade de corte, então não sei onde eles vão empregar gente”, questiona.

O secretário de Indústria de São Francisco de Assis, Sérgio de Oliveira, é favorável à chegada da Stora Enso na região, mas pondera que o projeto não pode gerar prejuízos à comunidade. “A administração municipal está trazendo estes assuntos a debate com a comunidade. Nós queremos ouvir a nossa comunidade, trazer informação. Nós entendemos que o desenvolvimento deve vir para a nossa região, de forma ordenada. Não podemos querer prejudicar a comunidade. Queremos desenvolvimento, geração de empregos, geração de renda, sem prejudicar”, opina.

(Por Luiz Renato Almeida, Agência Chasque, 11/06/2007)