O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiu não convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o 5º Congresso Nacional do movimento, que começou ontem (11/06), em Brasília, com cerca de 15 mil sem-terra e recheado de ataques ao governo petista.
A avaliação dos coordenadores do MST é que, com um microfone em mãos, o petista tem tudo para empolgar os sem-terra e, ao mesmo tempo, colocar em risco o tom crítico que o congresso quer ter em relação ao governo.
O efeito seria mais devastador ao MST diante da possibilidade de os militantes levarem o recado de Lula aos seus acampamentos e assentamentos -espalhados em 24 Estados. O objetivo do congresso é traçar os rumos do movimento para os próximos cinco anos.
Na quinta, a idéia do movimento é organizar uma marcha até a praça dos Três Poderes e concentrar ao menos 15 mil sem-terra diante do Planalto.
O efeito de pressão direta contra Lula, porém, pode ficar esvaziado. Isso porque, neste dia, o presidente estará no Rio, onde cumpre agenda durante todo o dia. Por conta disso, o MST avalia antecipar a marcha em um dia. O congresso termina sexta-feira.
O movimento tem cobrado encontro com Lula desde 2006. O presidente tem resistido em recebê-los. No mês passado, conversa reservada chegou a ser agendada para a residência da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), mas foi cancelada devido à Operação Navalha da PF.
Em 1985, por exemplo, Lula representou o PT no primeiro congresso nacional do movimento, em Curitiba. A relação entre eles, porém, vem se acirrando nos últimos anos.
De um lado, Lula se transformou num crítico às metas quantitativas de assentamentos e às ações simbólicas do MST, como a recente invasão à usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.
Por outro lado, o movimento, entre outras críticas, faz propaganda contra a política de incentivo do governo à produção de biocombustíveis e reclama que seus acampados (falam em 140 mil) não foram atendidos.
Ontem à noite, na abertura do congresso, num ginásio de Brasília, o discurso oficial do MST ficou por conta de Marina dos Santos, da coordenação nacional do movimento. Em sua fala, lida, atacou as políticas econômica e de reformas do governo.
"É um governo que trata a reforma agrária como compensação social", disse Marina, que, diante de sem-terra e representantes de partidos, de centrais sindicais e da Igreja Católica, criticou ainda a "mídia conservadora" e "nefasta" do país.
No atual congresso, o MST quer denunciar o avanço conjunto do latifúndio, do capital financeiro e das empresas transnacionais no campo. Para isso, montou uma megaestrutura no centro de Brasília para receber os integrantes. O aparato inclui 24 cozinhas (uma para cada Estado), 350 chuveiros e 200 banheiros químicos, além de barracos que, juntos, somam 31 mil m2 de lona.
(Por Eduardo Scolese,
Folha de S. Paulo, 11/06/2007)