Brasil precisa começar a pensar em racionalização do uso de energia, ou em desenvolver projetos de energia alternativa, para fazer frente ao crescimento da demanda para os próximos anos. Caso isso não ocorra, poderá haver problemas para sustentação do crescimento da economia nas taxas projetadas pelo próprio governo. A avaliação é do coordenador de Planejamento Energético da Unidade de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa.
Em entrevista à Agência Brasil, ele disse que mesmo se for aprovada a construção das usinas do Rio Madeira e a conclusão da nuclear Angra 3, elas não entrarão em operação a tempo de atender à demanda previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Para Pinguelli Rosa, a intensidade do risco dependerá da oferta de energia hídrica – da existência ou não de água em quantidade suficiente para gerar a energia necessária. "O fato é que, embora ainda em boa situação, as usinas hídricas já não acusam uma situação tão confortável como apresentavam no início deste ano", comentou. "Em caso de escassez de água, nem as hidrelétricas de grande porte e nem as usinas nucleares chegarão a tempo."
O ex-presidente da Eletrobrás lembra que tanto os empreendimentos de geração de energia a partir das usinas hidrelétricas como os decorrentes da energia atômica levarão pelo menos cinco a seis anos para entrar em operação.
"E é daqui a três anos que poderá haver problemas de escassez de energia – que vai depender do crescimento econômico. Há um buraco nesse período que poderá até vir a ser aliviado com a inserção do gás natural liquefeito [GNL] na matriz energética", opinou, para depois questionar: "Mas será que o GNL será suficiente para resolver o problema?"
No entanto, Luiz Pinguelli Rosa avaliou como exageradas as previsões do Ministério de Minas e Energia de que o país terá que construir até oito usinas nucleares até 2030: "O prazo é muito longo", comentou. "Você está me falando de uma coisa para daqui a 20 anos. Eu acho, no entanto, o número um pouco exagerado. É um planejamento, um indicativo que ainda deverá sofrer muitas mudanças. Embora não tenha nada contra raciocínios deste tipo, acho pouco provável esse número."
Entre as fontes de energia alternativa viáveis em menor espaço de tempo, ele cita a do bagaço de cana-de-açúcar e a eólica (dos ventos), ressaltando que a última, nesse caso, é muito cara.
(Por Nielmar de Oliveira,
Radiobrás, 11/06/2007)