60% dos afluentes do rio Bauru estão limpos
2007-06-12
O esgoto produzido por 350 mil pessoas continua sendo jogado nas águas do rio Bauru. Essa é uma realidade que vai demorar ainda alguns anos para mudar, mas pelo menos os córregos que abastecem o rio já começaram a sentir os efeitos positivos que a implantação dos coletores tem provocado em alguns pontos da cidade. Segundo o Departamento de Água e Esgoto (DAE), atualmente, 60% dos afluentes do rio Bauru estão limpos.
Ao todo, são quase 20 quilômetros de córregos totalmente despoluídos e oito quilômetros de trechos parcialmente recuperados. Na margem direita do rio estão os afluentes córrego das Flores (totalmente canalizado), córrego da Água Comprida e ribeirão Vargem Limpa. Na margem esquerda, o rio recebe os afluentes córrego Água do Sobrado, córrego da Grama, córrego do Castelo, córrego Barreirinho e córrego Vargem Limpa.
O rio Bauru pertence à Bacia Hidrográfica do Tietê-Jacaré e é formado pelo encontro do córrego Água da Ressaca com o córrego Água da Forquilha. A nascente de um rio, segundo explica o biólogo Ivan de Marchi, do Instituto Ambiental Vidágua, é o ponto mais distante da foz. Portanto, embora o rio Bauru não tenha uma nascente própria, porque ele nasce da junção de dois córregos, pode ser considerada sua cabeceira a nascente do córrego Água da Ressaca, que é o local mais distante até o ponto em que o rio Bauru deságua no Tietê, em Pederneiras.
A nascente do córrego Água da Ressaca, também considerada a nascente do rio Bauru, fica em uma pequena mata dentro do Residencial Lago Sul, às margens da rodovia João Baptista Cabral Rennó (Bauru-Ipaussu). O lago localizado na entrada do residencial é formado pelas águas do Ressaca.
O córrego cruza a rodovia Bauru-Ipaussu e segue em direção ao Centro da cidade. Nos três primeiros quilômetros, o córrego da Ressaca chega a impressionar pela transparência da água. Dá para ver o fundo do córrego (embora ele seja raso) e peixes nadando. É uma imagem de rara beleza.
Quando o córrego se aproxima do trecho urbano essa imagem é impiedosamente destruída. Ao passar por entre os bairros Parque das Nações e Jardim Aeroporto, o córrego Água da Ressaca muda de aparência. A água deixa de ser limpa e transparente e passa a ter uma cor mais acizentada que exala odor característico de esgoto. É aí que o rio Bauru começa a morrer. Conforme o rio avança em direção ao Centro, a situação vai ficando pior.
Quando o córrego Água da Ressaca se encontra com o córrego Água da Forquilha, entre a Vila São Francisco e o Jardim Estoril, próximo à avenida Comendador José da Silva Martha, surge o rio Bauru, já poluído.
De lá ele segue em direção a Estação Ferroviária, sempre caminhando lado a lado com a estrada de ferro, outro símbolo da cidade. Em frente ao Fórum, no Jardim Bela Vista, o rio passa a ser canalizado e segue desta forma até terminar a avenida Nuno de Assis. Guardadas as devidas proporções, a Nuno de Assis é a marginal Tietê bauruense, com direito a trânsito intenso e cheiro de esgoto o tempo todo.
Após cinco anos morando na avenida, de frente para o rio Bauru, o comerciante Edson Roberto Bastos, 37 anos, diz já ter se acostumado com o cheiro ruim. “No começo foi difícil agüentar, mas agora não sinto tanto. Só incomoda quando chove”, conta. Nascido e criado em Bauru, o comerciante diz que nunca viu o rio limpo, nem mesmo quando era criança. “Eu não consigo imaginar esse rio limpo, com peixes nadando por aí. É algo difícil de acreditar”, diz ele.
Quem também tem dificuldade para imaginar o rio Bauru limpo e sem cheiro de esgoto é o tratorista José Antônio Pereira, 33 anos. Ele mora há três anos debaixo de um viaduto, no fim da avenida Nuno de Assis, e convive diariamente com o rio.
Segundo ele, o cheiro que vem das águas poluídas do Bauru é o pior de tudo. “Quando faz muito calor, fica insuportável”, reclama. “Além disso, tem de agüentar os ratos à noite”, comenta. Se o rio fosse limpo, ficaria fácil para Bastos pescar alguns peixes da “sacada” de sua moradia. Seria uma maneira barata de garantir a mistura, mas o tratorista não bota muita fé no projeto de despoluição do rio. “Eu vou morrer e o rio ainda vai estar desse jeito”, aposta ele, que também é nascido e criado em Bauru e nunca viu o rio de outra forma, a não ser sujo e fedido.
Quando termina a avenida Nuno de Assis, o rio deixa de ser canalizado e volta a correr por entre pedras e mato. Ele passa pela Vila Santa Luzia, percorre mais uns dois quilômetros ao lado da linha férrea, passa pelo Jardim Mendonça e pelo Distrito Industrial 1, onde será construída a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), e deixa a cidade em direção a Pederneiras.
Depois de percorrer cerca de 42 quilômetros, todo o esgoto produzido em Bauru finalmente chega ao rio Tietê. A foz, como não poderia deixar de ser, apresenta uma imagem desalentadora. Além da sujeira nas margens, a água é escura e contrasta com a água mais clara e mais limpa do Tietê.
Se o projeto de despoluição do rio Bauru for cumprido da maneira como foi estabelecido pelo DAE, essa imagem pode estar com os dias contados, ou melhor, com os anos contados, porque ainda vai demorar um pouco. Tão importante quanto começar o projeto é concluí-lo. Sem isso, o rio Bauru nunca passará por uma transformação como passaram outros rios como o Tâmisa e Reno, na Europa.
(Jornal da Cidade, 11/06/2007)