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abastecimento de água
2007-06-12

O Chile possui a maior quantidade de reservatórios de água doce da América do Sul, as geleiras, mas não tem leis para protegê-las. Parlamentares, agricultores e ambientalistas reclamam uma legislação que preencha esse vazio. Essas reservas são massas de gelo perene, formadas por acúmulo de neve, que fluem para alturas inferiores por seu próprio peso. Localizam-se em regiões de cordilheiras e são fundamentais para a estabilidade do ambiente e do clima, dos assentamentos humanos e de atividades como agricultura e geração elétrica.

 

No Chile estão identificadas 1.751 geleiras, que cobrem 16,86 mil quilômetros quadrados, 65% da superfície de gelo sul-americana, que representam cerca de 25,7 mil quilômetros quadrados. Calcula-se que falta explorar outros cinco mil quilômetros quadrados neste país. Setenta e sete por cento da água doce do planeta está congelada em pólos ou geleiras montanhosas, afirma o Global Water Partnership. A América do Sul possui 28% desses recursos.

 

A Perspectiva Global sobre o Gelo e a Neve, apresentada no dia 4 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), confirmou que as geleiras de todo o planeta retrocederam devido ao aquecimento global. Os cientistas acreditam que a causa mais provável da mudança climática seja o acúmulo na atmosfera de gases que causam o efeito estufa, que são emitidos por atividades humanas. Em 2000, um estudo da Universidade do Chile estabeleceu que 87% das cem geleiras estudadas estavam em retrocesso por causa do aumento da temperatura. Preocupam especialmente as reduções detectadas nas geleiras patagônicas, que concentram mais de 60% das geleiras sul-americanas, excluída a Antártica.

 

No Chile, as geleiras estão em perigo também por causa da mineração, principalmente na região norte. Estima-se que as geleiras contribuem com mais de 60% do caudal dos rios em anos secos. Em abril, funcionários do governo sobrevoaram três geleiras na região de Atacama, norte do país, que vivem uma complexa situação hídrica, e detectaram que nelas foram abertos caminhos e valetas de prospecção de minérios. Segundo a Direção Geral de Águas (DGA), o Rio Copiapó, alimentado por estas geleiras, é superexplorado. Sua oferta média anual é de quatro mil litros por segundo, enquanto sua demanda é de 5,5 mil litros.

 

A ecologista Sara Larraín explicou em uma entrevista que o interesse na proteção das geleiras surgiu após a primeira aprovação do Pascua Lama, controvertido projeto de exploração de ouro andino, na fronteira entre Chile e Argentina, pela multinacional canadense Barrick Gold Corporation. “No primeiro estudo de impacto ambiental apresentado pela Mineraçao Nevada, filial da Barrick, aprovado em 2001, não foi declarada a existência de três geleiras” próximas à mina, afirmou a diretora do não-governamental Programa Chile Sustentável.

 

“Por denúncias de comunidades locais e organizações não-governamentais, a empresa foi obrigada a apresentar um novo estudo, onde, aí sim, apareceram as geleiras” que alimentam sistemas de irrigação de 70 mil pequenos produtores agrícolas do Vale do Huasco, também em Atacama, acrescentou Larraín. Este novo estudo apresentava a necessidade de remover as geleiras Toro I, Toro II e Esperança, para explorar a jazida de ouro e prata a céu aberto. O projeto foi aprovado em fevereiro de 2006, sob a condição de não remover as geleiras. Embora o início da construção esteja previsto para setembro de 2007, a DGA já detectou significativas reduções das geleiras, como resultado das obras preliminares.

 

Em maio de 2006, cinco senadores oficialistas e opositores apresentaram ao Parlamento um projeto sobre valorização e proteção de geleiras, que está em trâmite legislativo. Enquanto isso, o Programa Chile Sustentável e a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) redigiram outro anteprojeto, acompanhado por órgãos públicos e empresas privadas. A Sociedade Nacional de Mineração o rejeitou por considerar que “a Lei de Bases do Meio Ambiente dá garantias suficientes para a proteção das geleiras e, também, que é preferível estudar caso por caso”, disse ao Terramérica o presidente da SNA, Luis Schmidt.

 

Em outubro, o anteprojeto foi entregue ao governo da presidente Michelle Bachelet com a intenção de obter seu apoio. Se isto não for possível, seus proponentes pedem que seja tratado com urgência o texto que se encontra no Senado, ao qual já foram anexados aspectos contidos na iniciativa de ecologistas e agricultores. Os dois textos estabelecem atividades permitidas, restritas e proibidas nas geleiras. Também propõem a criação de um conselho nacional com representação público-privada, que deverá criar um registro oficial, controlar seu estado e elaborar normas de conservação.

 

Larraín acredita que a indústria mineradora – em particular a estatal Corporação Nacional do Cobre, responsável pela maior parte da entrada de divisas no país e acusada de afetar uma geleira no centro do país – exerce muita pressão contra o anteprojeto não-governamental. O diretor do Observatório Latino-Americano de Conflitos Ambientais, Lucio Cuenca, expressou ao Terramérica seu temor de que se acabe aprovando um “mau projeto” que legalize a destruição das geleiras.

(Por Daniela Estrada, Terramérica, 11/06/2007)

 


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