Para chegar ao distrito de Mutum-Paraná, que faz parte do município de Porto Velho (RO), é preciso percorrer 160 quilômetros pela rodovia BR-364, do centro da capital até a comunidade. À beira da estrada, apenas alguns estabelecimentos comerciais. Ao entrar na comunidade, pequenas propriedades com casas simples e marcos históricos como os trilhos da estrada de ferro Madeira-Mamoré, a casa de apoio da ferrovia e uma bela ponte de ferro por onde passava o trem, sobre a qual hoje foi montado um bar para a diversão dos moradores. A comunidade é uma das quatro que serão alagadas se as usinas hidrelétricas do Rio Madeira forem construídas.
A previsão de alagamento está no relatório de impacto ambiental do empreendimento, que não explicita se as comunidades serão total ou parcialmente afetadas. Nos cálculos do Ministério Público Estadual, 214 famílias no núcleo urbano de Mutum-Paraná deverão ser deslocadas após a construção da usina hidrelétrica de Jirau. Além disso, 15 estabelecimentos comerciais na sede do distrito e 28 em áreas fora da aglomeração urbana devem ser afetados.
Segundo contam os moradores de Mutum-Paraná, se as águas ficarem constantemente no nível das cheias que anualmente tiram muitos deles de casa, só será possível se deslocar de barco pela região. Mesmo quem não tiver suas residências diretamente atingidas pelas águas deverá sair do local, para não ficar ilhado.
“Na minha casa alaga já naturalmente, mas são poucos dias, 20 dias, 17 dias, depois volta tudo ao normal. E a previsão é de que vai alagar todo tempo, não vai ter seca, por isso não vai poder ficar ninguém habitando aqui”, explica Maria Iraildes Valente de Menezes, vice-presidente da Associação dos Moradores Ribeirinhos de Mutum-Paraná.
Ela se diz contra a construção das usinas, porque, mesmo se for deslocada para outro lugar, muita coisa vai ficar para trás. “A gente sabe que mesmo tendo casa e tudo lá no outro lugar se a gente for realocado mesmo não vai ter isso tudo, a gente vai levar um bom tempo para fazer tudo de novo. Plantar suas árvores, arrumar tudo como era aqui”, lamenta a moradora, mostrando o pé de manga em frente à sua casa de madeira.
A moradora Lucimar Marques da Silva, 60 anos, também não quer sair de Mutum-Paraná. “Para mim é muito bom aqui. Tem tudo, a gente sai daqui, vamos pegar um peixinho ali, é muito gostoso. Pega, vem e come. E em outros cantos é difícil, né?”, comenta.
Mesmo sabendo que a comunidade será afetada, é possível encontrar em Mutum-Paraná moradores favoráveis à construção das usinas hidrelétricas. A “Nova Mutum”, como já está sendo chamada, ainda não tem local definido para construção, mas já traz esperança de condições melhores.
Para o morador Rovaldo Herculino Batista, os benefícios das hidrelétricas devem valer a pena. “Nós vamos mudar daqui, cada morador vai receber uma casa e além disso vai ter a indenização pela saída da casa que nós moramos aqui”, diz ele, que compareceu a todas as reuniões realizadas na comunidade para debater a construção das barragens.
A geração de energia e o desenvolvimento do estado são os motivos que fazem o morador de Mutum-Paraná Osvaldo Borges de Quadros se afirmar favorável à construção das hidrelétricas no Rio Madeira. “A usina vai gerar riqueza, desenvolvimento, outras indústrias que podem se instalar no estado. Então, é beneficio para todos, empregos”, considera o gaúcho, que está há quatro anos em Rondônia.
Segundo os moradores, três localidades estão sendo estudadas para ser a futura “Nova Mutum”: Fazenda Rio Madeira, Fazenda Novo Brasil e Imbaúma.
(Por Sabrina Craide, Agência Brasil, 10/06/2007)