As informações sobre o número de casas atingidas e as ações que serão realizadas para apoiar as famílias que moram na beira do Rio Madeira, caso a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau seja autorizada, ainda são insuficientes para os ribeirinhos que moram nas comunidades de Cachoeira de Santo Antônio e Cachoeira do Teotônio. Ambas fazem parte das quatro que serão alagadas se as usinas hidrelétricas do Rio Madeira forem construídas.
A previsão de alagamento está no relatório de impacto ambiental (Rima) do empreendimento, que não explicita se as comunidades serão total ou parcialmente afetadas.
Na comunidade de Santo Antônio, a 7 quilômetros do centro de Porto Velho, ainda há desconfiança em relação as obras, mesmo depois de diversas reuniões realizadas pela equipe técnica de Furnas Centrais Elétricas. A estatal é responsável, com a construtora Norberto Odebrecht, pelo estudo de impacto ambiental (EIA) e pelo Rima.
Segundo o morador Luiz Luz Máximo, que mora lá desde que nasceu, há 51 anos, os estudos feitos sobre os impactos na região com a construção das hidrelétricas são insuficientes. “A gente pede a indenização certa e como vai ser indenizado, para onde vai, se eles vão dar outro local, se vai indenizar em moeda. Mas ninguém sabe, porque não foi dito nada, não foi afirmado nada, ninguém sabe nada”, diz o morador.
Mesmo com a garantia de que sua casa não será atingida, pois está em uma posição mais elevada, ele teme as conseqüências do alargamento da margem do rio, e já se prepara para sair de sua atual residência. “A minha casa corre o risco, porque uma obra como esta tem que ter uma área de 15 quilômetros de segurança”, diz Máximo, que afirma existirem atualmente 139 famílias em Santo Antônio.
Os moradores de Cachoeira do Teotônio também estão desinformados sobre a situação em que irão ficar se as hidrelétricas forem construídas. O povo da região já se prepara para deixar as casas, e as os anúncios de venda de imóveis se tornaram comuns. De acordo com os próprios moradores, atualmente há 280 pessoas vivendo ali.
Vaney Assef se mudou há quatro para Teotônio, porque não encontrava emprego em Porto Velho. As terras onde mora não serão atingidas pela água, mas ele teme que, com a cheia do rio, os acessos à comunidade fiquem interrompidos, isolando a população. “Eu estou com medo, porque eu tenho família. Isolando a gente aqui, a gente vai para a cidade, pode ter milhões de empregos, mas sem capacitação como é que a gente vai trabalhar?”, questiona o morador.
Ele conta que trabalhou durante dois anos e quatro meses a serviço da empresa Furnas medindo o nível do rio duas vezes por dia, ganhando R$ 200 reais por mês. Manifesta esperança diante da perspectiva de a empresa de dar prioridade a quem já fez o serviço na hora de contratar funcionários para a obra. “Eu estou nessa esperança. O rapaz me falou que a partir do momento que fosse aprovado [a construção das hidrelétricas], as pessoas que tivessem trabalhando nessa área de hidrometria automaticamente voltariam a fazer o mesmo serviço”, diz Assef.
(Por Sabrina Craide, Agência Brasil, 10/06/2007)