Privilegiada para o plantio de eucaliptos, região noroeste do RS resiste às monoculturas florestais
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2007-06-11
O Zoneamento Ambiental para Silvicultura apresentado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) aponta o Noroeste como uma região adequada ao plantio de eucaliptos. No entanto, em Ijuí existem poucos adeptos do florestamento de espécies exóticas. Um dos motivos é que a madeira produzida serve de matéria-prima para indústrias de papel e moveleira, que não encontram na região uma estrutura de comercialização. Outro fator que contribui para esse cenário é a predominância do plantio de grãos como a soja e outras culturas rasteiras no agronegócio regional.
Conforme o coordenador de meio ambiente do município de Ijuí, Dirlei Marchesan, o relatório da Fepam indica que o clima e o solo da região são favoráveis ao cultivo, e pode ser um fator determinante para o desenvolvimento do setor, mas destaca que a questão é polêmica. “Há estudos que comprovam que a produção causa danos ambientais e estudos que discordam desta tese, eu me posiciono favorável à cultura, desde que ela não seja a única, tornando-se uma monocultura”, afirma. Ele destaca que embora exista muita polêmica sobre os danos que o plantio de eucaliptos causem ao meio ambiente, a cultura pode ser bastante lucrativa, com ganhos superiores a algumas das tradicionais opções dos produtores. “Apesar disso, a região conta apenas com grande produção de mudas e poucas plantações”.
Impactos regionais
De acordo com Dirlei, se a cultura for predominante, ocupando uma área muito grande, o impacto pode ser danoso, mas do contrário o impacto equivale à uma formação florestal. Ele observa que economicamente o plantio de eucaliptos sobrepõem a outros cultivos, mas o retorno demora cerca de 7 anos a chegar, o que afasta produtores. Outro ponto positivo seria o crescimento da oferta de lenha para queima proveniente de florestamento, diminuindo o impacto que existe hoje sobre as florestas nativas.
Na opinião da presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Consema) de Ijuí, a geóloga Dóris Montardo, ao contrário da região sul, em que o plantio de eucalipto vai ocasionar uma mudança total na vegetação do terreno, na região, em que a vegetação arbórea foi retirada para que as áreas fossem ocupadas por plantações de grãos, não teria tanto problema. “O desmatamento do Noroeste gerou uma mudança nos regimes de chuvas, o que é um impacto ambiental da troca de cultura, o inverso deve ser sentido na região sul se for adotado o plantio de eucalipto em larga escala”, destacou. A geóloga salientou ainda que falta estrutura de comercialização da madeira para que o cultivo se torne atrativo. “No Plano Ambiental do município, quanto ao florestamente, não é possível diferenciar espécies nativas de exóticas e o uso feito das árvores, apenas aponta um crescimento da cobertura arbórea em Ijuí”. De acordo com pessoas ligadas à produção e revenda de mudas, há bastante procura pela espécie, que são plantadas em pequenas, médias e grandes áreas.
Duplicar produção de mudas
O Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (Irder) ligado ao Departamento de Estudos Agrários da Unijuí, através de seu viveiro florestal regional instalado em 1995, é hoje o principal fornecedor de mudas de plantas exóticas e nativas da região Noroeste. Localizado no município de Augusto Pestana, e vinculado ao Programa Regional de Reflorestamento e Recuperação Ambiental, o viveiro do Irder fornece 1,3 milhão de mudas de eucaliptos e pinus, sendo o pinus representanto menos de 20% do total comercializado.
Conforme o engenheiro florestal do Irder, Jorge Schirmer, o viveiro possui a capacidade de produção anual de 2 milhões de mudas, mas no caso de uma demanda maior precisariam ser feitas adequações e ampliações na área de produção, para com isso, dobrar a capacidade de produção do viveiro. “Os viveiros que produzem mudas para grandes reflorestamentos geralmente têm capacidade instalada de produção de 20 a 30 milhões por período”.
Na região há algumas empresas que fazem plantio em maior escala, com áreas entre 100 e 200 hectares, localizadas em Santa Rosa, Três Passos, Crissiumal e Tenente Portela. O restante da demanda corresponde a agricultores que plantam em pequena escala em áreas de até 10 hectares. Segundo Schirmer, quase a totalidade dos produtores do Noroeste realizam o plantio para exploração da madeira no setor madeireiro ou como lenha para queima e produção de energia na secagem de grãos. "Em Santo Augusto foi desenvolvido no ano de 2001 um projeto de reflorestamento em cerca de 130 a 150 hectares, mas isso não é a regra", afirmou.
Novo nome
O projeto do Irder iniciado há 12 anos, com a mobilização de várias entidades, visando a instalação do viveiro regional, também contempla a produção de mudas nativas de mais de 100 espécies diferentes e que ao ano superam a marca de 500 mil mudas, embora o número possa variar de um ano para o outro. "A idéia é fomentar o reflorestamento exótico para produção de madeira, mas também a recuperação de áreas degradadas e de mata ciliar com o plantio de florestas nativas", explicou. A viabilização do projeto se deu graças à entrada de recursos da EZE (Agência Evangélica de Desenvolvimento da Alemanha) e do apoio de 40 municípios que são parceiros da iniciativa.
O Irder conta com o trabalho de 26 pessoas, sendo 12 apenas na manutenção do viveiro. Além de produzir mudas no viveiro a equipe técnica do Irder também presta consultoria aos municípios parceiros em Projetos de Reflorestamento Ambiental. Nos últimos anos elaborou e executou vários projetos de reflorestamento com espécies nativas, como em áreas degradadas de matas ciliares e margens de rodovias, além de um projeto de agrossilvicultura na área indígena Guarita, em Tenente Portela e Redentora. "O Viveiro Florestal não tem fins lucrativos, mas o sucesso está demonstrado na sua existência à varios anos, ofertando uma grande variedade de mudas nativas e exóticas, com preços muitas vezes inferiores ao de mercado"
Nos últimos anos passou a ser ligado ao Departamento de Estudos Agrários, funcionando como laboratório de ensino e pesquisa da Unijuí. No Irder realizam-se também várias atividades ligadas ao setor agropecuário, com lavouras, criação de suínos e gado de leite. O Irder deve mudar de nome nos próximos dias, o que ainda está sendo discutido, a figura de instituto também não deve permanecer.
Prefeitura incentiva plantio de florestas
O Executivo local criou o projeto de lei Mais Verde, Mais Vida que dá subsídios na ordem de R$ 500,00 durante 5 anos para fomentar o plantio de florestas em pequenas propriedades, além da doação de mudas para o produtor com o objetivo de recuperar áreas degradadas. Está previsto no projeto que 30% da área seja plantada com mudas de árvores nativas e o restante de exóticas.
(Por Janis Loureiro, especial para o Ambiente JÁ, 08/06/2007)