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G8 heiligendamm emissões de co2
2007-06-09
Apesar dos esforços de diplomatas, delegados e jornalistas, a cúpula do G8 terminou como se nunca tivesse acontecido. Sem resultados, ou compromissos concretos, uma coisa de "um clube de amigos", como definiu o presidente brasileiro, Luiz Inácio "Lula" da Silva, em entrevista coletiva na noite de quinta-feira (07/06) em Berlin. Ele foi à Alemanha como "convidado", membro de um grupo de países em desenvolvimento e com crescente importância no mundo. O chamado O5 (Cinco "Outreach"), incluindo China, Índia, México e África do Sul.

Recebido como grande líder da América Latina, o presidente conseguiu, talvez mesmo sem ser escutado, deixar o seu recado durante os encontros bilaterais e multilaterais que manteve nos três dias em que esteve na Alemanha. "O Brasil está convencido de que para combater o aquecimento global e atingir os objetivos do milênio é preciso respeitar as decisões de organismos multilaterais. Aceitar a tese de que compromissos voluntários vão resolver o problema é um erro", declarou.

Lula se referia, entre outras coisas, à meta do G8 para o aquecimento global de reduzir em 50% as emissões de CO2 até 2050. Isso "se" os países em desenvolvimento também se comprometam com as metas, que foi a condicionante norte-americana para assinar o acordo. Além de reclamar da falta de participação de outros países na elaboração do documento, o presidente brasileiro ainda tocou num outro ponto importante. "Nós estamos preocupados em resolver coisas para o próximo ano, para daqui a cinco anos, para daqui há 12 anos. Daqui até 2050 é uma meta muito longa para um problema que é imediato", disse ele.

Fazendo coro com o Brasil estava a Greenpeace. Sexta-feira (08/06) à tarde a ONG divulgou um documento criticando as posições dos países ricos em Heiligendamm. "O G8 falhou claramente em produzir o que era necessário durante a cúpula", declarou Daniel Mittler, especialista em política climática da ONG. Para ele, um acordo de sucesso deveria prever uma redução de 30% nas emissões dos mais ricos até 2020. Em 2050 a meta, segundo Mittler, deveria ser de 80-90% de redução nas emissões.

Ao final, nem objetivos do milênio, nem aquecimento global, nem biocombustível, este último a grande bandeira do Brasil na cúpula. Já na quinta-feira (07/06) o foco do encontro havia sido desviado para o atrito entre EUA e Rússia por conta da instalação de um sistema de mísseis na Polônia e República Tcheca, membros recentes da UE.

A Alemanha, atual presidente do G8, fica entre a cruz e a espada na questão. De um lado seu maior aliado econômico, os EUA, numa interdependência que responde por 25% do seu PIB. Do outro seu maior fornecedor de combustíveis fósseis, a Rússia, com pelo menos 50% de todo o gás e óleo consumido no país.

Redescobrindo a África
No último dia do evento a imprensa russa seguia dando destaque à polêmica da "nova guerra fria", como definiu Putin. Enquanto que a grande mídia ocidental, como que carreada por uma gigantesca mobilização para esfriar os ânimos, mirava outro assunto. A pobreza da África.

A nova onda começou ainda na quinta-feira (07/06), após a "sugestão" do presidente Norte-americano, George W. Bush, de ajudar o sistema de saúde de países africanos com US$ 60 bilhões. Foi o bastante para grandes jornais do mundo abraçarem a proposta como grande novidade.

Na manhã de sexta (08/06) inúmeras organizações não governamentais reagiram, distribuindo informações que desmascaravam a farsa. "O G8 precisa providenciar mais recursos e menos retórica", dizia o título do release da Agência Católica de Ajuda da Escócia (Sciaf), lembrando que em 2005 o mesmo grupo havia se comprometido na cidade escocesa de Gleneagles a dar US$ 50 bilhões em ajuda para o continente africano. Do valor acertado apenas um percentual inferior a 10% foi dado efetivamente como ajuda.

Na coletiva final do evento a primeira ministra alemã, Angela Merkel, respondeu sobre a suficiência dos compromissos assumidos com uma cobrança aos países africanos. "Quando alguém olha para os documentos que produzimos aqui, fica claro que não estamos preocupados apenas com valores, mas principalmente com os resultados da utilização deles", respondeu ela a um repórter do Financial Times. Invocando transparência para os projetos de ajuda aos países africanos, Merkel informou que hoje cerca 55% do orçamento de ajuda internacional da União Européia é direcionada para a África. "É importante informar aos nossos contribuintes para onde esse dinheiro está indo e em que vem sendo investido", argumentou.

(Por Mariano Senna da Costa, Ambiente JÁ, 08/05/2007)

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