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emissões de gases-estufa emissões de co2
2007-06-07

O presidente dos EUA, George W. Bush, enviou não apenas um, mas três assessores para uma conferência com a imprensa no Berlin Hilton, na terça-feira (05/06), pouco antes do início da reunião de cúpula do G-8, para esclarecerem as coisas. Quando se exclui toda a retórica, a principal mensagem aos jornalistas foi simples: tudo não passou de um mal-entendido.

 

 

As autoridades americanas sugeriram que a recente iniciativa de Bush na questão de proteção climática não é de fato uma contra-ofensiva contra a agenda da chanceler alemã Ângela Merkel para o G-8, como muitos observadores da mídia alemã especularam, mas uma contribuição construtiva ao processo que sucederá ao Protocolo de Kyoto de mudança climática.

 

 

"Será que podemos definir um processo para criar uma nova estrutura pós-2012, quando Kyoto expira?" perguntou James Connaughton, assessor de meio ambiente de Bush. "Acho que a resposta será 'sim'".

 

 

A previsão de Connaughton foi a mais otimista para a reunião. Os EUA claramente querem impedir que o encontro seja um fracasso como resultado da controvérsia ambiental. A chanceler Merkel, anfitriã da reunião, recentemente aumentou a pressão sobre Bush, deixando claro quem ela faria de bode expiatório se o encontro fracassasse.

 

 

O Grupo dos Oito (G-8) inclui muitas das mais poderosas democracias industriais do mundo: EUA, Reino Unido, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia. A União Européia também participa, representada pelo presidente da Comissão Européia e pelo presidente da UE, mas não é membro oficial.

 

 

Cada chefe de Estado tem um representante pessoal, com um título metafórico de "sherpa", que se reúne com outros delegados durante o ano para preparar as decisões políticas para a reunião de cúpula do G-8. O encontro de fato conta com a participação dos chefes de Estado. O G-8 é um "foro informal de chefes de Estado", sem estrutura administrativa ou escritórios. A agenda do encontro é administrada pelo presidente anfitrião daquele ano.

 

 

Como país anfitrião deste ano, a Alemanha anunciou uma agenda que se concentra na prevenção da mudança climática e na necessidade de substituição do protocolo de Kyoto, que expirará em 2012. Estabilizar a economia mundial com uma política de energia sustentável, o desenvolvimento da África e prevenção do HIV, a definição de uma estratégia contra pirataria de produtos e política de segurança também estão entre os tópicos que a Alemanha pretende abordar.

 

 

Nos últimos vários anos, o alto perfil do G-8 tornou-se foco de manifestações e lobistas, especialmente de críticos da globalização, que dizem que o Grupo dos Oito é a causa dos próprios problemas que estão tentando resolver. Outros críticos fazem objeções à característica exclusiva do grupo. A concentração de poderes ocidentais e a exclusão e países como Espanha e China significam que o grupo não mais representa os verdadeiros superpoderes econômicos do mundo, alegam os críticos.

 

 

A cada ano, um país membro diferente assume a presidência do G-8, em janeiro, e organiza uma série de encontros de alto nível para representantes dos países membros levando à reunião anual de cúpula, que conta com a presença dos chefes de Estado. A reunião de cúpula de 2007 será nos dias 6 a 8 de junho.

 

 

Neste ano, a Alemanha está sediando a 33ª reunião de cúpula em Heiligendamm, a mais antiga cidade de praia do país, que fica no Estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, no mar Báltico. O resort foi bloqueado por uma cerca de arame farpado de 12 km, para impedir que s manifestantes se aproximassem do local.

 

 

O G-8 nasceu em 1973, quando a crise de petróleo e subseqüente recessão econômica levaram os EUA a organizarem encontros informais para os líderes mundiais discutirem questões relevantes. Em 1975, a França convidou os EUA, o Reino Unido, a Alemanha Ocidental, a Itália e o Japão para um encontro, formando o chamado de Grupo dos Seis, no qual os países concordaram com uma reunião anual e uma presidência rotativa. O Canadá entrou no ano seguinte, formando o Grupo dos Sete. Em 1997, a Rússia uniu-se ao grupo -uma decisão que ainda é contestada por alguns- formando o que atualmente é conhecido como Grupo dos Oito.

 

 

Juntos, os oito países são responsáveis por mais da metade da produção econômica mundial e representam uma forte influência política. Os tópicos do encontro evoluíram de preocupações puramente econômicas e passaram a incluir questões políticas como pobreza, terrorismo e mudança climática.

 

 

Os emissários da Casa Branca demonstraram surpresa com as acusações vindas da Europa. A crítica ao plano de Bush para o clima não é justificada, disse Connaughton, acrescentando que Bush, como Merkel, quer estabelecer alvos e proteção climática de longo prazo. Ao mesmo tempo, o assessor de clima da Casa Branca disse que deve ficar claro que cada país desenvolverá seu próprio plano nacional. O processo deve respeitar as diferenças nacionais, advertiu Connaughton. Por exemplo, os EUA têm o "programa mais agressivo do mundo" de desenvolvimento de combustíveis alternativos, disse ele.

 

 

Aproximação retórica

 

Estratégias de proteção climática eficazes não podem ser desenvolvidas sem a cooperação das maiores economias emergentes, disse Connaughton. Os objetivos que já foram estabelecidos "por outros', disse ele, são a "forma certa de começar". Ele aparentemente estava se referindo às decisões de uma reunião da UE recente para estabelecer limites de emissões específicos. Mas esses limites, argumentou o assessor de Bush, seriam ineficazes se economias emergentes continuassem aumentando suas emissões sem freio.

 

 

Connaughton ressaltou que a proposta de Bush de incluir os maiores emissores do mundo de gases de efeito estufa nas conversas de clima não seria um "processo separado" de Kyoto. Em vez disso, ele sugeriu que os resultados dessa discussão seriam incorporados ao processo de discussão da ONU. "Os EUA fazem parte da convenção estrutural da ONU sobre mudança climática", disse ele. "Esse é o foro onde devemos tomar ação juntos sobre mudança climática."

 

 

Retoricamente, ao menos, Bush e Merkel, que supostamente representam extremos opostos no debate de mudança climática, estão se aproximando. Os representantes de Bush estavam se desdobrando em elogios à anfitriã da reunião. O desejo dos EUA de estarem envolvidos no processo pós-Kyoto é uma nova posição que resultou das conversas de Bush com Merkel, disse o assessor de segurança nacional David McCormick. Ele apressou-se em acrescentar, porém, que isso não deve ser considerado uma admissão retroativa do Protocolo de Kyoto, que o governo Bush continua a considerar impraticável.

 

 

Os alemães também quiseram passar uma noção de otimismo, após uma série recente de comentários cada vez mais cépticos vindos do governo alemão. Um assessor de Merkel, falando ao escritório de imprensa e informação do governo alemão na terça-feira, explicou a mudança da seguinte forma: poucas semanas atrás, os EUA nem tinham admitido que a mudança climática é em grande parte atribuível à atividade humana. De acordo com o assessor, há "uma boa chance de haver ainda mais convergência."

 

 

Quanto a resultados concretos, entretanto, os alemães estão mais hesitantes. "Por favor, não me perguntem o que será anunciado aqui no final", disse o assessor. "Essa ainda não é uma questão fácil." Os EUA continuam a rejeitar o estabelecimento de objetivos concretos para a redução de emissões de CO2. Assim como os convidados de Washington, as autoridades alemãs salientaram as conquistas da chanceler, observando que havia "muito movimento" em torno da mudança climática em nível internacional, devido em grande parte à "abordagem resoluta" de Merkel.

 

 

A mudança climática, ao menos na percepção do público, atualmente está encobrindo todos os outros tópicos da agenda da reunião de cúpula do G-8 - inclusive os fundos hedge, a proteção da propriedade intelectual, o desenvolvimento da economia global, as reservas em moeda estrangeira crescentes em países como China e Japão, o protecionismo de investimento, a situação na África e as questões sociais da globalização. Até o governo alemão admite que o tópico de mudança climática "está ganhando mais atenção do que era esperado" e que atualmente está sendo "consideravelmente exagerado".

 

 

Os chamados "sherpas" - principais negociadores do G-8- vão continuar discutindo até o início da reunião de cúpula, na quarta-feira à noite, em Heiligendamm. Como em qualquer negociação, esta também inclui boa quantidade de "parênteses" que podem ser "retirados ou não" até então, disseram as autoridades em Berlim. A proteção do clima, acrescentaram, constitui um "dos conjuntos de questões mais difíceis - mas as chances ainda são boas".

 

 

A maior parte da mídia alemã interpretou a recente proposta de Bush de convidar os 15 maiores poluidores para participar de uma conferência separada como ataque à política de clima de Merkel. Mas as autoridades dentro do governo alemão reagiram diplomaticamente à proposta de Bush e a estão considerando como parte de um processo contínuo de negociações, como a conferência de Bali marcada para este outono. Participantes do evento da ONU devem negociar um acordo que dará seguimento ao protocolo de Kyoto de proteção ambiental além de 2012. Ansiosas em colocar um viés positivo nas coisas, as autoridades alemães na terça-feira em Berlim retrataram a reunião de 15 países proposta por Bush "como passo preliminar na estrada para Bali".

 

 

Se há um princípio norteador na política de comunicação, é: repita a mensagem até a última pessoa entendê-la. As autoridades alemãs seguiram este princípio na terça-feira, quando ressaltaram o que já havia sido dito por autoridades em vários níveis e até pela própria Merkel: É "essencial" para a chanceler que as decisões que façam sentido em termos de proteção climática sejam "por fim incorporadas no processo da ONU".

 

 

No período que antecedeu a reunião de cúpula, Merkel anunciou suas metas: que as emissões de CO2 fossem cortadas ao meio até 2050 e que o aquecimento global fosse limitado a 2 graus Celsius. Mas será que a chanceler manterá sua convicção? Membros do governo em Berlim admitiram na terça-feira que essa não é "a mais fácil das questões" e que "há vários objetivos" a serem alcançados. As autoridades preferiram não responder se a questão por fim continuará não resolvida em Heiligendamm.

 

 

Berlim está colocando suas apostas na diplomacia de último minuto. Antes da reunião começar oficialmente na noite de quarta-feira, Merkel reunir-se-á individualmente com Bush, o presidente russo Vladimir Putin, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro italiano Romano Prodi. Dados todos esses preparativos de último minuto, um assessor de Merkel não estava de todo brincando quando disse, na terça-feira: "Ainda há muito tempo antes da reunião."

(Por Carsten Volkery e Severin Weiland, Der Spiegel / UOL, 07/06/2007)

 

 


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