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G8
2007-06-08
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva proporá hoje (08/06) ao G8, o clube das sete maiores economias do mundo mais a Rússia, a convocação de uma nova conferência ambiental, também no Rio de Janeiro, a Rio+20, porque a data sugerida é 2012, 20 anos depois da Eco-92, o primeiro grande esforço sob o guarda-chuva das Nações Unidas para enfrentar a mudança climática.

É também o ano em que perde validade o Protocolo de Kyoto, destinado a enfrentar o aquecimento global, mas que acabou produzindo reduzidos efeitos, na medida em que não foi assinado pelos Estados Unidos, justamente o maior emissor dos gases que produzem o efeito estufa e geram o aquecimento global.

No ano que vem, o Brasil será a sede de uma outra conferência global, também com presença de chefes de Estado, exclusivamente destinada a discutir os biocombustíveis, pelos quais o presidente se confessa um "fanático".

Uma das razões para Lula propor a seus pares uma nova grande reunião internacional é o seu temor de que a discussão no âmbito restrito do G8 "fique apenas na pirotecnia".
"O que me incomoda é que os países ricos parecem tomar decisões muito mais para prestar conta aos movimentos ambientalistas que são muito mais fortes [na Europa e nos Estados Unidos] do que em qualquer outra parte do mundo", reclama o presidente Lula.

Por "pirotecnia", pode-se entender o fato, mencionado pelo presidente, de que os Estados Unidos não assinaram o acordo de Kyoto e a Rússia só o fez mais tarde. Os dois são membros do G8, ao lado de Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.

O tema ambiente ocupou metade do tempo da conversa de Lula com a Folha, acompanhada pelo chanceler Celso Amorim, pelo assessor diplomático da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e pelo ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, enquanto a TV mostrava os gols dos jogos de quarta-feira pelas eliminatórias da Eurocopa.

Lula diz que, se dependesse exclusivamente dele, na reunião de hoje com o G8 "só falaria de etanol e biocombustíveis". São estes os principais temas da conversa com o presidente, divididos por tópicos.

Biocombustíveis
O presidente sabe que entra para a reunião de hoje com o assunto aquecimento global já esgotado, nas reuniões entre os líderes do G8. Mas avisa: "Eu vou ter dez minutos, cinco minutos que seja, vou ter um almoço com eles, e quer queiram quer não vão ter que me ouvir falar de biodiesel, de etanol, de energia limpa".

Lula acha que "o Brasil tem cacife para colocar a questão do etanol" em um debate que, até ontem, ficou centrado no estabelecimento de metas para evitar que o aumento da temperatura média do planeta seja superior a 2C, o que exigiria, segundo proposta alemã derrotada pelos EUA, que houvesse uma redução de 50% (sobre os níveis de 1990) na emissão de gases do efeito estufa até 2050.

A tese do presidente brasileiro vai por outro caminho, assim descrito por ele: "Eu compreendo a situação dos países ricos. Eles têm um padrão de desenvolvimento, tem um padrão energético, tem um padrão de combustível e não querem mudar. Às vezes, preferem jogar a culpa nos países em desenvolvimento, o que é transferir a responsabilidade de quem de fato a tem".

Passo seguinte: "O biocombustível é uma questão inexorável. Pode levar dez anos, 20 anos, mas o mundo terá que adotar o biocombustível, seja por conta do preço do petróleo, seja por necessidade de ter um combustível mais limpo".

Corolário: "Se eles vão aceitar mudar a matriz energética, eu não sei. Mas o dado concreto é que nunca se discutiu tanto biocombustível como agora".

Lula folheia os papéis que leva consigo a toda reunião internacional, com números sobre o uso de combustíveis no Brasil (16% é álcool anidro ou hidratado, mais limpo que os derivados do petróleo) e sobre a matriz energética. "Nosso quadro é exatamente o inverso do deles. No Brasil, 89% da energia procede de hidrelétricas [fonte renovável], ao passo que nos países da OCDE, só 12% vem de fontes renováveis" (a OCDE é a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento, formada pelos 30 países mais ricos do mundo).

O presidente e seu chanceler lutam com os papéis até descobrirem um dado vital na discussão: em 2003, quando o biocombustível ainda estava engatinhando no Brasil, só a mistura de 23% na gasolina "evitou a emissão de 27,5 milhões de toneladas de gás carbônico, o que corresponde à emissão anual da Noruega", diz Amorim.

Marco Aurélio Garcia reforça, no seu canto: "E a Noruega produz petróleo leve" (portanto, menos poluente). Amorim diz também que "a grande diferença entre a proposta brasileira e a da Alemanha "é que nós vamos diretamente aos meios de combater o aquecimento", ou seja, pelo uso dos biocombustíveis em vez dos combustíveis fósseis (leia-se: petróleo).

Discurso dos ricos
Lula vai ao ataque até na questão do desmatamento da Amazônia, em que o Brasil sempre ficou na posição de vilão aos olhos do mundo. "O mundo desenvolvido acha que pode fazer um discurso e a gente tem que tomá-lo como a palavra final e obedecer", diz. Depois cita pesquisa feita pela Embrapa com "50 e poucos cientistas do mundo inteiro", para analisar o desmatamento do planeta nos últimos 8.000 anos. Deu o seguinte resultado, relata Lula: "O Brasil ainda tem 69% de sua floresta original. A Europa, só 0,03%. E a América do Norte só fica com uns 20 e poucos por cento por causa do Canadá".

FOLHA - Mas eles dizem que não é por causa dos erros que fizeram no passado que países como o Brasil podem agora ficar livres para fazer os mesmos erros.
LULA - Temos outra proposta para eles: que o custo do não desmatamento implique um novo modelo de desenvolvimento. Quero saber se os países ricos estão dispostos a financiar os países pobres que resolverem ser mais responsáveis que eles e não desmatarem.

Desmatamento
O presidente defende a criação de um fundo, pelos países ricos, para que os países pobres possam evitar o desmatamento. "Vamos ver se eles topam fazer. Eu estou cheio de criação de fundo que não funciona. Fundo é o que mais se cria.

Quanto ao desmatamento na Amazônica, Lula repete sempre que em dois anos o desmatamento foi reduzido em 52%. Diz que o próprio Brasil tem interesse em diminuir mais ainda e anuncia que um satélite a ser lançado em setembro, em acordo com a China, permitirá receber fotos de duas em duas horas e, com isso, monitorar com muito mais precisão a região amazônica.

(Por Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo. 08/06/2007)
 

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