Refugiados do clima. O termo ainda é provisório, mas a classificação ganha notoriedade à medida que pesquisadores alertam para a irreversível mudança climática e as primeiras estatísticas sobre os deslocados começam a surgir.
A Cruz Vermelha Internacional calcula que já existem 25 milhões de pessoas deslocadas por razões ambientais - número que pode superar o de refugiados de guerra no mundo. A ONU calcula que dentro de cinco anos serão 50 milhões. No continente americano, o fluxo migratório será significativo na zona central, explica Raymond Schmitt, cientista do Instituto Oceanográfico Woods Hole, nos Estados Unidos.
Com um estudo voltado para o derretimento das geleiras do Ártico, Schmitt descreve o que já está acontecendo devido ao aumento da temperatura global: - A esteira transportadora do Atlântico, que leva água fria das geleiras do Ártico para o Sul pelo fundo do mar, ganharia volume, esfriaria águas costeiras e grandes secas afetariam regiões agrícolas essenciais.
O cientista explica que a tendência é que os brasileiros do Norte migrem para o Sul e os americanos mais para o Norte do país. O fluxo internacional vai levar tempo, sublinha Schmitt, "porque as pessoas sempre tentam dar um jeito": - Nas regiões mais secas dos EUA, por exemplo, já se está retirando água das camadas mais fundas da terra. Os poços estão se aprofundando. Em contrapartida, não há políticas públicas de prevenção de um desastre maior. Hoje existe muita gente em Los Angeles, se fôssemos mais precavidos o país não estaria crescendo sobre uma área tão seca.
O Pentágono divulgou em 2004 um relatório que já alertava para o principal desafio de Washington: conter a onda de refugiados ambientais vindos do México, América do Sul e Caribe, que procurarão, desesperados, melhores condições de vida no vizinho do Norte. A recomendação foi fortificar as fronteiras. - Previsões exageradamente dramáticas de migração em massa serve principalmente para agravar a xenofobia - lembra Stephen Castles, do Instituto de Migração Internacional de Oxford.
O termo refugiado do clima foi inaugurado pelos EUA frente a esta perspectiva, lembra José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: - Mas a classificação é pejorativa. Os países do Norte, em geral, têm mais condições de se adaptar às mudanças do que os do Sul.
(Por Camila Arêas, Jornal do Brasil, 08/06/2007)