O acordo definido ontem (07/06) por líderes mundiais em favor de cortes "substanciais" na emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e assegurando um pacto ambiental pós-Protocolo de Kyoto para 2009 constitui apenas um passo tímido para a preservação do planeta, mas deve ser visto como positivo. A iniciativa se sobrepõe à intenção do presidente norte-americano, George W. Bush, de privilegiar uma ação limitada aos maiores poluentes, sem a interferência das Nações Unidas, o que poderia acabar se resumindo ao plano da retórica. Lamentavelmente, líderes do chamado Grupo dos Oito, reunidos para debater esse e outros temas críticos no balneário alemão de Heiligendamm, não chegaram a se comprometer com metas específicas, o que reforça a importância de a humanidade se manter atenta aos próximos passos de quem dita as regras no mundo, inclusive na área ambiental.
Anfitriã do encontro, a chanceler Angela Merkel garantiu que a Alemanha e os demais países participantes - Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália, Japão e França mais Rússia - chegaram ao consenso sobre algumas questões básicas. Uma delas é necessidade de deter o aumento das emissões de gás carbônico. Outra, a de que os países ricos, portanto os maiores poluidores, devem continuar perseguindo reduções substanciais das causas do chamado aquecimento global. No balanço feito pela dirigente alemã, os países desenvolvidos concordaram em "considerar" a meta de um corte de 50%, defendido por seu país, até 2050. Em nota oficial, a Casa Branca ratificou a intenção de atingir esse objetivo. É um avanço importante, mas que precisa ser respaldado por ações efetivas.
Sintomaticamente, o anúncio ocorre 35 anos depois da realização da Conferência de Estocolmo, a primeira a se ocupar do tema, de forma quase visionária, e 15 anos depois da Rio-92, quando a questão ambiental já se constituía numa ameaça em escala planetária. Entre um encontro e outro, o que evoluiu foi o debate por meio do qual o desenvolvimento sustentável se consolidou como a alternativa consensual. A sucessão de catástrofes registradas em anos recentes, os alertas sobre a rápida deterioração da qualidade da água e a crescente vulnerabilidade da população mundial a doenças epidêmicas apressaram a necessidade de uma mobilização urgente em escala mundial.
Países à margem das decisões tomadas pelo chamado G8 têm se esforçado para fazer sua parte. O Brasil não foge à regra, até mesmo porque a omissão nessa área tende a impor um elevado custo a economias em desenvolvimento. Os problemas climáticos, porém, assumiram um caráter global e precisam ser enfrentados nessa escala, não com ações individuais. A mobilização deve ser imediata e geral. Acima de tudo, precisa ser feita de forma que cada país adote providências reparadoras proporcionais aos danos provocados ao meio ambiente, assegurando uma qualidade de vida razoável para a geração atual e as próximas.
Frustração
Entidades ambientalistas, de maneira geral, manifestaram-se frustradas com as decisões relacionadas ao clima tomadas pelo G8. O Greenpeace, por exemplo, classificou o acordo de "ridículo" e "menos que pouco".
(Zero Hora, 08/06/2007)