Depois de um começo difícil, a cúpula do G8 --sete países mais industrializados mais a Rússia-- mostrou avanços nesta quinta-feira (07/06) em dois dos temas mais críticos do encontro: a animosidade entre Estados Unidos e Rússia e os acordos sobre medidas para conter o aquecimento global.
Na primeira frente, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, apresentou uma contraproposta aos EUA para substituir o plano americano de instalar um sistema de desfesa antimísseis no Leste Europeu. Putin propôs a Bush que os dois países utilizem conjuntamente o radar de Gabalá (no Azerbaijão), que permite detectar a trajetória de eventuais mísseis disparados a partir do Irã ou do Iraque.
As divergências entre a Rússia e os EUA a respeito do escudo antimísseis americano, que enfrenta forte oposição do Kremlin, são o ponto crucial da atual deterioração das relações entre os dois países. A Rússia chegou a ameaçar apontar seus mísseis para alvos na Europa caso os EUA levem o plano adiante.
"Podemos utilizar o radar em regime automático e todo o sistema protegeria não apenas uma parte do continente, mas toda a Europa, sem exceções", afirmou Putin à imprensa russa, segundo a agência Interfax. "Isso excluiria a ameaça de que restos de foguetes caiam sobre o território dos países europeus", completou. O presidente russo afirmou que, dessa forma, em vez de apontar seus mísseis contra a Europa, a Rússia poderia trabalhar em conjunto com os EUA na defesa estratégica internacional.
Os EUA afirmam que sua intenção com o escudo antimísseis é se proteger contra eventuais ameaças do Irã ou da Coréia do Norte. Bush disse após a reunião com Putin que eles concordaram em manter o diálogo estratégico sobre formas de cooperação. Poucas horas antes da reunião entre o presidente russo e Bush, a Casa Branca voltou a apresentar garantias ao Kremlin de que seu projeto de um sistema de defesa antimísseis não ameaça a Rússia. Generais russos foram convidados a irem aos EUA para se inteirarem dos planos do sistema.
Clima
Também hoje, os países do G8 reconheceram a necessidade de reduzir substancialmente suas emissões dos gases que causam o efeito estufa e examinaram seriamente o objetivo de cortá-las pela metade até 2050. Estes objetivos constam de um acordo firmado hoje na cúpula em Heiligendamm, na Alemanha, anunciou a chanceler alemã, Angela Merkel. Os EUA, que ontem não haviam dados sinais de que concordariam com a fixação de metas, avançaram hoje em direção ao corte nas emissões com o novo acordo.
"Concordamos hoje em considerar seriamente as decisões adotadas pela União Européia, Canadá e Japão que prevêem uma redução ao menos à metade das emissões globais [dos gases] até 2050", afirmou a Casa Branca em um comunicado. "Nos comprometemos a cumprir esses objetivos e convidamos as principais economias emergentes a se unirem a nós neste esforço", completa a declaração. Merkel, que preside a cúpula, afirmou à imprensa que o acordo é "um grande êxito".
Protestos
Do lado de fora da cúpula, a polícia deteve nesta quinta-feira 21 ativistas do grupo de defesa do ambiente Greenpeace, segundo a agência Efe. Os ativistas, a bordo de botes infláveis, burlaram a zona de segurança marítima da cúpula do G8.
A ação do grupo criou um estado de alerta durante alguns minutos na zona de segurança de Heiligendamm. As lanchas dos ativistas foram perseguidas por ao menos dez minutos por embarcações da polícia antes de serem interceptadas. Antes, um outro barco do Greenpeace também havia sido perseguido e interceptado no balneário alemão.
Pouco antes de serem detidos, os ativistas ainda tiveram tempo para abrir uma grande bandeira com o texto "G8, aja agora". Em terra, milhares de manifestantes continuam a protestar perto de um bloqueio de segurança no balneário. Hoje, as manifestações foram, em geral, pacíficas.
Nesta quarta-feira, milhares de manifestantes antiglobalização conseguiram ultrapassar um cordão policial e chegar a pé até a cerca de segurança que cerca o balneário. Cerca de 6.000 pessoas conseguiram chegar até um ponto a cerca de dez quilômetros do balneário. Policiais foram destacados para o norte da Alemanha para impedir a ocorrência de distúrbios como os de sábado (2), quando cerca de 500 pessoas ficaram feridas em confrontos em Rostock, no noroeste da Alemanha, durante uma manifestação contra a reunião do G8.
Segundo a polícia, cerca de 30 mil pessoas participaram da manifestação ontem, que tinha o intuito de abrir a semana de protestos contra a reunião. Entretanto, os organizadores afirmaram que 80 mil pessoas compareceram ao local. Cerca de 16 mil membros das forças de segurança alemãs vigiam por terra, mar e ar os militantes, que tentaram ontem bloquear o acesso a Heiligendamm.
(Folha Online, com France Presse, Efe, Reuters e Associated Press, 07/06/2007)