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2007-06-08
Até que ponto as mudanças climáticas podem afetar o Rio Grande do Sul? Os especialistas em Ciências Naturais, Meteorologia e Oceanografia não têm respostas claras para esta pergunta, mas dados de séries históricas sobre registros meteorológicos no Estado apontam para uma elevação das temperaturas médias, seguindo a tendência global. Quando se fala em mudanças climáticas, quase sempre as reações mais comuns são a incredulidade – pela falta de evidências imediatas, o que mostra uma visão precária do significado dos efeitos do aquecimento global – ou o alarmismo seguido de conformismo – porque as pessoas tendem a acreditar que nada possa ser feito individualmente para frear e minimizar as conseqüências desse processo. Mas como diagnosticar esse tipo de cenário e desmistificar essa realidade?

Em Rio Grande, a pesquisadora Tatiana Silva da Silva faz parte de uma equipe do Departamento de Oceanografia da FURG – Fundação Universidade de Rio Grande – que deu início a um trabalho de grande relevância sobre o assunto, pois atacou questões não apenas de natureza ambiental strictu sensu, mas de ordem socioambiental. Ela reuniu as evidências de mudanças na paisagem natural e os efeitos que tais alterações podem trazer para as comunidades tradicionais que habitam um local da zona Sul do Estado.

O cenário pesquisado é a Ilha dos Marinheiros, localizada numa área de aproximadamente 40 mil quilômetros quadrados, na Lagoa dos Patos, e pertencente ao município de Rio Grande. Compreender a vulnerabilidade da paisagem e dos moradores perante as mudanças foi o principal objetivo do estudo. “Temos quatro etapas neste trabalho: o diagnóstico ambiental detalhado, a geração do modelo de elevação em meios digitais, a análise das taxas de erosão e a determinação de áreas de vulnerabilidade e risco”, explicou a pesquisadora ao público que acompanhou o segundo dia de trabalhos do Seminário “O Rio Grande do Sul no Contexto das Mudanças Climáticas”, na última terça-feira (05/06), no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa gaúcha.

Prejuízo
Com uma topografia plana, a ilha é suscetível ao aumento do nível do mar, especialmente pela presença de diversos aglomerados urbanos, explicou a pesquisadora. Segundo ela, foram mapeadas oito classes de vegetação e verificou-se a redução progressiva dos campos de dunas. “A tendência é eles desaparecerem com a formação progressiva de mantos eólicos”, disse. Imagens obtidas com GPS [Sistema de Posicionamento Global, tecnologia para georreferenciamento] de precisão, perfazendo um total de oito mil pontos, com imprecisão de cinco centímetros, mostram que a ilha passa por um processo erosivo contínuo.

Num cenário de elevação do nível do mar de um metro, haveria uma perda de área correspondente a 69% das matas nativas e 58% das áreas de cultivo (284 hectares), o que significaria um prejuízo de R$ 780 mil por ano, em valores baseados na produção local de Rio Grande. “Isto representaria um colapso na economia local”, alertou Tatiana, ressaltando que mesmo tendo baixo potencial agrícola, o solo da ilha foi bem trabalhado pelos nativos, de modo que atualmente 60% da população local vive, direta ou indiretamente, do cultivo. “Vinte e dois por cento sobrevivem apenas da agricultura, 24% da pesca e 40% de ambas as atividades”, explicou.

Tatiana disse ainda que não é apenas a elevação do nível do mar que potencialmente pode causar vulnerabilidade na ilha, mas eventos catastróficos como enxurradas, que geram alagamento e perda de cultivos. A vulnerabilidade, informou, foi calculada por meio de um algoritmo que considerou variáveis como altitude, vegetação nativa, tendência à erosão do sol, localização de serviços de infra-estrutura e áreas agrícolas. “Temos carência de recursos humanos, tecnológicos e financeiros para o gerenciamento costeiro em nível municipal”, afirmou a pesquisadora, para quem as prefeituras deveriam estar melhor preparadas para enfrentar a questão dos efeitos das mundanças climáticas.

(Por Cláudia Viegas , AmbienteJá, 08/06/2007)

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