Faltam bases de dados para pesquisas sobre bioindicadores frente a mudanças climáticas
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ipcc
2007-06-08
A Fundação Universidade de Rio Grande (FURG) tem a maior base de dados sobre peixes estuarinos em todo o Brasil, com informações de 17 anos sobre o tema. Mesmo assim, “há dificuldade de coleta de dados, e os órgãos ambientais não têm dedicado atenção a esses dados, muitos contêm erros, e falta precisão nas séries temporais”. A observação foi feita pelo doutor em Oceanografia da FURG, Alexandre Garcia, ao apresentar resultados de pesquisas sobre peixes como bioindicadores de mudanças climáticas. O painel, ocorrido na manhã da última terça-feira (05/06), compôs a programação do “O Rio Grande do Sul no Contexto das Mudanças Climáticas”, realizado na Assembléia Legislativa do Estado.
Na pesquisa, Garcia e sua equipe de pesquisadores identificaram e selecionaram espécies de peixes que apresentam respostas frente a anomalias como secas e enchentes, e que pudessem ser indicadores de mudanças climáticas. “Elaboramos material de apoio para os indicadores poderem ser usados por técnicos não especializados”, revelou.
O estudo foi realizado na Lagoa dos Patos, onde observou-se um aumento de temperatura média da ordem de 0,75ºC no século 20.
Eventos extremos
Garcia corroborou informações apresentadas por seu colega da FURG César Bonifácio Costa com relação ao aumento da freqüência de eventos climáticos extremos no Estado. “Temos projeções de que esses eventos se tornem não apenas mais freqüentes, mas mais intensos”, disse. De acordo com ele, El Niño acentua esse quadro previsto porque provoca um bloqueio atmosférico na Região Sul do Brasil, fazendo com que as frentes frias permaneçam por mais tempo. “Há 200 mil quilômetros quadrados de bacia de drenagem no Rio Grande do Sul, o excesso de água é carreado pela Lagoa dos Patos, e a única comunicação com o mar que temos é pelo Porto de Rio Grande”, analisou. Durante os episódios de El Niño, “há um excesso de chuva e baixa salinidade”.
A ictiofauna (peixes) responde de forma diferenciada aos eventos extremos, uma vez que tais respostas dependem também de fatores locais como turbidez, salinidade, marés, temperatura, profundidade, distribuição dos peixes ao longo da costa e outras. Segundo Garcia, a maior parte dos peixes ocorre apenas durante certos períodos do ano no estuário, ou seja, poucos são residentes, como o peixe-boi, por exemplo. “A abundância de peixes reduziu-se com o El Niño de 1997/1998, embora espécies de água doce aumentem em quantidade durante esse fenômeno”, afirmou. Para modelar a pesquisa, foram selecionados grupos de diferentes espécies e trabalhou-se com cenários diferenciados. A grande dificuldade em se estender esse estudo a outros locais, conforme o pesquisador, está na inexistência de bases de dados de longo prazo nos demais estuários do Rio Grande do Sul. “Fica clara a importância de se expandir esse trabalho para os demais estuários”, recomenda.
(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 08/06/2007)