Meticulosa reportagem publicada desde domingo (3/5) por este jornal revela que o Rio Jacuí, patrimônio natural inquestionável do Rio Grande, está sendo vítima de um processo de saque que o empobrece. Empresas de dragagem clandestina de areia, operando especialmente à noite, foram responsáveis pelo sumiço - isto mesmo, sumiço - de 33 praias, 10 pontais, inúmeras enseadas e milhares de árvores ao longo do rio. Não se trata apenas de um processo que, como informam os repórteres Carlos Wagner e Humberto Trezzi, destrói a paisagem e depreda belezas naturais e áreas de lazer. Se o resultado do saque fosse esse, apenas esse, já seria grave o suficiente para exigir ações urgentes e definitivas das autoridades. Os danos, no entanto, são maiores, mais severos e igualmente permanentes. A erosão provocada pelo processo de extração descontrolada de areia teve como resultado riscos para a navegabilidade do rio, prejuízos no abastecimento de água e de energia das cidades e riscos para a própria construção civil.
A situação do Jacuí configura um desastre ecológico que precisa ser investigado e, acima de tudo, interrompido. Os devastadores do ambiente assaltam o futuro de uma riqueza natural insubstituível e de uma via fluvial ainda desaproveitada. Um exemplo desses danos, além da destruição de acidentes naturais referidos, está evidente na Ilha da Paciência, em São Jerônimo. Nela estão plantadas três torres de alta-tensão da Eletrosul ameaçadas de cair porque a areia que as sustenta foi saqueada.
Num momento de preocupações globais com as questões ecológicas, a atenção a nossos rios é não apenas uma questão de solidariedade, é acima de tudo um gesto de defesa e de preservação. Ninguém devolverá as praias e os pontais desaparecidos, mas ainda poderão ser protegidas as riquezas que sobreviveram às dragas ilegais que desafiam a lei e a fiscalização. Polícia, Fepam e demais instituições precisam ser equipadas para cumprir essa tarefa.
(Editorial Zero Hora, 06/06/2007)