O ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, afirmou que o governo vai investir em todas as etapas do ciclo de combustível nuclear. Na prática, a decisão significa investir mais no enriquecimento de urânio, tecnologia que o Brasil domina, mas ainda não utiliza em escala industrial.
Segundo o ministro, o desenvolvimento de tecnologia no CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo) pode ter seu ritmo acelerado. "O presidente Lula disse que não faltarão recursos para concluir a indústria e que não vai ser preciso exportar urânio para gerar divisas e pagar pelo programa", disse, durante a posse do novo presidente da INB (Indústrias Nucleares do Brasil).
A preocupação com o enriquecimento de urânio é uma conseqüência da retomada do Programa Nuclear Brasileiro. Segundo Rezende, já há uma decisão política para a construção de Angra 3 e o governo deve formalizar a intenção na próxima reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), agendada para o dia 25.
Segundo o ministro, como a decisão política já foi tomada, os estudos de impacto ambiental de Angra 3 estão em andamento. O Ibama marcou audiências públicas para apresentação e discussão do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental de Angra 3 nos dias 19, 20 e 21.
A decisão sobre a construção de usinas nucleares depende ainda da definição do local e do porte de cada usina. O governo planeja começar com as de maior porte. A idéia é construir de quatro a oito usinas.
A tecnologia desenvolvida pelo Brasil para enriquecimento é a de centrífugas. Segundo Aquilino Senra, professor do programa de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ, elas funcionam, em sentido figurado, como máquinas de lavar que separam os núcleos do urânio usado para produção de energia. O objetivo inicial dessa tecnologia era fabricar o reator de um submarino nuclear, mas o projeto não foi adiante e por conta disso a tecnologia foi transferida para a INB.
"Essas centrífugas são projetadas para ter enriquecimento máximo de 5%. Se for além desse percentual, a própria instalação corre risco de acidente. Na fabricação de uma bomba de urânio, o enriquecimento teria que ser da ordem de 95%", explicou Senra.
Para o professor, o país esperou um tempo "longo demais" para voltar a investir no enriquecimento e corre o risco de ter tecnologia ultrapassada.
MineraçãoO novo presidente da INB, Alfredo Tranjan, afirmou que o principal desafio da estatal é alcançar a auto-suficiência no ciclo de combustível, desde a mineração até a entrega do elemento combustível para funcionamento nas usinas. A INB tem como meta atender 60% da demanda de enriquecimento de urânio de Angra 1 e 2 até 2010. Hoje, a INB produz 400 toneladas/ano de urânio com a mina de Caetité (BA). A estatal pretende investir na mina de Santa Quitéria (CE), com capacidade de 750 toneladas/ano.
Uma das hipóteses em estudo é a exploração em parceria com agentes do setor privado porque a mina tem fosfato (usado na produção de fertilizantes) e urânio.
Segundo Tranjan, o país rediscute o acordo Brasil-Alemanha. "É uma ampliação do acordo anterior, que focava só na energia nuclear e agora focará em todos os setores de energia." Foi a partir desse acordo que o país definiu os principais investimentos no setor.
(Por Janaína Lage,
Folha de s. Paulo, 06/06/2007)