Ijuí (RS) adia mais uma vez solução para aterro irregular do município
aterros sanitários
política nacional de resíduos
2007-06-06
No passado, bastava todo o lixo ser recolhido pelo Departamento ou empresa responsável pela Limpeza Urbana e pronto. Não existia uma grande preocupação da comunidade em saber onde o lixo ia parar. Via de regra, o destino era um aterro, que na verdade funcionava como um lixão, pois recebia qualquer tipo de resíduo sem distinção alguma. Em Ijuí, cidade localizada no Noroeste do Estado com 79,5 mil habitantes, um aterro irregular serve ainda hoje como destinação do lixo urbano da cidade.
De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Consema), Dóris Montardo, essa situação já motivou uma ação da Promotoria Pública que definiu o cessamento do despejo do lixo na área. "Já era para o lixão ter sido fechado em Abril mas a pedido do Executivo, novamente foi adiada a resolução da questão por mais seis meses". Segundo ela, o argumento é que é preciso mais prazo para terminar o licenciamento da área que a empresa responsável pela coleta e destinação do lixo, a PRT, vai utilizar para destino final da coleta em Ijuí, que se localiza no município de Giruá.
Conforme o secretário municipal de Obras, José Carlos Schirmer, o aterro sanitário de Ijuí teria uma vida útil de mais de 10 anos, mas será fechado devido a um acordo com o Ministério Público. "O nosso aterro sanitário está irregular, ele já foi um aterro modelo quando foi implantado em 1984 dentro dos moldes exigidos na época, mas com o passar dos anos o aterro foi sendo degradado devido à falta de cuidado das administrações", afirma. Ele conta que mesmo tendo sido tomadas medidas enérgicas, não foi possível contornar a situação.
Schirmer relata que em média 32 toneladas de lixo doméstico são recolhidos pela empresa PRT, responsável pelo serviço tercerizado, ao dia, em Ijuí. Ele relata que em 2005 eram coletados 55 toneladas diariamente e que a diferença se deve ao trabalho de catação de lixo ligado ao projeto Amigos do Papel da Secretaria Municipal de Assistência Social, que integra 168 famílias, além da Associação dos Catadores de Ijuí (Acata).
Custo alto
O custo para os munícipes é alto. É pago pela coleta de resíduos sólidos domésticos à PRT na área urbana, incluindo no último contrato firmado neste ano, R$ 52 mil. Para o secretário também é alto o custo para a criação de um novo aterro em Ijuí, entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão. "O município não quer investir nisso, até porque entendemos que um aterro é complicado para administrar". Em função dessa definição, o lixo de Ijuí vai ser transportado a Giruá, cujo custo será acrescido R$ 36 mil. "Nós vamos pagar caro por isso", avalia Schirmer. O contrato é válido por quatro anos e renovável por mais quatro. Ele explica que haverá uma estação de transbordo com o objetivo de selecionar ao máximo o que pode ser reciclado e o restante será colocado numa carreta.
Segundo o gerente operacional da filial da PRT em Ijuí, Roberto Kolm, o lixo é produzido em volume crescente em Ijuí, embora nos últimos cinco anos tenha crescido o número de catadores, somando hoje cerca de 40 toneladas/dia. São cinco equipes, 2 caminhões que demoram dois dias, ao todo 700km para recolher todo o lixo do município. São 20 funcionários, 5 motoristas e 15 coletores. Ele destaca que um dos problemas é que muitas pessoas não sabem diferenciar o que é lixo doméstico. "Por exemplo, lâmpadas fluorescentes não podem ser colocadas para serem recolhidas pelo caminhão", alerta, já que não são aceitas no aterro por conterem material tóxico como o mercúrio.
De acordo com a geóloga Dóris Montardo, na época em foi realizada a última licitação para coleta de lixo, havia a promessa da implantação da Coleta Seletiva, mas que até agora nada foi feito.O secretário Schirmer considera isso um problema cultural. "As pessoas não têm consciência, a gente vê as pessoas jogando lixo toda a hora na rua, sem saber que vai acabar no bueiro, na maior inocência". Como exemplo ele conta que 80% das 80 lixeiras amarelas que foram colocadas na cidade foram destruídas por vândalos. "Mesmo assim vamos recolocar, vamos insistir, queremos criar consciência".
O Ceap está buscando atuar na mudança das consciências e as turmas da sétima série da escola vão confeccionar sacolas em algodão. A idéia é reduzir o consumo de sacolas plásticas. Já na sexta-feira, dia 8, o Comitê pela Vida (braço social da Escola) irá até alguns mercados para vender, a preço de custo, sacolas semelhantes às feitas pelas estudantes identificadas com a logo do projeto Ceap, Sou Eco/Lógico.
Planos do Executivo
A prefeitura vai adquirir uma área, cujo local por enquanto está sendo mantido em sigilo, para evitar a especulação imobiliária, para implantar um depósito de resíduos industrias. O trabalho é fruto de um relatório feito por uma comissão formada por representantes do Executivo, Consema, Crea, ACI. O Executivo será responsável pela regularização, preparação da área e licenciamento junto a Fepam para em seguida passar a administração a uma empresa interessada via licitação. A idéia é que seja recolhido ao local todos os resíduos industriais, da construção civil, além de lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias. Está previsto que o usuário pague uma taxa para depositar algo no local. Ainda não há prazo para o depósito sair do papel, mas o Executivo promete agilidade na implantação do mesmo.
Coleta seletiva
A Associação Ijuiense de Proteção ao Ambiente Natural (Aipan) está convocando os associados e demais interessados a recolherem todo lixo seco produzido em suas casas para destiná-lo a Associação de Catadores de Ijuí (Acata). A idéia visa incentivar a separação do lixo que pode ser reciclado, mesmo que o Poder Público não esteja promovendo a Coleta Seletiva no município, conforme o presidente da entidade, Diego Coimbra. A associação já mantém um acordo de apoio com os catadores, mas quer ampliar a relação. Coimbra lembrou que as escolas do município já realizam um trabalho importante na área como o Ijuizinho, Thomé de Souza, Luiz Fogliatto, Emil Glitz. "Queremos mostrar coerência, ser exemplo de amadurecimento no cuidado com o meio ambiente", diz o presidente da Aipan que contará em breve com uma sede própria.
O engenheiro agrônomo, além do trabalho ligado a organização, é um exemplo de cidadão ecologicamente correto. Coimbra faz a separação do lixo seco do úmido e a compostagem do material orgânico em casa. A vermicompostagem ou minhocário, nos fundos da sua residência, é uma prova que cada pessoa pode ser responsável pela redução do lixo no planeta e como conseqüência dos danos ambientais que esse passivo representa. Ele explica que tudo começa com a separação do lixo na cozinha. "Foi a parte mais difícil, pois é preciso disciplina", destaca. Inclusive Lurdes Makoski que trabalha na casa já se adaptou à rotina.
A cada dia, o lixo orgânico é levado ao pátio, e ao final da semana é colocado num espaço de cerca de 1m2 com centenas de minhocas da espécie Vermelha da Califórnia que se alimentam de restos de comida e vão aos poucos digerindo o material orgânico. O resultado é o húmus, adubo que é utilizado no pátio onde se encontra abacaxi, banana, mamão, entre outras plantas. “Cada cidadão de Ijuí produz em média 400g de material orgânico que poderia ser transformado em adubo e mesmo em condomínios é possível e já há experiências nesse sentido na cidade”. Diego já tem um novo desafio. "Minha próxima experiência será com o papel higiênico".
(Por Janis Loureiro, especial para o Ambiente JÁ, 05/06/2007)