Entidades ambientalistas reforçadas por movimentos sindicais estiveram reunidas ontem (05/06) na sala José Lutzenberger da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul para denunciar o descaso do governo Yeda Crusius com o meio ambiente. Aproveitando o Dia Mundial do Meio Ambiente, as críticas se referiam especialmente às plantações de árvores exóticas em larga escala, principalmente na região do Pampa.
Segundo Rogério Mongelos, da ONG Mira-Serra, o atual governo cede às pressões de grandes grupos empresariais em detrimento da preservação ambiental. Mongelos atua na Serra Gaúcha, onde a ONG mantém uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e reclama da falta de uma política de criação e manutenção de corredores ecológicos na região. “A serra sofre com o avanço das plantações de pinus para indústria moveleira”, lembrou.
Francisco Milanez, conselheiro da Agapan, ressaltou a necessidade de “afinar” os discursos entre os diversos setores organizados da sociedade civil. “É preciso mostrar as incoerências desse governo”, afirmou. O ambientalista citou como exemplo o zoneamento ambiental realizado pela Fepam. De acordo com ele, o documento sempre foi uma prioridade dos técnicos do órgão ambiental. “Curiosamente o maior instrumento de preservação que existe parece não interessar ao governo”, ironizou.
Milanez classificou como incoerência a escolha do Pampa para concentrar os plantios de eucalipto das empresas de celulose. Lembrou que o bioma não tem suporte para plantios massivos e sugeriu a região do Planalto para os projetos das papeleiras. “Ainda que a monocultura seja ruim é uma região mais propícia por estar extremamente degradada”, explicou.
Para o professor da UFRGS e membro da ONG Amigos da Água, Ludwig Buckup, “o Rio Grande do Sul passa por uma crise ambiental através de um desmonte sistemático da gestão ambiental chegando a um estado critico”. Buckup tem sido requisitado para palestrar em diversas partes do Estado. No próximo dia 12 vai participar de uma reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Gabriel, quando vai falar sobre os impactos da monocultura do eucalipto.
Uma das representantes dos movimentos sindicais, a diretora do Semapi, sindicato que reúne os funcionários das fundações gaúchas e Secretária de Políticas Sociais da CUT/RS, Regina Abrahão, lembrou que o atual governo cortou verbas e horas-extras de trabalhadores que realizaram o zoneamento ambiental da Fepam. “Hoje esses trabalhadores estão mobilizados nessa defesa (do zoneamento)”, argumentou. Já o representante da ONG Ingá, Vicente Medaglia, comentou que o descaso do Executivo está servindo, pelo menos, para unificar as lutas dos movimentos que estão preocupados com o futuro. Acrescentou ainda que a desconsideração com a legislação ambiental do atual governo já era prevista mesmo antes da eleição de Yeda Crusius.
AlternativasNa tentativa de combater os argumentos de que faltam alternativas econômicas para a Metade Sul do Estado, Carla Villanova, do Núcleo Amigos da Terra Brasil, lembrou algumas das dezenas de propostas econômicas sugeridas para a Metade Sul durante o I Seminário Internacional Pampa e Sustentabilidade: em busca de alternativas produtivas. Ela recordou que, no evento realizado dia 11 de maio em Pelotas, muitos palestrantes apresentaram sugestões para a região, tida como a mais pobre do Estado. Inácio Beninca, assessor parlamentar da Assembléia Legislativa, falou sobre a criação de cooperativas de agroindústria na Metade Sul, mas que atualmente necessitam de maiores investimentos e incentivos, no sentido de formar novas redes entre os inúmeros agricultores e pecuaristas familiares nela existentes.
Outro participante do evento, Édson Ortiz da Divinut Indústria de Nozes, empresa de Cachoeira do Sul, comentou que existe uma grande demanda desta matéria-prima, nozes pecan, no Brasil, afirmando que o mercado está em expansão. A produção deste tipo de nozes, segundo ele, é uma ótima alternativa de renda ao agricultor da Metade Sul, que quer diversificar seu sistema produtivo. “Usando-se o valor atual de mercado, que é de R$ 4,00/kg, no teto de rendimento da plantação, quando o pomar está com 18 a 20 anos, o produtor rural poderia ter um rendimento de 80 a 100 mil reais /ha/ano”, explicou.
Mais uma alternativa foi apresentada por Juarez Antonio Felipe Pereira de Mariana Pimentel. O agricultor expôs a transformação que vivenciou, ao passar de agricultura convencional à uma agricutura agroecológica. Atualmente, em sua pequena lavoura, conduzida sob o manejo biodinâmico, existem pelo menos sete variedades de arroz, como o cateto. Segundo ele, sua qualidade de vida melhorou muito, pois além de não ter de lidar mais com agrotóxicos, agora executa todo o processo produtivo de arroz, desde a plantação até a comercialização na Feira da Coolméia em Porto Alegre.
O pecuarista Cleomar de Witt, da Leite Sul, relatou seu trabalho de assistência junto a assentamentos de toda região sul do Brasil. Neste, explica, é dada assistência técnica ao agricultor que trabalha na produção de leite, auxiliando o mesmo desde o manejo do campo nativo (como no caso do pastoreio rotativo), nos cuidados com o rebanho, até a comercialização, feita de maneira cooperativada.
Carta Aberta ao Povo GaúchoAo final do encontro, as entidades apresentaram a Carta Aberta ao Povo Gaúcho, na qual apresentam seus descontentamentos com a política ambiental da governadora Yeda Crusius.
Veja a
carta na íntegra.
Ação Civil Pública e protestoAs entidades ambientalistas e sindicatos que assinam a Carta devem entrar na próxima semana com uma ação civil pública no Ministério Público contra o governo do Estado. Ainda não está definido se a ação será encaminhada ao Ministério Público Estadual ou Federal. Segundo alguns presentes ao encontro de ontem, a maior probabilidade é que seja encaminhada ao MPF. “A preocupação com os recursos hídricos deve levar a questão ao nível federal”, disse Buckup. Um protesto no centro de Porto Alegre está marcado para esta quarta-feira. A reunião foi organizada pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do RS (SEMAPI) e pelo NAT/Brasil.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JA, 05/06/2007)