Toda ação gera uma reação. A lei do cientista inglês Isaac Newton pode ser usada para explicar a intensa mobilização pelo meio ambiente, que desde outubro do ano passado toma conta da região. A morte de 85 toneladas de peixes no Rio dos Sinos desencadeou outra postura ambiental. Terça-feira (5/6), Dia Mundial do Meio Ambiente, se percebe que a mortandade despertou a população para a situação do rio, que já estava agonizante.
Municípios e Estado partiram para a busca de soluções para este e outros problemas, como a preservação das matas e aquecimento global. Iniciativas para a proteção do meio ambiente ganharam força e outras surgiram - como a transformação de azeite em óleo combustível, em Montenegro, e mutirões de limpeza de arroios em cidades como Campo Bom e Três Coroas. As escolas ganharam forte argumento para mobilizar os estudantes, entre os quais a ordem é respeitar e preservar.
INVASÃO DE LIXO - Ambientalistas e integrantes de entidades da área afirmam que hoje a questão ambiental é vista com maior responsabilidade do que nas comemorações da data no ano passado, e que o ocorrido no Sinos foi determinante para isso. A situação encontrada na Bacia Hidrográfica do Sinos era preocupante. O rio abastece 1,4 milhão de pessoas, de 32 municípios - que devolvem às suas águas apenas 5% do seu esgoto tratado.
Detritos industriais de centenas de empresas são despejados nas águas. Não bastasse isso, o rio é invadido por lixo: pneus, móveis, garrafas plásticas, peças de automóveis e eletrodomésticos são encontrados nas margens, em praticamente todo o seu leito. Assim, o Sinos se assemelha a um depósito para todos os tipos de lixo. O represamento de água para a irrigação de lavouras agrava a vazão do Sinos, principalmente na parte alta, em Santo Antônio da Patrulha e Caraá (onde estão 80% das lavouras). Tudo isto resultou na lamentável contabilidade: em quatro meses morreram 106 toneladas de peixe. Além das 85 toneladas no dia 8 de outubro, outras 5 morreram no dia 19 do mesmo mês, outras 15 em 16 de dezembro e, dia 4 de janeiro, aproximadamente uma tonelada.
Ações judiciais buscam as responsabilidades: seis empresas já foram denunciadas pelo Ministério Público de Estância Velha e Portão.
Sinos é dividido em cinco trechos
Veio então a reação. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) dividiu a Bacia em cinco trechos, onde 27 municípios passaram a realizar reuniões para juntos desenvolver ações para a recuperação do rio. Foi criado o consórcio PróSinos para que os municípios tenham força Na busca de recursos para a implantação de seus projetos para o tratamento de esgoto. O tema passou a ser debatido por organizações não-governamentais (ONGs), entidades, empresas, clubes de serviço.
Pessoas de todas as idades despertaram para a causa. Estudantes de todas as idades intensificaram projetos de divulgação e proteção à natureza como um todo.
O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) também entrou na mobilização, ao definir como tema de trabalho deste ano Tradição é preservar: MTG e você em defesa do meio ambiente. Com isso entidades tradicionalistas da região estão realizando encontros, palestras e também mutirões de limpeza em arroios e áreas de preservação ambiental. Em busca de novas tecnologias para recuperar o Sinos, uma comitiva do Vale do Sinos esteve na Europa, entre 11 e 19 de maio. Lá, conheceu as técnicas aplicadas na recuperação do Rio Reno.
Comprometimento
A secretária-executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), Viviane Nabinger, acredita que o sacrifício de mais de 100 toneladas de peixes mudou a percepção das pessoas com a questão. “Isso deu uma sacudida em todo mudo. Antes, muitos encaravam o assunto como se fosse algo distante. Hoje não, se viu que o problema é próximo e isso fez com que as pessoas estejam com um novo comportamento e comprometimento”, avalia Viviane.
Responsabilidade
Mudança de atitudes também foi percebida pelo coordenador do Sistema Integrado de Gestão Ambiental (Siga) da Sema, Niro Afonso Pieper. “Hoje as pessoas se deram conta que pequenas ações podem influenciar no todo, e que cada um tem que fazer sua parte. Existe uma postura de responsabilidade muito intensa e isso é muito positivo”, comemora Pieper.
(Jornais VS, NH e DC, 05/06/2007)