Os biocombustíveis não deveriam ser vistos como uma ameaça às camadas mais pobres da população e podem ajudar a aumentar a produção de alimentos, afirmou nesta terça-feira (05/06), um especialista das Nações Unidas. Temores com as mudanças climáticas incentivaram a demanda por combustíveis alternativos na Europa e na América do Norte, mas o investimento nos biocombustíveis é criticado por pessoas que avaliam que esse tipo de energia não é realmente ecológica e que acabará por desviar terras atualmente usadas na produção de comida.
No entanto, o encarregado da política energética da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) disse que o biocombustível está sendo mal avaliado e que, ao invés de ser uma ameaça para os pobres, pode estimular a produção de alimentos e aumentar a riqueza. "Essa é provavelmente a melhor oportunidade, desde a ´revolução verde´, para trazer novos ares de desenvolvimento para as zonas rurais", afirmou Gustavo Best à Reuters. Com o termo "revolução verde", o especialista referia-se ao aumento da produção de alimentos nos países em desenvolvimento, decorrente em parte das novas tecnologias agrícolas adotadas nos anos 60.
"Se bem administrada, a produção de bioenergia pode desenvolver novas áreas... gerando novos investimentos, empregos e infra-estrutura que beneficiariam também o setor alimentício", disse Best. Esse é um "se" importante. A FAO já fez um alerta quanto ao risco do aumento da produção de biocombustíveis para os 854 milhões de pessoas do mundo que passam fome. "A produção de biocombustíveis pode prejudicar a disponibilidade de suprimentos adequados de comida ao desviar terras e outros recursos para longe das plantações", havia alertado o organismo, em estudo divulgado no mês passado.
Os biocombustíveis estão em voga nesta década em grande parte devido às evidências de que as emissões de gás carbônico produzido na queima de combustíveis fósseis - como petróleo, gás natural e carvão - provocam o aquecimento global. Já que plantas como a cana-de-açúcar, milho e palma - matérias-primas do biocombustível - absorvem gás carbônico enquanto crescem, o impacto delas sobre o clima é considerado menor do que o provocado pelos combustíveis tradicionais. Segundo especialistas, se o petróleo bruto for vendido a mais de US$ 40 o barril, o biocombustível pode ser uma alternativa viável. Janeiro de 2005 foi a última vez em que o petróleo ficou abaixo desse patamar.
A demanda por biocombustíveis pode representar uma grande oportunidade para que muitas áreas tropicais, incluindo grandes trechos da África, produzam cana-de-açúcar e sorgo a fim de fabricar etanol, disse Best. "Um dado que todo mundo precisa ter em mente é que os biocombustíveis nunca vão substituir totalmente a gasolina ou o óleo diesel", afirmou o especialista da FAO. "Essa não é uma solução mágica capaz de substituir o petróleo." Best disse ainda não haver provas de que a produção de biocombustíveis tivesse reduzido a oferta de alimentos nos países pobres, mas admitiu que esse é um risco em potencial.
(Reuters, 05/06/2007)