Evento em São Paulo reuniu especialistas para falar sobre mercado de créditos de carbono
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2007-06-05
Foi a partir do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que os países desenvolvidos começaram a discutir o efeito estufa, suas conseqüências e quais ações poderiam ser adotadas para diminuir a emissão de gases nocivos ao planeta. Posteriormente, o tema ganhou força também entre os países em desenvolvimento, com os ambientalistas e cientistas apontando as graves conseqüências do aquecimento global.
Esse alerta fez com que o assunto passasse a ser discutido pela sociedade que começou a repensar suas ações em relação ao planeta e a procurar ações que reduzissem os efeitos das mudanças climáticas. Governo, organizações não-governamentais, instituições financeiras e empresas começam a se estruturar para entenderem e implantarem os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), como é o caso do crédito de carbono. Essas cotas de compensação, atualmente, são comercializadas entre os países industrializados. Cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida, gera um crédito com valores entre US$ 7 e US$ 12.
E esse foi o foco da conferência As Oportunidades e Desafios dos Projetos de Créditos de Carbono no Brasil, que o Senac São Paulo realizou, na semana passada, em São Paulo. O evento reuniu representantes dos Ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, do Greenpeace e de instituições privadas como ABN-AMRO, Banco Sumitomo, Fabrica Ethica, Ecosecurities e Ecoinvest Carbon.
Na pauta de discussão, os desafios, experiências e oportunidades para o desenvolvimento de projetos de MDL no País, que ocupa o terceiro lugar na venda de compensações, atrás da China e Índia. Os participantes enfatizaram os projetos de menores escalas, envolvendo empresas de pequeno e médio porte, além de governo, instituições financeiras e comunidade em geral.
Ao abrir o primeiro painel sobre as implicações nos cenários social, político e econômico que podemos esperar com as mudanças climáticas, Marcelo Furtado, diretor de projetos do Greenpeace Brasil, foi enfático ao falar que o país deve encarar o desafio de metas de redução de emissão. "Hoje, mesmo que parássemos com todas as emissões, ainda agüentaríamos os efeitos por muitas décadas. Uma saída pode estar com a comunidade científica, que tem boas ferramentas para trabalhar contra o aquecimento, mas falta iniciativa política", afirmou.
Já Gustavo Mozzer, assistente técnico do Ministério da Ciência e Tecnologia, ressaltou que o governo brasileiro foi o primeiro no mundo a desenvolver um ministério para cuidar das questões de mudanças do clima. "Apesar de a China estar em primeiro lugar com projetos de MDL, não significa que ela esteja bem perante o mundo, pois muitos dos projetos não chegam a ser registrados na ONU, por falta de credibilidade e avaliação".
Mercado estruturado
A adoção de projetos para compensar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) por grandes empresas leva a estruturação de um novo mercado de oportunidades para consultorias e instituições financeiras que, ao perceberem isso, criaram linhas de crédito para projetos de desenvolvimento limpo, além de servirem como intermediários nas negociações.
O gerente geral do Banco Sumitomo, Hajime Uchida, que faz a intermediação de compra de crédito de carbono entre empresas japonesas e brasileiras, destacou as dificuldades iniciais e as superações no mercado brasileiro. "No início, ninguém sabia o que era MDL. Os empresários japoneses falavam que eu estava tentando vender fumaça do Brasil para eles. Além disso, tivemos que entender e nos adaptar a realidade brasileira. Nesse caminho, nos deparamos com catadores nos lixões e movimentos dos sem-terras, situações que não temos no Japão", destacou Uchida. Mas o empenho deu resultado. O Banco Sumitomo é, atualmente, a principal porta de entrada ao mercado japonês para os empresários brasileiros que desejam colocar em prática ou já detenham projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
A instituição criou um modelo inédito de negociação de crédito de carbono, capaz de reunir num único pacote trabalhos de diferentes portes e áreas, uma vez que as atividades no Brasil compreendem, em sua maioria, projetos de pequena escala, ou seja, eliminam ou minimizam a emissão de alguns milhares de toneladas de carbono ou seu equivalente em outros gases, como metano, por exemplo. O trabalho pioneiro do Sumitomo rendeu-lhe a indicação ao prêmio de sustentabilidade do jornal inglês Financial Times.
Para Antônio Lombardi, gerente para o meio ambiente e mudanças globais do clima do Banco Real ABN - AMRO, no país existe muita oportunidade para o mercado de crédito de carbono, mas pouca gente sabe como fazer. "Precisamos ser conscientes e transformarmos a maneira de fazer negócios no Brasil. Países estrangeiros, como a Europa, se preocupam em comprar produtos limpos. É a nossa chance de reposicionarmos nosso lugar no mundo, com a venda de produtos naturais com valores agregados. Embora o assunto seja novo, as empresas interessadas já possuem várias opções confiáveis na hora de investir nessas ações", destacou Lombardi.
Projetos de pequenas escalas
Segundo Marcelo Rocha, da Fábrica Éthica Brasil, são vários os benefícios obtidos pelas empresas que adotam os projetos de crédito de carbono, desde economia de energia, redução de custos até o acúmulo de receita, através de energia renovável. Para as pequenas e médias empresas, o ideal é que trabalhem em conjunto, dentro de um setor ou de uma região. Para superar o alto custo de estrutura, Marcelo Rocha indica as associações e cooperativas para finalizar o projeto.
Da mesma opinião compartilha Vicente San Valero, gerente de projetos da consultoria RINA. Durante sua apresentação, destacou os benefícios em se investir em projetos de pequenas escalas. "Os custos de transações são menores, a metodologia é simplificada, menor tempo de aprovação e registros, redução de custos operacionais, aumento de eficiência na produção e valor agregado à imagem da empresa".
Cases
Fechando a conferência, Pablo Fernandez, engenheiro da Ecosecurities, e Marco Antônio Mazaferro, técnico comercial da Ecoinvest Carbon, mostraram alguns exemplos de projetos de pequena escala em desenvolvimento no país.
Com 60 projetos já registrados no mundo, a Ecosecurities mostrou o caso da hidrelétrica Incomex, de Rondônia, que uniu três unidades para implantar um único projeto de geração de energia através de combustível renovável. "Essa fonte de eletricidade mais limpa terá um impacto importante na sustentabilidade ambiental, reduzindo as emissões de dióxido de carbono que ocorreriam normalmente na ausência do projeto. A atividade de projeto reduz as emissões de gases de efeito estufa e evita o uso das unidades termelétricas com base em combustível fóssil", afirmou Pablo Fernandez.
Outro caso apresentado pela Ecosecurities foi o da fábrica de papel e celulose Irani, em Vargem Bonita, interior de Santa Catarina.. O projeto aproveita resíduos florestais como matéria-prima para a geração de energia elétrica. "A utilização dos resíduos, gerados na própria fábrica, nos diversos processos de produção de papel e celulose, e nas empresas do entorno, evita a decomposição dos mesmos nos aterros sanitários, e, por conseqüência, a geração do gás metano. Como o gás metano é considerado 21 vezes mais poluente do que o dióxido de carbono, o projeto contribui consideravelmente para a proteção climática", explicou Fernandez.
Já a Ecoinvest Carbon mostrou o caso de 31 granjas da região de Panpanduva (SC) que se reuniram para implantarem biogestores nas lagoas onde são armazenados os dejetos suínos. "A cooperativa já economizou o equivalente a 60 mil toneladas de gás carbônico, por ano, desde 2003, isso sem contar que reduzimos em 21 vezes o gás carbônico emitido na atmosfera. A redução é comprovada e as granjas são certificadas para comercializarem créditos para países desenvolvidos", ressaltou Mazaferro.
Esse foi o primeiro evento promovido pelo Senac São Paulo sobre crédito de carbono, mas de acordo com Ermínio Fernandes, docente do Bacharelado em Administração com linha de formação específica em Gestão Ambiental, do Centro Universitário Senac, a instituição prevê colocar o assunto em pauta nos próximos eventos da área. "Como uma instituição de ensino, nosso objetivo é promover eventos como esse que tragam conhecimento e oportunidades para toda a sociedade".
(InPress PN Assessoria de Comunicação, 04/06/2007)