O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará Nova Délhi nesta tarde sem levar consigo um acordo de cooperação na área de biocombustíveis entre o Brasil e a Índia, hoje o principal parceiro estratégico na Ásia e maior concorrente na liderança da produção mundial de cana-de-açúcar.
Ontem, o governo brasileiro conseguiu apenas iniciar a negociação de um possível acordo, que envolverá a transferência de tecnologia brasileira para o aumento da produtividade no cultivo canavieiro indiano em troca do aumento das exportações de etanol do Brasil para a Índia.
O acordo era dado como certo pelo Itamaraty na semana passada. Mas sua ausência não fez o presidente Lula desistir de ensaiar o enfoque social que sustentará seu apelo em favor da disseminação do uso de biocombustíveis durante a Cúpula do G-8 - grupo dos países mais industrializados, somado à Rússia.
Essa reunião será em Heiligendamm (Alemanha), na próxima sexta-feira. À imprensa brasileira, Lula afirmou que o Brasil não quer monopolizar a oferta mundial de biocombustíveis e prefere 'incentivar' as nações mais pobres a plantar cana-de-açúcar e transformá-la em etanol ou biodiesel.
'O Brasil não quer fornecer para todo o mundo', afirmou. 'Se o mundo inteiro começar a utilizar 10% de álcool junto com o biodiesel, imagina o que você não vai produzir em Minas, na terrinha', afirmou, dirigindo-se a um repórter mineiro. 'Se depender do meu entusiasmo, todo mundo vai entrar na era do biocombustível', completou.
Mistura
A primeira discussão de um eventual acordo Brasil-Índia sobre biocombustíveis deu-se na suíte do presidente Lula, em um luxuoso hotel de Nova Délhi, e envolveu o ministro de Petróleo e Gás da Índia, Murli Deora, e o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Nessa etapa inicial, o Brasil pleiteou à Índia a expansão da atual mistura de 5% de álcool na gasolina a todo o seu território ou o aumento desse nível para 10% nos nove Estados que já a aplicam.
O ministro Deora apontou o interesse na elevação da produtividade do cultivo de cana-de-açúcar na Índia, a partir da cooperação técnica do Brasil. Mas deixou claro que qualquer decisão nessa área dependerá de três fatores, ainda inexistentes: a disponibilidade de oferta de etanol, a criação de uma logística de transporte e o acesso ao mercado consumidor.
'Esse é um processo demorado. Do ponto de vista mundial, só haverá mudança substancial com a definição de uma regulamentação internacional do setor e com a consolidação de várias fontes supridoras', justificou Gabrielli.
Segundo maior produtor mundial de cana em 2006, a Índia colheu 244,8 milhões de toneladas em uma área de 4,1 milhões de hectares - produtividade de 59,71 toneladas por hectare. O Brasil ficou na frente, embora a tendência é perder a liderança na produção total para a Índia nos próximos anos.
A produção brasileira alcançou 440 milhões de toneladas na safra 2005-2006, em uma área de 5,4 milhões de hectares. Em termos de produtividade, o Brasil continua à frente, com 75,3 milhões de toneladas por hectare.
(Por Denise Chrispim Marin, Estado de S. Paulo, 05/06/2007)