Brasília - Reaproveitar resíduos transformando-os em oportunidades de negócios. Esse é o propósito do 'Programa Capixaba de Materiais Reaproveitáveis', desenvolvido no Espírito Santo pelo Sebrae e parceiros. Por meio do projeto, são atendidas aproximadamente 80 catadores, 15 empresas de materiais reaproveitáveis e dez empresas em fase de incubação.
Segundo a gestora do projeto no Sebrae/ES, Célia Perin, o programa não apenas faz bem ao meio ambiente, como também traz benefícios aos participantes. "Com o programa, estruturamos as associações de catadores, fizemos treinamento com eles e campanhas educativas com a população. No final, toda a comunidade sai ganhando", diz.
Uma das ações desse programa foi a implantação, em janeiro deste ano, da Incubalix. Trata-se de incubadora com foco em econegócio. A Incubalix é um departamento do Instituto Marca Ambiental, parceiro do Sebrae no projeto. No fim de junho, será lançado edital para chamar empreendedores que queiram incubar seus negócios.
Atualmente, há diversos projetos incubados e alguns já são comercializados. Entre eles, as 'Vassouras 100% PET', fabricadas a partir de garrafas de refrigerante. O PET é usado para a confecção das cerdas. O gerente-executivo do Instituto e coordenador da incubadora, Antônio Reis, explica que essa produção possibilita a criação de postos de trabalho e gera renda para a região.
"É uma idéia simples que além de contribuir com o meio ambiente, pois faz a reciclagem de resíduos, gera trabalho e renda", diz. As vassouras já são comercializadas para diversas empresas da região e principalmente para prefeituras. Esse foi um projeto premiado pelo governo do Estado em 2004, com o Prêmio Ecologia.
Com a reciclagem, também são fabricadas telhas ecológicas. A matéria-prima desse produto é constituída por capas de fios (polipropileno), e outros tipos de plásticos, como o policloreto de vinila. Para formar a telha, esse material é comprimido em uma prensa termohidráulica.. Para completar o ciclo ecologicamente correto, a prensa usa como fonte de energia o biogás, proveniente das células do aterro sanitário da Marca Ambiental.
Na Incubalix, há também o tijolo ecológico. Sua base é areia e a confecção é feita por meio de prensas manuais. "Não há a necessidade do uso de forno na produção desse tijolo", ressalta Antônio. Os tijolos têm um sistema de encaixe, o que possibilita montá-los sem o uso de argamassa.
Outro negócio desenvolvido na incubadora é a fábrica de sacolas plásticas. Elas são produzidas a partir de descartes plásticos pós-industriais. A capacidade de produção dessa fábrica gira em torno de 200 mil sacolas por mês. Segundo Antônio, esses produtos também já são comercializados. As sacolas são usadas principalmente para colocar lixo e para mudas de plantas.
Mais uma forma de inovar no uso de materiais descartados é a produção de tinta. Para produzi-la, são utilizados resíduos do beneficiamento de rochas ornamentais, como o mármore e o granito. A coloração da tinta é obtida com o uso de corantes naturais. O projeto prevê a aplicação dessas tintas na pintura de casas populares.
Do óleo de cozinha ao biocombustívelNa incubadora, há ainda o projeto de reciclagem de óleo de fritura para a produção de biodiesel, chamado de Biomarca. O coordenador do projeto, Humberto Martins, conta que essa idéia nasceu há dois anos por causa da necessidade de ser criado um destino adequado ao óleo de fritura gerado em bares, restaurantes, cozinhas industriais, hotéis, condomínios e residências.
Segundo Humberto, pesquisas apontam que os brasileiros consomem aproximadamente 3 bilhões de litros de óleo de cozinha por ano. No Espírito Santo, esse consumo é de aproximadamente 150 milhões. Depois de usado, parte desse óleo é jogado na rede de drenagem pluvial e rede de esgoto. Isso acarreta aumento do custo no tratamento dessas redes em até 45% e também causa o entupimento das tubulações.
Alguns estudos indicam que apenas um litro de óleo é suficiente para contaminar até 1 milhão de litros de água, o equivalente ao consumo de um ser humano por 14 anos. "Com o projeto, esse óleo de fritura poderia ser reutilizado de forma inteligente na produção de biodiesel, gerando renda e reduzindo os impactos ambientais", ressalta Humberto.
O primeiro passo para viabilizar esse projeto já foi dado com a coleta de óleo de fritura residual. O litro desse material é comprado a R$ 0,20. "Além do pagamento, os parceiros recebem um certificado ambiental de coleta do óleo, um selo de qualidade para expor no estabelecimento e ainda podem ajudar instituições filantrópicas com a doação desse dinheiro", explica Humberto.
Em outubro, deve começar a produção dessa combustível. Será implantada uma microrrefinaria de biodiesel modular que terá capacidade inicial de produzir 30 mil litros desse combustível por mês. O biodiesel gerado será usado inicialmente no centro de tratamento de resíduos da Marca Ambiental.
Também haverá o reaproveitamento do subproduto desse combustível, o glicerol. Cerca de 4,5 mil litros dessa glicerina bruta gerada por mês será utilizada na fabricação de sabão. Haverá também a produção de cerca de 4 mil litros de álcool hidratado recuperado que será usado pelos automóveis da Marca Ambiental.
A instalação da usina vai propiciar também uma economia na emissão anual de gás carbônico. Essa economia será de 971,280 mil quilos de CO2 por ano. "Essa economia corresponde a 32 mil árvores no seqüestro de carbono", diz Humberto.
(Por Giovana Perfeito,
Marca Ambiental, 04/06/2007)