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manguezais
2007-06-05

Na Tailândia se constrói uma fazenda de camarões cortando florestas de mangue, obtém-se cerca de US$ 8 mil por hectare. No entanto, a destruição da floresta e a contaminação provocarão uma perda de ecossistemas no valor de US$ 35 mil por hectare ao ano. Muitos políticos e importantes instituições que trabalham pelo desenvolvimento ainda não compreendem que esta implacável exploração em busca de lucro a curto prazo pode disparar um colapso como o da companhia Enron, só que da “Terra S/A.”, afirmam especialistas. Por exemplo, o Banco Mundial e outras agências econômicas para o desenvolvimento entregaram um empréstimo de US$ 100 mil a um produtor de camarões para desmatar mais mangues.

 

Todas as economias dependem do capital natural que estende dentro de suas terras, águas, florestas e arrecifes, mas freqüentemente os humanos os tratam como se tivessem pouco valor ou fossem inesgotáveis. “Até agora, os ser humano explora o capital natural para maximizar a produção de alimentos, madeira, petróleo e minerais à custa do solo, da água e da biodiversidade”, disse à IPS Janet Ranganathan, diretora de População e Ecossistemas do Instituto para os Recursos Mundiais (WRI), com sede em Washington.

 

“Habitualmente, apenas umas poucas pessoas se beneficiam desta exploração”, afirmou Ranganathan, co-autora de um novo informe intitulado “Restaurar o capital natural: Uma agenda de ação para manter os serviços dos ecossistemas”. Pior ainda é que esta aproximação com a natureza é extremamente destrutiva e de curto prazo, acrescentou. Desde 1980, quase 35% dos mangues costeiros do mundo foram cortados, na maioria dos casos para dar mais espaço à produção de camarão. O Vietnã, por exemplo, perdeu cerca de 80% de seus mangues costeiros em operações desse tipo.

 

Mais de 280 mil pessoas morreram vítimas do tsunami, causado por um sismo submarino de nove graus na escala Richter, que ocorreu dia 26 de dezembro de 2004 no oceano Índico. Esta catástrofe representou uma ampla evidência de quanto os mangues podem proteger ou pelo menos servir de barrira às comunidades contra os piores impactos das grandes ondas e das tempestades. Infelizmente, esse particular “serviço” não é captado ou valorizado pelo mercado, disse Ranganathan.

 

O mercado tampouco valoriza o papel vital desempenhado pelos mangues como habitat para a vida marinha, crucial para a saúde de reservas pesqueiras, ou a ajuda que dão filtrando os contaminantes que, por outro lado, protegem os arrecifes de coral, outros importantes celeiros de peixes. Também são ignorados os substanciais benefícios econômicos que geram ao impedir a erosão da linha costeira que ameaça muitos países, como a Tailândia, sendo que em algumas áreas dessa linha se retira 25 metros por ano.

 

Os serviços da natureza, tão reais quanto qualquer prato de camarões, simplesmente ficam fora do atual sistema econômico. Também são ignorados os custos ambientais e sociais de cultivar camarão, como a contaminação da água, a degradação da terra e os impactos nos pescadores locais. “Os estudos mostram que as fazendas de camarão no sul da Tailândia têm vida útil de apenas cinco anos. Se valorizássemos os ecossistemas de forma adequada, isso mudaria o modo como tomamos decisões em matéria de desenvolvimento”, afirmou Ranganathan. Depois de cinco anos, a água está muito contaminada para prosseguir a criação de camarões, e isto se estende pela costa.

 

Tais operações costumam ser subsidiadas direta e indiretamente com rendas sobre a terra, impostos e inclusive concessões e empréstimos para o desenvolvimento. Quando os custos reais da aqüicultura do camarão são levados em conta, seu valor é de US$ 5.443 por hectare, segundo uma análise. Por outro lado, o valor real para a sociedade dos mangues intactos é de US$ 35.696 por hectare. Embora o valor real dos ecossistemas e dos serviços que proporcionam às vezes possam ser difíceis de calcular, o fato é que não são zero, ressaltou a ativista.

 

Há alguns anos a cidade de Nova York fez alguns cálculos. A água de torneira local nunca passou por uma estação filtradora e é considerada entre as de melhor qualidade disponível em qualquer cidade dos Estados Unidos. No final dos anos 80, em lugar de construir uma estação de tratamento de águas no valor de US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões, a cidade decidiu que era melhor e muito mais barato proteger e restaurar a fonte de seu fornecimento hídrico, as florestas e os mangues Catskill/Delaware. O custo total foi de US$ 1,5 bilhão. E isso sem desprezar o considerável valor dos serviços adicionais que as áreas protegidas proporcionam em termos de recreação humana, melhor qualidade do ar e seqüestro de carbono.

 

Tristemente, este enfoque é muito incomum, como evidenciou a Avaliação de Ecossistemas do Milênio, primeira auditoria cientifica global do capital natural da Terra. Em 2005, este estudo mostrou que 15 dos 24 serviços de ecossistemas do mundo são degradados ou usados de maneira insustentável. Em termos empresariais, isso significou que quase dois terços das divisões examinadas da “companhia” estão no vermelho. Somente quatro são lucrativas, enquanto outras cinco mostraram resultados combinados no aspecto regional.

 

Claramente, “Terra S/A” está em grandes problemas. As melhorias tecnológicas e a modernização não resgatarão nosso planeta do esgotamento de capital natural, disse Eugene Rosa, professor de recursos naturais e políticas ambientais da Universidad do Estado de Washington. Rosa e seus colegas desenvolveram um modelo científico chamado Stirpat para avaliar as interações humanas no meio ambiente. Eles determinaram que o capital natural continuará sua acentuada queda devido ao crescimento da população do consumo.

 

Inclusive, mesmo se os países quadruplicarem sua eficiência em matéria de energia e uso de recursos, não restará suficiente capital natural intacto para continuar com os negócios como de costume, afirmou Rosa em uma entrevista. “Este realmente não é um resultado surpreendente, mas houve pouco debate sobre população e padrões de consumo”, acrescentou. Os estilos de vida norte-americano e europeu simplesmente não são sustentáveis, ressaltou. Outras análises expõem a necessidade de quatro ou cinco planetas mais no caso de todos os cidadãos da Terra viverem como o norte-americano médio.

 

E não se deve esquecer que a mudança climática – causada pela emissão de enormes quantidades de carbono geradas a partir da queima de combustíveis fósseis – é outro custo que tem um importante impacto nos serviços do ecossistema. “A cidade de Lima, por exemplo, é totalmente dependente da água gerada pelo derretimento de glaciais”, afirmou Jonathan Lash, presidente do WRI. Mas, “os glaciais já não existirão dentro de 20 anos”, afirmou em uma declaração escrita.

 

As soluções para Lima, como um aqueduto até o rio Amazonas ou construção de usinas de dessalinização intensivas, também são vulneráveis às mudanças no clima. Lash pediu urgência para se centrar m como a mudança climática está alterando os serviços do ecossistema. Reverter está empresa mal administrada e explorada, a “Terra S/A”, será uma enorme tarefa, que exigirá fundamentalmente novos enfoques para administrar seus bens preciosos e reduzidos “dos quais depende toda a vida”, conclui o informe da WR. Agora, a pergunta é se a humanidade está pronta e disposta a aceitar essas mudanças fundamentais.

(Por Stephen Leahy, IPS, 01/06/2007)

 


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