O governo do Estado de São Paulo e a Unica (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar) assinaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para acabar com as queimadas nas áreas de cana-de-açúcar até 2017.
Segundo o governador de São Paulo, José Serra, o objetivo é chegar a 2014 com 100% da área mecanizada sem queimadas e com apenas 440 mil hectares de queimadas referente às áreas não mecanizadas --aquelas cujo desnível impede o acesso de máquinas. "Em 2017, todas as áreas deverão ser colhidas sem queimadas. Pela legislação atual, isso só ocorreria em 2031", disse o governador, durante evento em São Paulo.
Em 2006, segundo Serra, dos 3,9 milhões de hectares de cana-de-açúcar plantados no Estado, 2,5 milhões foram queimados, ou 10% do território total de São Paulo. Essas queimadas, de acordo com o governador, geraram 750 mil toneladas de fuligem. "Estamos confrontando isso com a saúde de dezenas de milhões de pessoas. São Paulo é o único Estado onde 10% do território é queimado", disse.
As empresas que se adequarem ao TAC receberão um certificado de conformidade ambiental. "As empresas que não se adequarem terão problemas com as autoridades e com o Estado", ameaçou Serra.
Em relação a uma possível redução dos empregos gerados, uma vez que isso acabaria com os cortadores de cana-de-açúcar, Serra disse que o setor terá que se adequar. "É um setor que está se expandindo e gerando empregos, inclusive em outros Estados. Temos que aumentar o treinamento e a qualificação da mão-de-obra. A expansão do emprego terá que ocorrer através de outras alternativas como a alcoolquímica e na produção de equipamentos. Essa é uma mudança estrutural", afirmou.
ProduçãoSerra afirmou que o Estado de São Paulo deve aumentar a produtividade da cana-de-açúcar, sem ampliar a área plantada. "Não queremos mais aumentar nossa área plantada. Temos que aumentar a produção ampliando a produtividade. Os Estados vizinhos a São Paulo podem absorver essa demanda por novas áreas", disse o governador.
Serra afirmou que é possível aumentar a produtividade da cana-de-açúcar em 50% com o desenvolvimento de novas espécies e novas tecnologias de produção e colheita, elevando de 6.000 para 9.000 litros de álcool por hectare.
Ele lembrou que o Estado de São Paulo detém dois terços da produção de álcool e etanol do Brasil e 75% das exportações do produto. "O plantio da cana utiliza cerca de 16% do território do Estado, o que representa 4,2 milhões de hectares. Apenas 900 mil hectares foram colhidos sem queimadas." Os números são da safra deste ano.
O governador também criticou as taxas de importação impostas ao álcool brasileiro em outros países. Segundo ele, se o mundo utilizasse 10% de etanol na gasolina, seria necessário aumentar a produção conjunta dos Estados Unidos e do Brasil em cerca de 22 vezes.
"Isso dá uma dimensão do potencial que o setor tem. No entanto, o Japão, por exemplo, não irá ampliar o uso do álcool na gasolina se não tiver garantia de fornecimento", afirmou Serra defendendo a transformação do álcool em commodity. "Para isso, precisamos que 30 ou 40 países participem da produção do álcool", afirmou.
Serra criticou a atual taxa de câmbio, dizendo que isso atrapalha todo o setor. "O custo do setor devido apenas com salários aumentou entre 40% e 45% devido ao câmbio nos últimos anos. Se os trabalhadores estivessem recebendo mais, tudo bem, mas não é isso que ocorre. Isso corrói a competitividade até de um setor altamente competitivo como o sucroalcooleiro."
(Márcio Rodrigues,
Folha Online, 04/06/2007)