O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou as propostas do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de iniciar negociações paralelas globais para combater a mudança climática, informa ontem (04/06) o jornal "The Guardian".
Em entrevista ao jornal britânico durante sua visita na sexta-feira (01/6) a Londres, Lula afirmou que os países chegaram a um acordo sobre o clima nas Nações Unidas e não sob a liderança dos EUA. O presidente disse que o Brasil nem sequer foi informado de que Bush contemplava um novo marco de negociação antes do anúncio da última quinta-feira (31/05).
O presidente dos Estados Unidos propôs que os países que mais poluem no mundo determinem antes de 2009 uma meta a longo prazo para as emissões de gases relacionados ao efeito estufa.
"A posição do Brasil é clara. [...] Não posso aceitar a idéia de que temos de criar outro grupo para discutir os mesmos assuntos que discutimos em Kyoto e não foram cumpridos", disse Lula. "Se existe um fórum multilateral [pela ONU] que toma uma decisão democrática, [...] então nós deveríamos trabalhar para cumprir essas regras em vez de simplesmente dizer que não estamos de acordo com Kyoto e que vamos criar outra instituição", ressaltou.
O "Guardian" comenta que a administração Bush quer Lula como aliado, já que o presidente brasileiro é visto como uma alternativa de centro-esquerda na América Latina contra o antiamericanismo dos presidentes de Cuba e da Venezuela, respectivamente Fidel Castro e Hugo Chávez.
Lula qualificou a posição de Bush de "voluntarismo", em referência ao ponto de vista de que os atos dos Estados Unidos se baseiam nas nações, em detrimento das instituições globais estabelecidas e dos compromissos vinculativos, assinala o jornal britânico.
"Não podemos permitir que o voluntarismo supere o multilateralismo", afirmou Lula. "Estou aberto para conversar com o presidente Bush. [...] Nunca me negarei a discutir uma idéia, mas deveríamos respeitar as decisões que foram tomadas nos foros multilaterais."
"Se os EUA são o país que mais contribui para os gases do efeito estufa no mundo, deveriam assumir mais responsabilidades para reduzir as emissões", completou
O "Guardian" lembra que Lula será um dos presidentes dos países em desenvolvimento que se unirão nesta semana à cúpula do G8, na Alemanha.
Em relação à Rodada de Doha de comércio, Lula disse que o momento decisivo chegará nas próximas semanas. "Acho que algo tem de acontecer neste mês. Se nada acontecer, entraremos para a história como uma geração de políticos que falhou com a humanidade, especialmente com os pobres", disse o presidente.
"Se não houver um acordo na rodada de Doha, será inútil falar sobre luta contra o terrorismo e inútil combater o crime organizado, porque a pobreza é a principal semente para o crescimento do terrorismo", acrescentou.
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Folha Online, 04/06/2007)