O Brasil é um dos países que tem um dos maiores potenciais de aproveitamento da energia solar do mundo, mas essa fonte natural e praticamente inesgotável ainda é pouco utilizada em nossa economia. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Energias Renováveis e Meio Ambiente (Abeama), Ruberval Baldini, que pede maior participação do governo federal para criar incentivos ao uso desse tipo de energia.
"É preciso decisão governamental de apoiar mais a energia solar. O foco em energia solar nunca esteve presente neste governo nem nos anteriores. Nós temos uma insolação que é a segunda maior do mundo, mas no uso estamos bem abaixo de outros países, que têm menor recursos que a gente", afirmou Baldini.
Para ele, o país precisa avançar no uso das energias renováveis. O ambientalista diz que a energia solar ficou esquecida. "Houve momentos em que se criaram vários projetos, mas programas como o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas) não prevêem energia solar. Há programas dentro da Eletrobrás, como o Procel, mas ainda é incipiente. Porque não há uma conscientização de que a energia solar pode ser utilizada pelo cidadão comum."
Baldini explica que o potencial maior, no momento, é o de utilizar a energia do sol para o aquecimento de água, que pode substituir os chuveiros elétricos nas residências e as caldeiras em hotéis e clubes. No caso das placas de energia solar fotovoltaica (que geram energia elétrica), ele reconhece que o investimento é maior e que a aplicação é localizada, com uso favorável em localidades isoladas, longe das linhas de transmissão de energia elétrica.
Porém, o ambientalista diz que a maior barreira para o uso dos painéis fotovoltaicos é o custo, apesar do país já dominar a tecnologia e ser um dos maiores produtores da matéria-prima básica dos equipamentos, o silício.
"A base do produto é o silício e o Brasil é o maior produtor de silício do mundo. Nós exportamos silício e importamos em forma de chip e equipamentos eletrônicos. Temos que comprar painéis solares lá fora, a partir do silício que fabricamos, o que torna tudo mais caro." Segundo ele, as fábricas no Brasil são apenas de painéis solares térmicos e não há produção de painel fotovoltaicos.
Atualmente, estima, o custo para instalar um sistema de aquecimento solar que atenda uma família de quatro pessoas gira entre R$ 2,5 mil a R$ 3,5 mil. "O custo inicial de instalar um painel solar térmico é alto. Mas se você pegasse um financiamento a taxa zero, pois o país está economizando energia, deixando de construir uma nova Itaipu, isso se torna viável."
Ruberval Baldini afirma que a única forma de popularizar os painéis solares é dividir o custo em muitas parcelas, o que seria equivalente ao valor que o consumidor paga pelo gasto de energia elétrica mensal: "Deveria haver uma campanha de concessão de crédito direto ao consumidor, que poderia pagar em 36 vezes".
Faltam campanhas de incentivo ao uso da energia solar, que deveria começar nas escolas, diz: "Em países como Alemanha, Espanha e Japão houve incentivos para dar capacitação econômica para a população comprar e hoje os painéis solares são realidades por lá".
"A energia solar não se insere fortemente devido a uma questão de política, de definição. Se forem reduzidos os impostos nesses equipamentos, se houver incentivo às indústrias e for oferecida a dedução no Imposto de Renda à compra dos sistemas, como já foi feito em outros países, haverá incentivo para todos irem em busca da energia solar", conclui.
(Por Vladimir Platonow,
Agência Brasil, 04/06/2007)