O assoreamento decorrente de uso de produtos agrícolas de forma errônea e a poluição resultante da falta de saneamento básico são os principais problemas que recaem sobre os rios Jaguarão e Piratini. Não há estudos que comprovem a poluição química, mas ainda assim o monitoramento da qualidade da água é permanente. Quem faz esse trabalho é o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Mirim São Gonçalo.
A profundidade dos rios varia desde poucos centímetros em períodos de seca, a ultrapassagens da seção normal, em períodos de cheias, inundando grandes áreas e causando sérios danos econômicos, problemas sociais e de saúde pública. Em maio deste ano, o Jaguarão subiu 3,5 metros e atingiu as casas situadas nas imediações do Iate Clube e do Presídio Municipal.
O rio Jaguarão, que divide o município de Rio Branco, a vizinha cidade uruguaia, tem extensão de 270 quilômetros, com nascentes entre Hulha Negra e Candiota, e foz na Lagoa Mirim. O Piratini possui aproximadamente 200 quilômetros, com nascentes entre Pinheiro Machado e Piratini, e foz no canal São Gonçalo. Foram a base do povoamento da Zona Sul, pelo fornecimento de água, saneamento, transporte, irrigação, dessedentação animal e para uso da indústria, mineração, entre outros.
As chuvas fortes registradas em abril foram um alento para os 125 pescadores do rio Jaguarão. Depois da precipitação o peixe voltou a aparecer. No entanto, a mudança climática continuou a interferir no resultado da pesca. A temperatura fria, conforme o presidente do Sindicato, Olimar Jesus Ferreira Porto, faz com que a captura caia de 30% a 40%, pois baixa a produção.
Vilmar Batista, 66 anos, integra a comunidade ribeirinha e relata que quando o rio transbordou, em maio deste ano, as casas foram inundadas. “Mas aí veio peixe”, destacou. Natural de Jaguarão, mas criado em Rio Branco, o pescador Mário Oliveira, 53 anos, mora do outro lado da fronteira, onde tem peixaria própria. Sai toda a segunda-feira e só volta para casa no sábado. Já enfrentou muitas intempéries, mas o maior susto tomou quando um temporal atingiu fortemente seu barco. “Só sobrou eu, meu colega e o motor”, assegurou.
O maior vilão para quem está na água, no inverno, é o frio. Oliveira conta que certa vez, às 6h, chegou a tomar álcool puro para se aquecer. E ele jura que não é história de pescador.
“Faço parte da água”
Pescador profissional há 20 anos, Sérgio Corrêa, 67 anos, sempre morou na beira do rio. “Faço parte da água”, disse, orgulhoso. O que não gosta é da falta de consciência: “Tem gente que se pudesse liquidar tudo num dia, o fazia; atiram lixo na água, pegam peixes que nem desovaram, é um absurdo”. Corrêa nasceu em Jaguarão. Seus pais, uruguaios, mudaram-se para o outro lado há mais de 50 anos.
(Diário Popular, 04/06/2007)