A lavoura de milho transgênico detectada pelo Ministério da Agricultura em São Borja é um caso isolado nas avaliações do órgão. A irregularidade foi identificada no ano passado pela superintendência da pasta no Estado e confirmada na última sexta-feira (1/6) pelo titular da representação, Francisco Signor.
Devido à baixa produtividade encontrada nas sementes modificadas, o milho transgênico não teria se disseminado no Estado. Chefe de fiscalização da superintendência do ministério no Estado, Mauro Ruggiro relata que a lavoura, cujo proprietário foi multado em R$ 62 mil, apresentava deficiências, com plantas desuniformes e grãos muito pequenos. O plantio foi feito por um pequeno agricultor, que ainda não pagou a multa e tem direito a uma segunda defesa administrativa, já que o primeiro recurso foi indeferido.
- Temos gente trabalhando em vários municípios e o que se ouve é que o milho transgênico não deu certo. Fizemos dezenas de fiscalizações e só uma deu positivo - afirma Ruggiro.
A lavoura transgênica modificada apresentava resistência a herbicida - mesma característica da soja transgênica plantada há mais de 10 anos no Estado. Ou seja, quando aplicado o produto sobre o milho, a planta resiste, e morrem apenas as invasoras, as ervas daninhas.
- A baixa produtividade fez com que o atrativo do milho transgênico não tivesse sido como o da soja (modificada). Além disso, a expectativa maior dos produtores de milho é com relação ao controle de pragas (variedades transgênicas que combatem insetos) - afirma Signor.
Disseminação não é simples como no caso da soja
Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, o caso de São Borja foi apenas "uma aventura de um produtor". Ele acrescenta que a disseminação das sementes modificadas de milho é muito mais difícil do que a das de soja. Isso porque, no caso do cereal, a boa produtividade reside no caráter híbrido e, para se obter sementes híbridas, é preciso um cruzamento dirigido. No caso da soja, o grão transgênico pode ser colhido e usado diretamente para semente, sem perdas significativa na produtividade.
- Inicia-se no Brasil o processo de oficialização de uma variedade transgênica e abre-se assim o caminho para que outras sejam legalizadas. Recomendamos portanto muita cautela e que os produtores aguardem isso, até porque as sementes (convencionais) que há no mercado são de alto potencial produtivo - afirma Sperotto.
A variedade transgênica liberada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é da Bayer e resistente ao herbicida glufosinato de amônia. A legalização ainda depende de aprovação na Comissão Nacional de Biotecnologia e do Ministério da Agricultura. Outras variedades ainda estão na CTNBio.
No rastro da ilegalidade
2005
Novembro - O deputado Frei Sérgio (PT) denuncia entrada de sementes de milho transgênico no Estado.
Dezembro - Zero Hora identifica produtores que plantam milho transgênico. O Ministério da Agricultura inicia ofensiva em lavouras e agropecuárias. Encontrado pequeno percentual de transgenia em amostra coletada em agropecuária de Santo Ângelo. Carga de milho com pequeno percentual de transgenia vinda do Paraguai é impedida de entrar no país por Uruguaiana.
2006
Janeiro - É coletada amostra de lavoura em São Borja que posteriormente, na metade de 2006, daria resultado positivo, segundo exame de um laboratório de Santos (SP).
2007
Maio - Aprovada pela CTNBio primeira variedade de milho transgênico do país.
Junho - Ministério da Agricultura confirma que o exame feito em meados do ano passado em lavoura de São Borja revelou transgenia.
(Zero Hora, 04/06/2007)