Um edital para projetos binacionais na área de energias renováveis deverá ser lançado no dia 1º de junho de 2008 pelo Conselho Científico Brasil-Índia. Os dois países também poderão fechar acordo na área de biocombustíveis durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Índia. O presidente chegou a Nova Delhi às 8h30 deste domingo (3/06) – meia noite de sábado (2) pelo horário de Brasília. Ele fica até terça-feira (5/06) na capital indiana, em visita de Estado.
Brasil e Índia firmaram acordo de cooperação científica e tecnológica em setembro do ano passado, durante a 1ª Reunião de Chefes de Estado e de Governo do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas), em Brasília. A bioenergia é uma das sete áreas definidas pelos dois países como prioritárias para cooperação científico-tecnológica. Os demais segmentos são ciências moleculares e de materiais, nanociências; ciências biomédicas e biotecnologia, ciências físicas e matemáticas, ciências da computação e ciências do mar. “O Brasil pode ganhar muita coisa com essa parceria”, garante Paulo de Góes Filho, assessor de Relações Internacionais da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A instituição assessora o governo federal na implementação das ações acordadas entre os dois países na área científico-tecnológica.
Na área de bioenergia, a parceria Brasil-Índia é estratégica no sentido de criação de um mercado mundial para os biocombustíveis. “Não adianta que um país detenha o monopólio da produção de determinado combustível, como o etanol derivado de cana”, afirma o professor. “Para o etanol se transformar em uma commodity internacional há necessidade de que mais de um país participe do comércio internacional, e a Índia é o segundo produtor de cana do mundo, depois do Brasil”, avalia.
Primeiro passo nesse sentido já havia sido dado em 2002, quando os dois países assinaram memorando de entendimento para cooperação tecnológica na área de mistura de etanol em combustíveis para transportes. Em 2006, durante a Cúpula do Ibas, Brasil, Índia e áfrica do Sul comprometeram-se a facilitar a transferência tecnológica e a promoção da produção e do consumo de biocombustíveis com vistas a estabelecer um mercado mundial de biocombustíveis, em particular etanol e biodiesel.
Segundo Paulo de Góes, a parceria irá além da transferência de tecnologia brasileira da produção de etanol para a Índia. Incluiria o desenvolvimento de tecnologias avançadas pelo país asiático – como o biocombustível produzido a partir da celulose. “É extremamente importante para a gente que eles invistam tanto na área científica quanto na área tecnológica. O investimento que a Índia fez nos últimos 30 ou 40 anos foi extremamente significativo e eles têm uma comunidade científica altamente qualificada”, afirma. As perspectivas em outras áreas também são grandes. Na área de ciências e biotecnologia, por exemplo, Brasil e Índia pretendem realizar pesquisas conjuntas em vacinas, doenças infecciosas e doenças virais. Em computação, há previsão de cooperação em redes de ampla distribuição, sistemas gráficos e de segurança.
De acordo com o professor, a Índia está à frente do Brasil na área de computação, enquanto o Brasil se destaca na área de saúde. Em nanotecnologia, ambos têm experiências importantes. A partir da abertura dos editais, instituições de pesquisa dos dois países terão três meses para apresentar propostas conjuntas para análise por um comitê científico. Os projetos serão selecionados até o fim do ano e serão desenvolvidos pelo período de um a três anos. “Já se vai começar a colher frutos disso no ano que vem”, acredita o assessor de Relações Iinternacionais da Academia Brasileira de Ciências.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 04/06/2007)