Quarta-feira à tarde. Como de costume, a central de atendimento do Corpo de Bombeiros recebia inúmeras chamadas a todo instante, a maioria delas de pouca urgência. Por volta das 17h, porém, os agentes se depararam com uma ocorrência, no mínimo, inusitada. Tratava-se de uma senhora moradora do Vale do Igapó (um conjunto de chácaras situado na região sudeste do município), cujo quintal teria sido invadido por um macaco-prego.
Solícitos, os bombeiros se deslocaram até o local da suposta “invasão de domicílio” e constataram que o macaco não era uma invenção da mulher. Empoleirado sobre o galho de uma árvore, ele saboreava uma banana que havia sido oferecida pela própria dona da casa.
Aparentemente tranqüilo, o animal não fez conta da presença dos agentes. Nem mesmo a agitação provocada pela chegada da viatura foi capaz de tirar-lhe a concentração. Para evitar problemas, os bombeiros decidiram não mexer com o macaco. Eles aguardaram, pacientemente, enquanto o primata (de aproximadamente 30 centímetros de altura) fazia sua refeição.
Terminada a banana, o “visitante” se levantou do poleiro e saiu saltitando de galho em galho, até finalmente desaparecer em meio à vegetação densa. Ocorrido há poucos dias, esse fato está longe de representar um evento isolado.
Na verdade, relatos envolvendo animais silvestres são muito comuns entre os habitantes da cidade que não tem limites e expandiu suas fronteiras para o interior das áreas de vegetação nativa. Hoje, a maioria dos “contatos imediatos” costuma ocorrer em bairros da zona leste, como Parque Manchester, Tangarás, Núcleo Geisel e condomínios localizados ao redor do campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
E não é para menos: afinal, a região em questão conta com uma das maiores reservas de Cerrado de todo o Estado (mais de 800 hectares contínuos de vegetação que incluem alguns trechos de Mata Atlântica).
Tamanduás-mirins, tucanos, cobras e quatis são fáceis de ser avistados no lugar. De vez em quando, mesmo bichos mais raros, como cachorros-do-mato, veados, pacas e cotias, chegam a ser encontrados.
Ultimamente, aliás, a região leste da cidade tem sido “invadida” pelos sagüis. Alguns anos atrás, eles eram cerca de 20 indivíduos. A oferta abundante de alimentação (disponibilizada, em grande parte, pelos próprios moradores dessas áreas) permitiu que essa população registrasse um crescimento espantoso.
Estudiosos calculam que já existam quase 500 sagüis vivendo nessa parte da cidade. O espantoso dessa história é que, até o momento, quase não há registro de incidentes envolvendo esses animais.
Não que a situação possa ser considerada ideal. As duas espécies de sagüis que estão se proliferando na zona leste (do tufo-branco e do tufo-preto) não são naturais de Bauru. Estudiosos temem que esse crescimento populacional exagerado possa comprometer a sobrevivência de animais nativos da região. É que os pequenos macacos costumam invadir ninhos de aves para se alimentar com ovos e filhotes.
Além disso, especialistas ainda não estão certos sobre os riscos que o contato com os sagüis pode trazer à saúde dos seres humanos (e vice-versa). A preocupação não deixa de ter fundamento, haja vista que a leishmaniose - considerada a principal dor de cabeça das autoridades sanitárias do município, nos últimos anos - contou com a “colaboração” de animais silvestres, como o gambá, para se espalhar no meio urbano.
Convivendo relativamente próximos aos seres humanos, os animais silvestres também ficam sujeitos a perigos de outras naturezas. Tornam-se presa fácil para comerciantes ilegais de bichos, por exemplo.
De 2004 até hoje, a Polícia Ambiental registrou 527 casos de posse irregular de animais silvestres por particulares. Destas, 411 foram referentes a pássaros. As 116 restantes se dividiram entre mamíferos, anfíbios e répteis.
“A maioria das ocorrências que atendemos costuma envolver animais nativos da nossa região”, afirma o capitão Marcelo Sanches, comandante da 2.ª Companhia do 2.º Batalhão da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo, que engloba Bauru e mais 38 municípios, numa área de aproximadamente 17 mil quilômetros quadrados.
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Jornal da Cidade de Bauru, 03/06/2007)