A produção de biodiesel é considerada prioritária pelo governo federal. O combustível, produzido a partir de óleos vegetais extraídos de diversas matérias-primas – como palma, mamona, soja, girassol e outras oleaginosas –, é elaborado a partir da mistura do biodiesel puro com óleo diesel comum ou aditivado. Atualmente, essa mistura é de 2%, mas o governo espera aumentar para 5% até o ano que vem.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já anunciou publicamente que a alternativa é uma oportunidade de desenvolvimento para o Nordeste. Para Arnoldo de Campos, coordenador-geral de Agregação de Valor e Renda do Ministério de Desenvolvimento Agrário, o que propicia toda essa confiança é o fato de a experiência do biodiesel no país ter nascido em um contexto bem diferente do início do álcool combustível no país, durante a primeira grande crise do petróleo, na década de 1970.
“Hoje em dia, o álcool como alternativa de combustível atingiu sua fase de maturidade e o país alcançou a autonomia na produção de petróleo. Além disso, o Brasil consome 40 bilhões de litros de diesel por ano, o que representa cerca de 60% de todo o combustível consumido no país”, analisou Campos, que falou sobre biodiesel e inclusão social durante o 1º Encontro Nacional de Novas Fontes de Energia, na quinta-feira (31/5), no Rio de Janeiro.
A estratégia do governo federal, segundo Campos, está voltada para um mercado de combustível compatível com a realidade brasileira. A idéia é impactar a renda das famílias que trabalham no campo. “A tradição brasileira infelizmente dissocia o ambiente, o social e a economia. Quando uma política é voltada para o lado social, ela não consegue discutir o lado econômico. Quando formulamos uma política voltada para a economia, temos dificuldade de contemplar o fator social e o ambiental, e assim por diante”, disse à Agência FAPESP.
“Nosso desafio é exatamente identificar o papel das fontes alternativas de energia na agricultura familiar. Esse combustível tem que conseguir promover ampla inclusão social de pequenos produtores e o desenvolvimento de regiões mais carentes do país, diferentemente do álcool, cuja produção está extremamente concentrada na região Sudeste”, afirmou o economista.
Segundo ele, quase 40% do que é produzido no campo é feito em pequenas propriedades. E o objetivo é utilizar esses produtos no desenvolvimento de combustíveis alternativos, como o biodiesel. “São quase 17 milhões de trabalhadores em 100 milhões de hectares de terra. Esperamos contemplar 350 mil famílias até 2010”, destacou.
De acordo com dados apresentados no encontro, atualmente a mamona (51%) e a soja (32%) são as matérias-primas mais utilizadas na produção do biodiesel. “Devido ao custo mais baixo, a mamona é forte candidata para concorrer com a soja como principal matéria-prima, seguidas pelo dendê e pelo amendoim. Soja e girassol têm apresentado preços muito altos”, disse Campos.
Para o coordenador-geral de Agregação de Valor e Renda do Ministério de Desenvolvimento Agrário, em breve o país poderá chegar a um cenário de auto-suficiência energética. “Outros países, como Estados Unidos e Japão, estão bem menos tranqüilos do que o Brasil. Os europeus têm manifestado interesse em constituir empreendimentos no Brasil no ramo do biodiesel pensando no mercado interno e principalmente no mercado externo.” Segundo Campos, o completo sucesso da implantação do biodiesel depende ainda de superar alguns obstáculos, como a resistência da indústria automobilística ao uso do combustível em seus carros e as restrições econômicas de outros países.
(Por Washington Castilhos,
Agência Fapesp, 01/06/2007)