O Ministério de Minas e Energia estuda incluir no Plano Decenal de Energia que deverá ser divulgado em junho, a possibilidade de uso de 100% de biodiesel (B 100) na frota dos produtores de soja, informou hoje o superintendente de Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Gelson Baptista Serva, em apresentação para executivos do setor na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Segundo ele, projeção realizada pela EPE indica que se todos os produtores de soja substituíssem o diesel fóssil pelo óleo vegetal, seriam necessários 6 bilhões de litros anuais. "É claro que não estamos falando de 100% de caminhões usando esse componente, mas sim uma alternativa para a redução do uso de óleo diesel fóssil, que hoje é importado pelo país", disse.
Atualmente, apenas a bistura B2, ou seja, 2% de óleo vegetal na fórmula de óleo diesel, é autorizada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a previsão é de elevar esta mistura até 5% a partir de 2013. Apesar disso, a mistura B 100 já vem sendo usada clandestinamente por produtores de soja da região Centro-Oeste. "Apesar do preço do óleo de soja estar alto, acaba compensando para o produtor o seu uso nos caminhões e máquinas agrícolas, porque o combustível acaba saindo sem impostos e muito mais em conta do que o óleo diesel", afirmou.
Diesel fóssilOutra possibilidade estudada pelo governo, disse Serva, é de substituição do diesel fóssil por biodiesel nas usinas termelétricas existentes nos sistemas isolados da região Norte. A idéia, explicou, seria incentivar o cultivo da palma, que é propícia para a região amazônica, utilizando apenas as áreas já desmatadas.
Estimativa feita pela EPE aponta que seriam necessários 1 bilhão de litros de biodiesel para abastecer as térmicas do sistema isolado e o custo do combustível sairia por R$ 2,05 o litro, ante o diesel comprado hoje para abastecer as usinas, que é de R$ 2,08. "É claro que esse diesel é compensado pelo pagamento da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) na conta do consumidor nacional. Esse tipo de subsídio teria que ser reestudado", disse.
Segundo ele, apesar de haver críticas à utilização da área desmatada na Amazônia para essa finalidade, o número de hectares seria mínimo. Segundo cálculos da EPE hoje existem 50 milhões de hectares desmatados possíveis de serem ocupados pelo cultivo, mas para abastecer todo o sistema isolado de geração de energia elétrica da região Norte seriam necessários apenas 200 mil hectares.
"Apenas para se ter uma idéia, mesmo que utilizássemos B100 em toda a frota nacional, poderíamos ocupar com a palma, que tem produtividade acima das outras oleaginosas, um total de 7,35 milhões de hectares dessa floresta", considerou.
(Por Kelly Lima,
Agência Estado,31/05/2007)