Papéis, restos de madeira, caixas de leite, peças de carro danificadas e até o ferro de passar roupa velho. Pelas mãos de artesãos mineiros, materiais que antes iriam parar no lixo agora são transformados em peças de artesanato.
"A preocupação com o meio ambiente tem despertado a criação de produtos inovadores e originais que estão ganhando mercado. No Estado existem grupos de artesãos que produzem 90% das peças com material reciclado", explica a coordenadora do Projeto Artesanato do Sebrae em Minas, Sabrina Albuquerque.
Reaproveitar o que não tem mais serventia virou um desafio para Willi de Oliveira, que cria miniaturas utilizando caixas de fósforo vazias e retalhos de madeira. "Antigamente fazia maquetes para cenários de teatro. Com o tempo e a ajuda de uma oficina do Sebrae tive a oportunidade de desenvolver minha criatividade. Com as caixinhas faço, cenas de festas populares, como o Carnaval e as Congadas, e com as sobras de madeira, monto os personagens", explica o artesão.
O investimento ecologicamente correto deu certo. "Vendo as caixinhas por R$ 60 cada. Dependendo do tema, demoro um dia inteiro para fazer uma peça", conta. Outros materiais reutilizados por Willi são os rolos que sobram dos papéis higiênico, restos de laminado e até de fita adesiva.
O artesão transforma esses materiais em ostensórios – objetos onde se ostenta a hóstia consagrada – e imagens sacras. As peças demoram quase três dias para serem feitas e chegam a custar R$ 250.
Valor estético e socialNo Catálogo Artesanato de Minas Gerais 2005/2006, lançado no ano passado pelo Sebrae, objetos do Projeto Tzedaká, desenvolvido pela Prefeitura de Belo Horizonte, destacaram-se pelo valor estético e social. Cerca de 60 jovens desenvolveram técnicas de produção com o papel reciclado e com embalagens cartonadas (como as caixas de leite longa vida).
"São adolescentes em situação de risco social que aprenderam desde a processo de reciclagem até a montagem de agendas, convites, porta-retratos. O projeto gera trabalho e renda para catadores de materiais reciclados ligados a doze cooperativas de Belo Horizonte, além de reduzir o lixo que vai para o aterro sanitário", informa a coordenadora do projeto, Nícia Mafra.
Até o ferro elétrico estragado serve de matéria-prima para o artesanato. Em Curvelo e Araçuaí, 80 adolescentes de baixa renda da Cooperativa Dedo de Gente reproduzem personagens, animais e paisagens descritas por Guimarães Rosa utilizando sucata de ferro. "É um resgate cultural, que envolve fatores econômicos, sociais e o compromisso ambiental", conta a gerente administrativa da cooperativa, Aline Fabrícia de Souza.
De olho no mercado externo, Simone de Oliveira produz luminárias com filtros de café usado. Ela foi uma das vencedoras, no ano passado, do Prêmio Top 100 Artesanato, promovido pelo Sebrae para destacar as cem melhores unidades produtivas do setor no Brasil.
Depois de pesquisar outros tipos de papel como matéria-prima, Simone percebeu que o filtro oferecia um efeito luminoso diferenciado. "O material é tingido com o próprio pigmento do café e depois entrelaço o material com as grades de ferro, o que dá uma estética especial aos produtos", conta a artesã, que participará em julho deste ano de uma feira na Inglaterra.
(Por Simone Guedes, da
Agência Sebrae, 01/06/2007)