Marcada pelo acidente em Chernobyl, a energia nuclear foi satanizada por longo tempo. Mas nos últimos anos, passou a ter o apoio de alguns renomados ambientalistas. Afinal, era ruim e deixou de ser?
Enéas Salati, ambientalista favorável a este recurso, Farhang Sefidvash, professor da UFRGS, e Guilherme Leonardi, do Greenpeace, contrário a esta fonte de energia, dão
suas opiniões:
Por que a energia nuclear tem sido defendida por alguns ambientalistas?
Salati - Sua grande vantagem é não emitir poluentes como o dióxido de carbono (CO²), principal responsável pelo aquecimento global. Por isso, ela tem sido considerada a solução imediata para as mudanças climáticas, mais sérias do que os rejeitos nucleares.
O que é feito com esses rejeitos nucleares?
Salati - Fundem-se os rejeitos em forma de tijolos dentro de vidros, nos quais o material fica preso. Arranjar um lugar para eles é um problema técnico, que em alguns lugares está resolvido.
A energia nuclear é mais limpa que a hidrelétrica?
Salati - Não. Energia gerada por usinas hidrelétricas é muito melhor, mas está no limite. Praticamente não há mais locais onde possam ser instaladas novas usinas.
Quais são os pontos negativos da energia nuclear?
Sefidvash - Por menor que seja, há a possibilidade de um acidente. O reator pode esquentar demais e derreter o revestimento do combustível, liberando materiais que contaminam o ambiente. Outro problema são os resíduos nucleares, que precisam ser estocados.
E as energias alternativas - como eólica, solar e biomassa?
Sefidvash - São maravilhosas, mas a demanda de energia está aumentando e as fontes alternativas poderão fornecer no máximo 10% desse total. A eólica, por exemplo, não é viável em todos os locais, e a solar não é ideal para todos os propósitos.
Mas as duas usinas brasileiras - Angra 1 e Angra 2 - geram pouco mais de 2% da energia consumida no país, não?
Sefidvash - No Brasil, o consumo de energia é muito alto. Se os dois reatores estivessem no Uruguai, por exemplo, forneceriam toda a energia do país e ainda sobraria.
Por que o Greenpeace é contra a energia nuclear?
Leonardi - Com os R$ 7,4 bilhões para Angra 3 se constrói um parque eólico
com o dobro da capacidade. Além disso, existem usinas nucleares há pelo menos 60 anos e não se achou solução para os rejeitos. Por último, sua utilização facilita a proliferação nuclear.
Há perigo para quem mora perto de uma usina?
Leonardi - Sempre há um risco de um vazamento de radiação que demore a ser detectado.
Para o Greenpeace, os mortos em em decorrência de Chernobyl, em 1986, chegam a no mínimo 200 mil. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), são no máximo 4 mil. Por que?
Leonardi - Se houver um acidente em Angra, por exemplo, pesquisar vítimas apenas em torno da usina é uma coisa. Se procurarem em outros lugares, o número vai aumentar.
(Caderno Ambiente,
Zero Hora, 31/05/2007