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2007-05-31
A grande e merecida atenção que a sociedade brasileira está dando aos novos escândalos nessa que é uma indesejada e criminosa parceria público-privada tirou o foco de outras preocupações nacionais. Neste sentido, merece ser destacada a necessidade brasileira de dar atenção a questões como a do gargalo energético. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, deu um exemplo de como o problema da energia já está interferindo no crescimento projetado do país.

Disse ele que sua empresa, uma das maiores do Brasil por qualquer critério, não consegue "planejar nada a partir de 2011, 2012, porque não há recursos energéticos suficientes para isso". A declaração é apenas um exemplo de como o país precisa movimentar-se se quiser efetivamente conquistar padrões de crescimento como os que dariam o esperado salto da economia.

O tema não é novo. Ao contrário, por motivos diversos, tem estado recentemente nas manchetes dos jornais, seja pela falta de planejamento do setor público, seja pelas limitações ambientais, seja pela instabilidade legal e regulatória, seja ainda pelo
crescimento da demanda. A crise do apagão, no início deste século, propiciou algumas lições que não podem ser esquecidas.

Mostrou que descuidos, omissões ou erros de cálculo nessa área cobram um preço que se mede em oportunidades perdidas e em percentuais de PIB. A energia passou a ser uma questão de sobrevivência, enfatiza um dirigente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia Elétrica. O simples fato de existirem associações como essa revela a crucial importância da energia. Além disso, o longo tempo necessário para a maturação de investimentos em plantas energéticas desafia os estrategistas e planejadores do país. Sem o salto energético não haverá o salto do crescimento. Sem um planejamento sério e competente não haverá salto energético.

Estão na pauta dos debates sobre esse tema algumas questões graves. As duas usinas do Rio Madeira, que integram o atual planejamento energético, ainda não foram leiloadas por não terem licença prévia autorizada pelo Ibama. Os técnicos alertam que, dado o período hidrológico do rio, se essa licença não for emitida nas próximas semanas, toda a obra terá o atraso de um ano. A opção por usinas de gás enfrenta a insuficiência desse combustível,ampliada pela instabilidade nas relações com a
Bolívia. As demais fontes vão na contramão da preocupação mundial com o efeito estufa. Até a tão discutida e polêmica energia nuclear acaba sendo oficialmente resgatada com a decisão de concluir a Usina de Angra 3. Mesmo que o governo aparente tranqüilidade e qualifique de exagerados os temores das empresas, o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, afirma que os alertas estão sendo responsavelmente levados em conta.

A política energética não é tarefa de um ou dois mandatos. Ela envolve preocupações permanentes que exigem planejamento que transcende governos e se projeta como compromisso de gerações. O atual governo e a atual geração não podem falhar.

(Editorial Zero Hora, 31/05/2007)

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