O consórcio formado por Furnas e Odebrecht para o projeto de usinas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia, entende que o Ibama não tem mais dúvidas em relação ao empreendimento e aguarda para breve a liberação de uma licença prévia.
O consórcio teme, porém, a possibilidade de que exigências extras sejam feitas, o que inviabilizaria a inclusão da obra no leilão de energia previsto para junho. Se não entrar neste próximo leilão, o projeto pode sofrer atraso para o início das operações, previsto pra 2012.
"Para o sucesso do leilão precisa ser uma licença prévia qualificada, ou seja, que não venha acompanhada de exigências que não poderão ser cumpridas", alertou o diretor de investimentos em infra-estrutura da Odebrecht Irineu Meireles, em entevista à Reuters.
Depois de responder em mais de 300 páginas as 68 perguntas adicionais do Ibama, que em abril divulgou parecer técnico com várias exigências para liberar a obra, a Odebrecht busca agora sócios para a próxima etapa de construção.
"Estamos fazendo um 'road-show' para captar sócios junto a fundos de pensão, de investimento, indústrias", informou Meireles, sem citar nomes.
As usinas de rio Madeira, Santo Antonio --que será a primeira a ser licitada-- e Jirau, irão gerar 6,5 mil megawatts e deverão custar 22 bilhões de reais, na avaliação do consórcio, e quase 30 bilhões de reais na visão de alguns especialistas. Serão instaladas 44 turbinas em cada usina.
Odebrecht e Furnas informaram que já gastaram, desde 2001, 130 milhões de reais para obter a licença prévia do projeto, custo que deve subir em mais 20 milhões de reais para obter a licença de instalação, último passo para a construção das usinas.
"A gente atendeu a todas as perguntas com os melhores técnicos possíveis e entregamos as respostas na semana retrasada. Agora o Ibama está avaliando", disse Meireles.
No Ibama, apesar da greve, a informação é de que a avaliação de rio Madeira não foi interrompida, mas não há previsão de resposta. "Está sob avaliação", disse um assessor do órgão.
As principais dúvidas, como a preservação dos peixes da região, a concentração de sedimentos, a possibilidade de aumento de casos de malária e de contaminação por mercúrio foram explicadas, segundo Meireles.
O projeto de Madeira vai seguir algumas soluções encontradas pela usina hidrelétrica de Itaipu, que instalou um canal de peixes para garantir a rota natural de acasalamento e desova.
No caso dos sedimentos que poderiam se acumular nos rios, a explicação do consórcio é de que, como a velocidade da água do rio não será alterada, os sedimentos não serão depositados no fundo da usina, como se teme.
Testes feitos na região também demonstraram a existência de um volume baixo de mercúrio, segundo Meireles, e por exigência do Ibama a qualidade da água será monitorada.
A construção das usinas de rio Madeira fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e são consideradas fundamentais para sustentar o crescimento do país. Na avaliação de especialistas, se a obra não for realizada será necessário injetar 700 megawatts no sistema por usinas térmicas a partir de 2012.
De acordo com estudo de órgãos do próprio governo, sem o projeto de rio Madeira a matriz energética brasileira poderia sair dos atuais 84 por cento de hidrelétricas e 15 por cento de térmicas para 64 por cento de hidrelétricas e 34 por cento de térmicas em 2012, o que poderia aumentar a emissão de poluentes na atmosfera.
(Por Denise Luna,
Reuters, 30/05/2007)