A pizza vai ter de voltar para o forno. A superintendência no Rio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) adiantou ontem (30/05) ao Jornal do Brasil que, independentemente de análise do relatório disciplinar que absolveu 12 envolvidos na Operação Euterpe, vai pedir à presidência do órgão em Brasília a revisão de todo o processo. O superintendente regional do Ibama, Rogério Rocco, disse ontem que conversou com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e com o presidente do Ibama, Bazileu Alves Margarido, sobre a reportagem publicada no sábado pelo Jornal do Brasil.
- Eles manifestaram preocupação com esse resultado - disse Rocco. - Admito que fiquei surpreso, pois acreditava que havia uma possibilidade, mesmo que remota, de que alguns servidores da lista dos presos na Operação Euterpe serem absolvidos nos processos administrativos disciplinares - afirmou Rocco, acrescentando: - Alguns destes servidores, realmente, apareceram como surpresa na relação de presos e outros não eram tão freqüentes nas denúncias que recebíamos. Mas absolver 12 deles, tendo alguns que freqüentemente eram denunciados como corruptos, realmente foi uma péssima surpresa.
Na edição de sábado, o Jornal do Brasil revelou que o processo administrativo disciplinar, medida interna do Ibama em relação aos 27 presos na Operação Euterpe, tinha absolvido servidores que estavam com diversas provas no inquérito da Polícia Federal, conduzido pelo delegado Alexandre Saraiva. Um dos servidores foi absolvido mesmo havendo depoimento formal de testemunha informando que havia sofrido um achaque de R$ 15 mil. A Operação Euterpe desmontou, em agosto e setembro do ano passado, um esquema de extorsões de fiscais do Ibama a empresários. Quantias que chegavam a R$ 100 mil eram cobradas para acelerar processos de licenciamento ambiental.
O processo administrativo realizado dentro da instituição, presidido por um procurador da Advocacia-Geral da União, desqualificou o depoimento de dois presos, Jediel de Castro e Rafael Francisco Santoro .
Como revelou o Jornal do Brasil, os dois presos haviam conseguido o benefício da delação premiada por causa das mesmas informações que acabaram desqualificadas pelo procurador. O delegado Alexandre Saraiva, da PF, não quis opinar sobre a decisão do processo interno, mas deixou claro na semana passada que "ninguém foi preso só por causa de testemunhos".
- Há escutas telefônicas, filmagens, provas grafotécnicas, depoimentos diversos - disse Saraiva. - Os responsáveis pelo processo disciplinar do Ibama pediram as nossas provas, nós as encaminhamos, mas não acredito que nenhuma delas tenha sido usada - disse o delegado.
Um dos trechos do relatório interno absolve o fiscal Alcidésio dos Santos Bonfini. "Não há, nos autos, qualquer indício de que haja o servidor Alcidésio dos Santos Bonfini participado de possíveis negociações com empresários. As declarações do senhor A.C.P. (testemunha) confirmam o entendimento do colegiado (...)".
No entanto, o JB teve acesso ao depoimento citado no qual a testemunha afirma exatamente o contrário: que o fiscal tentou extorquir R$ 15 mil.
(Por Gustavo de Almeida,
Jornal do Brasil, 31/05/2007)