Apesar das boas intenções, a proibição de comércio de espécies ameaçadas de extinção pode ter exatamente o efeito oposto de seus objetivos e aumentar perigosamente a pressão sobre elas. Entre o momento em que a restrição é proposta e o momento em que ela de fato entra em vigor, a exploração atinge picos alarmantes, alertam pesquisadores franceses em um artigo na revista científica britânica “Nature”.
Desde 1975 a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (ou “Cites”, na sigla em inglês) divide cerca de 33.600 plantas e animais em perigo em três categorias. No Apêndice I ficam aquelas que é proibido comercializar, por causa da ameaça de exitinção. Ao todo, mais ou menos 800 espécies estão nessa categoria. No Apêndice II estão a maioria, 32.500, que têm seu comércio controlado através de licenças especiais. Por fim, no Apêndice III estão espécies protegidas em pelo menos um país, que pede a ajuda da Convenção para que outros países colaborem na conservação.
No começo de junho, entre os dias 5 e 13, os membros da Cites vão se reunir para discutir, entre outros assuntos, a classificação de diversas espécies. No encontro, o Brasil promete pedir controle para o comércio de lagostas e defender a restrição à caça de baleias - um dos pontos mais delicados da reunião, porque o Japão quer flexibilizar essas regras. Na “Nature”, Philippe Rivalan, da Universidade Paris-Sud, pede que os membros da Cites tomem cuidado com as decisões que vão tomar em junho. Em um estudo feito entre 1980 e 2003, sua equipe analisou o comércio de 46 espécies em três momentos: antes da apresentação da proposta de restringir o comércio, durante a apreciação da proposta e depois que ela é aprovada e entra em vigor.
Depois que a proibição é definida, de fato, o comércio cai significativamente, afirma Rivalan. O problema ocorre cerca de um ano antes da restrição entrar em vigor, no chamado “período de transição” entre a apresentação da proposta e sua aceitação – que pode levar de 240 a 420 dias. No caso das tartarugas-egípcias, por exemplo, o pico de atividade observado correspondeu ao comércio de 2.800 animais – metade de todos os que sobraram no mundo.
O cientista francês diz que há duas saídas para o problema. Ou eles restringem mais as permissões de comércio no período de transição ou trabalham melhor com as espécies do Apêndice II para evitar que elas subam para o Apêndice I. “A Cites pode ter mais chances de sucesso se espécies comercialmente importantes fossem incluídas no Apêndice II em um ponto em que ainda houvesse tempo para melhorar a conservação”, aconselha ele.
(Por Marília Juste, Globo Online, 31/05/2007)