Após dois dias de conflito, o impasse na Fazenda Campo Grande, interior de Rio Negrinho, terminou terça-feira (29/05) à noite. Na segunda, trabalhadores ligados ao Movimento dos Sem-terra (MST) impediram a retirada de pínus da área. A extração das 200 mil árvores ocorre desde o ano passado. Foi garantida por acordo firmado entre o Incra e os antigos donos da fazenda, já desapropriada e destinada à reforma agrária. Manifestantes pedem agilidade no loteamento, reclamam da falta de alimentos e de roupas quentes para o inverno.
Alegando abandono pelo Incra, os sem-terra resolveram mostrar a situação precária em que vivem. Segundo um dos líderes do acampamento, Antônio Chernhak, as cestas básicas que deveriam sustentar as 500 pessoas por um mês não duram uma semana.
Com o impasse, cerca de 80 funcionários ficaram parados. Dez caminhões, tratores e equipamentos para corte do pínus ficaram retidos pelos acampados até terça à noite. Quem trabalhava no momento da abordagem dos sem-terra disse que a ação foi pacífica.
Com a chegada de Fernando de Souza, do INCRA, a situação se resolveu. Acompanhado por 30 policiais militares e civis, ele protagonizou o momento mais tenso. Decidiu entrar sozinho na fazenda para conversar com os sem-terra. Cerca de 1h30 depois, retornou e disse que tudo estava resolvido.
Por volta das 20 horas, os portões foram abertos e a madeira retirada pelo dono da área. Para amenizar a situação dos acampados, Souza disse que haverá incremento na quantidade de cestas básicas.
Drama de 300 crianças que sobrevivem no localAtualmente, 65 famílias na fazenda. O projeto do Incra é assentar até 80 famílias no local, onde cada um terá direito a seis alqueires de terra (em torno de 15 campos de futebol). São mais de 300 de crianças morando lá. Grande parte estuda em uma escola improvisada com lonas. Poucos estudam em colégios da rede municipal, e pelo menos 30 crianças nem escola tem. Como o solo é pobre para a agricultura, os sem-terra precisam de calcário para garantir o crescimento da safra. Pretendem iniciar o plantio ainda neste ano.
Com o frio intenso dos últimos dias e com poucas roupas e cobertores, crianças dormem empilhadas nas camas. A famílias são numerosas, e a comida, escassa. Carne, somente uma vez a cada três meses, quando as galinhas crescem e são abatidas. Como na fazenda não há luz elétrica, a carne não pode ser conservada por muito tempo.
Quem quiser pode ajudar às famílias enviando roupas e alimentos para a Secretaria da Família de Rio Negrinho. Fone (47) 3644-2233.
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A Notícia, 31/05/2007)