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2007-05-31

A mudança climática ameaça, de acordo com ambientalistas, a sul-africana Região Floral do Cabo, declarada patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esta área, localizada na província de Cabo Ocidental, compreende oito zonas protegidas que, no total, somam 5.530 quilômetros quadrados. Este “reino floral”, um dos seis do mundo assim classificados por sua peculiar vegetação, figura entre as zonas de maior biodiversidade da Terra. Abriga mais de 7.700 espécies de plantas, 70% exclusivas, explicou Gavin Manveldt, do Departamento de Biodiversidade da Conservação na Universidade de Cabo Ocidental.

É comum referir-se à vida vegetal da região como fynbos, que significa arbustos magníficos em afrikaans, o dialeto falado pelos colonizadores holandeses. “Os fynbos se reduzirão à metade em cerca de 50 anos. Perderemos muitas espécies nas áreas com a maior densidade mundial de espécies vegetais por hectare, disse o biólogo Gerhard Verdoorn, diretor-executivo da não-governamental BirdLife South Africa. “Também haverá uma redução da área total de fynbos”, lamentou.

Além disso, outras formas de vida serão afetadas, especialmente as formigas que conduzem sob a terra certas sementes de fynbos, processo essencial para a germinação. “As formigas que são únicas dos fynbos serão perdidas. E sem elas a sobrevivência de muitas das plantas está seriamente ameaçada”, disse Verdoorn à IPS. Informes divulgados no site do Dia Internacional para a Diversidade Biológica, comemorado no último dia 22, indicam que a temperatura do planeta aumentou cerca de 0,6 graus desde meados do século XIX, e prevêem mais aumentos, de até 5,8 graus, neste século.

Muitos cientistas acreditam que estas temperaturas elevadas se devem ao aumento da concentração na atmosfera de gases causadores do efeito estufa, como dióxido de carbono e metano, que absorvem e prendem a energia solar. As emissões desses gases entram na atmosfera, em parte, pela queima de combustíveis fósseis, o que Verdoorn destaca nas quatro ações que considera chave para salvar a Região Floral do Cabo: “Um, reduzir o consumo de combustível. Dois, reduzir o consumo de água. Três, reduzir o uso de eletricidade. Quatro controlar os vegetais estrangeiros e invasores”.

Segundo a organização não-governamental Earthlife Africa, a África do Sul é um importante contribuinte para a mudança climática. “Produzimos energia a partir do carvão. Carvão, carvão, carvão. É uma adição ao carvão”, disse à IPS o coordenador Richard Worthington. “A África do Sul responde por 40% das emissões totais da África, isto é, cerca de 1,5% das emissões mundiais de gases que causam o efeito estufa", acrescentou. A Cidade do Cabo pretende incentivar o aquecimento de água com energia solar, bem como a instalação de uma central nuclear adicional, a qual, segundo ambientalistas, somará emissões indiretamente através da construção da usina e extração de urânio.

“A extração de urânio é uma das operações industriais de emissão de dióxido de carbono mais intensa. Como a demanda por urânio cresce, prevê-se que essas emissões aumentem”, afirmou a ONG Amigos da Terra, com sede na Grã-Bretanha. “A África do Sul tenta justificar a instalação de uma central nuclear em nom da mudança climática. Mas, não poderá”, disse Worthington. “Penso que estamos agindo de maneira bastante irracional como país”, afirmou à IPS, por sua vez, Nol Oettle, do não-governamental Grupo de Controle Ambiental, com sede na Cidade do Cabo. Quanto às espécies estrangeiras e invasoras, Verdoon ressaltou a ameaça da acácia negra e da variedade desse arbusto conhecida como “rooikrans” (coroa vermelha). “Cobrem áreas enormes e devem ser eliminadas. Já há quem esteja fazendo isso”, acrescentou.

Entre 2005 e 2006, as autoridades de conservação locais gastaram cerca de US$ 2,5 milhões para eliminar as plantas estrangeiras em Cabo Ocidental. Verdoorn também atacou a indústria da construção. “Se queremos preservar os fynbos, devemos impedir, entre outras coisas, a instalação de complexos habitacionais e campos de golfe. Um campo de golfe usa um milhão de litros de água por dia. Isso é muito. Sem eles podemos ajudar os pobres que não têm acesso à água”, ressaltou. Os incêndios também ameaçam os fynbos.

CapeNature, a autoridade ambiental em Cabo Ocidental, disse em seu informe anual 2005/2006 que “a incidência de incêndios sem controle em delicadas áreas de fynbos continua aumentando ano a ano”. Este organismo atribui esse fato ao aumento da população, particularmente em assentamentos informais; ao aumento da temperatura e à ampliação das temporadas de incêndios florestais por causa da mudança climática, à infestação de espécies estrangeiras que proporcionam o combustível para o fogo.

“A temporada de incêndios 2005/2006 registrou mais de cem ocorrências sem controle em áreas de fynbos protegidas administradas pela CapeNature em todo o Cabo Ocidental”, diz o informe. “Os incêndios são parte essencial do ecossistema natural que sustenta e faz evoluir os fynbos”, explica o estudo. Porém, “com uma incidência cada vez maior de incêndios sem controle, há áreas que queimam reiteradamente em ciclos muito mais curtos do que ocorria naturalmente. Incêndios muito freqüentes terão conseqüências negativas e possivelmente catastróficas para o ecossistema especializado dos fynbos”, ressalta o informe da CapeNature. Verdoorn não perdeu as esperanças em relação ao reino floral do Cabo, apesar dos numerosos desafios que esta zona enfrenta. “Penso que podemos salvar os fynbos. Mas precisamos de muito trabalho e fazer com que todos se envolvam”, acrescentou.
(Por Moyiga Nduru, IPS, 30/05/2007)

 

 


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