A cheia no Pantanal não superou a de 2006 – o nível do Rio Paraguai registrou 30 centímetros para menos na régua de Ladário –, mas as fazendas continuam alagadas e a chegada do frio agravou a situação da pecuária já fragilizada. Os prejuízos de R$ 120 milhões, estimados pela Embrapa de Corumbá, tendem a se confirmar. O decreto de emergência homologado pelo Estado, anteontem, foi um alívio para os fazendeiros, mas eles reclamam da demora nas decisões governamentais.
O decreto de emergência ainda depende do aval do Governo federal para que os pantaneiros consigam mais prazos nos bancos para quitar seus financiamentos (FCO e de custeio). Eles cobram a fixação de uma linha de crédito para socorrê-los nesse período, quando o preço do gado e a mortandade em decorrência das águas não acompanham o custo elevadíssimo da fazenda. O Sindicato Rural de Corumbá estima que a produção de bezerros em 2008 terá queda de 15%.
"Régua de rio não regula a cheia e a planície ainda acumula muita água", disse o presidente do sindicato, Pedro Lacerda de Barros. "A situação continua crítica e agora o frio está liquidando nosso gado já enfraquecido". Segundo o pecuarista, os prejuízos da enchente têm efeito cascata e se acumulam nas próximas duas safras. "Quando a água baixar, vai faltar pastos; o capim apodrece, o gado come esse lodo, fica doente e acaba morrendo", explica.
Para o tradicional pecuarista Manoel Martins, a falta de uma política de governo para a pecuária do Pantanal, maior criatório de bovinos do País, hoje inviabiliza a atividade porque não há incentivos na época das águas. "Esses burocratas têm que vir aqui pisar nos campos alagados para entender que não promovemos a indústria da cheia. A situação é crítica e precisamos de apoio da nossa bancada em Brasília", cobra ele. "Vacinação, salário do peão e ração do gado não esperam nossa dívida".
Tipos de cheiaO pico da cheia neste ano, previsto para junho, antecipou-se para meados de maio. Entre os dias 14 e 23, o nível do Rio Paraguai atingiu 5,10 metros na régua de Ladário e ontem a marca registrada foi de 5,6 metros. O alerta dos fazendeiros quanto à permanência dos campos alagados tem uma explicação, segundo o hidrólogo Sérgio Galdino, da Embrapa Pantanal. Neste ano, ocorreu uma inundação mais intensa na planície por conta do volume de chuvas acima da média dos últimos 29 anos.
"As precipitações entre outubro e fevereiro, de mil milímetros, causaram a inundação de extensas áreas no interior do Pantanal, afetando ribeirinhos, colonos e fazendas", disse o pesquisador. Segundo ele, o Rio Paraguai iniciou um processo lento de vazante (chamado efeito esponja), o que deverá estender-se até o fim do ano. Nas regiões de Porto Esperança, Forte Coimbra e Porto Murtinho, a calha do rio volta ao normal somente em julho.
(Por Sílvio Andrade,
Correio do Estado, 30/05/2007)